O nome António Rolo Duarte causou polémica no início de agosto após o jovem — neto do conhecido publicitário com o mesmo nome e da primeira mulher portuguesa a assinar reportagens num jornal desportivo — queixar-se na internet de que o atraso da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) o deixou sem dinheiro para pagar um doutoramento numa universidade britânica.

Agora, a uma hora do final da campanha, o jovem já tinha ultrapassado os 25 mil euros que pedia com premissas equívocas. Às 00:21 deste sábado, 568 pessoas tinham-lhe dado 25.036 euros.

Todavia, quando a campanha começou, a FCT não tinha ainda divulgado os resultados do concurso, pelo que era impossível o jovem saber se tinha sequer direito à bolsa que dizia estar em falta. Legalmente, a FCT tem até ao início de setembro para publicar os resultados das bolsas de investigação deste ano, chegando os resultados definitivos apenas em novembro. Porém, mesmo que António Rolo Duarte tenha direito à bolsa pública, nunca a poderá receber antes de 1 de setembro de 2020.

Por essa razão, a FCT sempre desmentiu os atrasos e toda a campanha de António Rolo Duarte era vista com algum espanto. "Ele é um candidato em 3.797 candidatos. Ele, simplesmente, está a partir do pressuposto de que vai ter uma bolsa", dizia fonte da FCT ao SAPO24.

Apesar disso, o jovem conseguiu que mais de 500 pessoas reunissem mais de 25 mil euros, que deverão servir agora para pagar as propinas em Cambridge, mas também alojamento e outras despesas. Nas redes sociais, o jovem já admitiu que caso a FCT lhe venha a atribuir a bolsa, colocará "o dinheiro todo da campanha disponível para devoluções".

No entanto, mesmo que o Estado português lhe atribua uma bolsa, ela nunca terá o valor que o jovem pedia, cobrindo um valor de propinas máximo de 8 mil euros. As bolsas de Investigação para doutoramento atribuídas pela FCT têm o valor mensal de 1.064 euros para planos de estudo realizados em Portugal e de 1.865 euros para planos de estudo realizados fora de Portugal, como é este caso, com uma duração máxima de 48 meses.

Ou seja, apesar de até poder receber mais do que o valor que agora pede, esse nunca estaria disponível todo de uma vez, nem até ao final de agosto, como António Rolo Duarte pedia.

Contas feitas pelo Observador revelam que as propinas deste doutoramento a que António Rolo Duarte se candidata são de 8.589 libras, cerca de 9.500 euros.

No início do mês, a campanha gerou polémica, com críticas sobre a forma equívoca como o jovem justificava o pedido de dinheiro.

António Rolo Duarte nasceu em 1995 e fez o secundário na Austrália, antes de rumar ao Reino Unido, onde agora quer regressar para o doutoramento.

Em abril do ano passado, António criticou as instituições de ensino superior portuguesas, descrevendo-as como “trágicas” e uma “anedota”, no programa da RTP “Prós e Contras”. Entrevistado em seguida pela MAGG, o jovem foi mais longe: "Regra geral, a qualidade de ensino é baixa. Passa pela cabeça de alguém ir aprender para a Universidade de Évora? Ou para a da Beira Interior? Ou para a do Algarve? Não brinquem comigo”, disse na altura.

“Em Inglaterra, pelo contrário, encontramos dezenas de universidades fabulosas pelo País inteiro. Eu estudo em Cambridge. Mas qualquer jovem que estude em Southampton, em Exeter, em Cardiff, em Aberdeen terá uma educação espetacular. O mesmo não se passa em Portugal”, concluía.

António, filho do jornalista Pedro Rolo Duarte, chegou a ter um programa de comentário político na TVI24, a convite do anterior diretor de informação do canal de Queluz de Baixo, Sérgio Figueiredo. Na altura, dividia o programa com outro jovem: Sebastião Bugalho, antigo jornalista do i/Sol, que abandonou o jornalismo para se candidatar à Assembleia da República nas listas do CDS-PP, pelo qual não foi eleito.

Em setembro do ano passado, numa entrevista a Diana Duarte, na Rádio Observador, António Rolo Duarte anunciava que se preparava para um doutoramento em Oxford — a par de Cambridge, uma das mais prestigiadas universidades do Reino Unido.

(Artigo corrigido no dia 2 de setembro: retifica a data do fim da campanha, que sempre foi dia 28 e não 25 de agosto, como se lia numa versão anterior deste texto)