“Este não é um problema localizado em Arcos de Valdevez. É um problema até nacional. No distrito de Viana do Castelo devia ser definida uma estratégia concertada, intermunicipal. Não que os outros municípios não estejam a fazer um esforço de combate à vespa asiática, mas a metodologia de destruição dos ninhos e a regularidade com que é feita devia ser uniforme, em todos os concelhos, para que os resultados pudessem ser outros”, afirmou Luís Macedo.

Contactado pela agência Lusa, a propósito da abertura pela Câmara de Arcos de Valdevez de um novo concurso para a contratação de serviços de destruição de ninhos de vespa asiática durante todo o ano de 2022, pelo valor base de 18 mil euros, Luís Macedo, apontou uma “tendência de crescimento” do número de ninhos de vespa velutina, desconhecendo “se esse crescimento resulta de uma maior atenção da população para o fenómeno”.

“São detetados muitos ninhos, sinal de que o combate não está a ter os resultados que eram expectáveis. O que se esperava é que o número dos ninhos começasse a diminuir porque todos os que são detetado são destruídos. Era expectável que ao longo destes seis anos fossem diminuir o número de ninhos, mas não é isso que tem acontecido, antes pelo contrário”, destacou.

Em Arcos de Valdevez, o registo de destruição de ninhos daquela espécie predadora começou em 2016, com 292.

Em 2021, o número de ninhos destruídos, quase triplicou, fixando-se nos 670.

Em seis anos o município já investiu 108 mil euros na contratação de serviços externos para a exterminação da espécie.

“A tendência é para aumentar e temos de estar preparados para esse aumento e se necessário reforçar o combate. Estamos atentos para poder atuar em conformidade”, sublinhou Luís Macedo.

A espécie entrou na Europa através do porto de Bordéus, em França, em 2004.  Os primeiros indícios da presença da espécie, no distrito de Viana do Castelo, surgiram em 2011, mas a situação começou a agravar-se a partir do final do ano seguinte.

Para justificar a necessidade de uma estratégia concertada, intermunicipal, o responsável referiu que se “um concelho não tiver grande preocupação nesta questão põe em causa o sucesso da estratégia do município vizinho”.

“Por esse motivo, devia ser definida uma estratégia, pelo menos, ao nível da CIM do Alto Minho. Nesta altura, como a CIM do Alto Minho não tem nenhuma estratégia definida, cada município, tem a sua forma de atuação para tentar travar deste problema”, sublinhou.

Segundo o responsável, “há municípios que utilizam os bombeiros para destruir os vespeiros, outros, como é o caso de Arcos de Valdevez, recorre à contratação de serviços externos, e em outros concelhos são os próprios serviços municipais a fazer a destruição”.

“Desta forma não se consegue aferir o nível de eficácia do combate a esta espécie e se é idêntico em todos os concelhos. Esse objetivo devia estar garantido para salvaguardar o investimento que cada um está a fazer”, apontou.

Sugeriu a constituição de “uma única entidade” responsável pela destruição dos ninhos nos diversos concelhos, “com uma dimensão adequada, que garantisse uniformizar o combate à espécie invasora”.

Quanto ao impacto desta espécie invasora na biodiversidade do concelho, disse ser “significativo”.

“Os apicultores começaram a encontrar fórmulas de se defenderem da vespa asiática, com armadilhas para impedir a sua entrada nas colmeias, mas ainda assim é uma preocupação para o setor porque a predação é importante e diminuiu os efetivos abelha – europeia (Apis mellifera), utilizada para a produção de mel”.

“Além da predação, há uma competição acrescida pelo alimento, que é gravosa para a produção de mel”, referiu.

No concelho, “não há registo de casos mortais resultantes de um ataque da vespa asiática, mas segundo informação que chega aos serviços municipais, pelo menos, uma meia dúzia de pessoas tiveram de ser internadas na sequência de picadas daquela espécie”.

“Estes números devem ser superiores, mas não temos esses dados. A proteína do veneno da vespa asiática é mais agressiva e as pessoas com sensibilidade alérgica sofrem mais do que com a picadela da abelha autóctone”, disse.

Luís Macedo assegurou terem ocorrido “situações complicadas, de pessoas que ficaram em estado grave por insuficiência respiratória”.

“É uma reação alérgica forte que pode levar à morte. Mas nos casos que tivemos conhecimento foi necessário internamento hospitalar, mas felizmente os ataques não resultaram em mortes” associados a esta espécie.

As novas colónias (sendo que uma fundadora dá origem a uma colónia) surgem de fevereiro a maio e entre junho e novembro regista-se a maior pressão das vespas sobre as abelhas, atividade que se associa ao crescimento dos ninhos ou vespeiros.

A vespa velutina é uma espécie asiática com uma área de distribuição natural pelas regiões tropicais e subtropicais do Norte da Índia ao leste da China, Indochina e ao arquipélago da Indonésia.

Os principais efeitos da presença desta espécie não indígena manifestam-se não só na apicultura, por se tratar de uma espécie carnívora e predadora das abelhas, mas também para a saúde pública, porque, embora não sendo mais agressivas do que a espécie europeia, reagem de modo mais agressivo se sentirem os ninhos ameaçados, podendo fazer perseguições até algumas centenas de metros.

A destruição dos ninhos ocorre sempre quando cai a noite, período em que as vespas fundadoras estão no interior das colmeias.

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