As medidas principais incluem o congelamento dos preços de 60 produtos da cesta básica de alimentos por seis meses, o congelamento de tarifas nos serviços de gás, eletricidade, transportes públicos e portagens, o congelamento nos planos básicos de telefonia móvel, além de descontos em medicamentos, roupas, eletrodomésticos e materiais de construção para reformados e segmentos vulneráveis da população.
Haverá ainda preços reduzidos para determinados cortes de carne, além de créditos subsidiados para a casa própria, bem como alívios fiscais para as pequenas e médias empresas, as que mais empregam e as que mais dificuldade têm para pagar impostos.
As medidas foram anunciadas um dia depois de ter sido divulgada uma alta de 4,7% na inflação de março, uma taxa mensal mais elevada do que a taxa anual de inflação nos países vizinhos.
No primeiro trimestre, a inflação acumulada na Argentina chegou a 11,8%. Nos últimos doze meses, o cúmulo chegou a 54,7%, o mais elevado desde 1991 e que coloca a Argentina com a segunda maior inflação na América Latina depois da Venezuela.
Em boa parte, a inflação argentina vem da alta do dólar, referência para o sistema financeiro e termómetro usado pelos argentinos sobre a saúde da economia.
Por essa razão, o Banco Central acaba de anunciar o congelamento da taxa de câmbio fixada com o Fundo Monetário Internacional.
A taxa, que tinha um reajuste mensal de 1,75%, ficou congelada entre os 39,75 pesos e os 51,45 pesos por dólar.
Dentro dessa faixa, o Banco Central não intervirá no mercado para conter o dólar. As medidas tiveram impacto imediato positivo e o dólar caiu 1,52%, para 42,72 pesos.
Analistas políticos coincidem na avaliação de que a inflação é o calcanhar de Aquiles do Presidente Mauricio Macri, que sofre uma rápida quebra da sua popularidade.
As medidas de congelamento de preços e de tarifas terão uma duração de seis meses, exatamente o tempo que resta até as eleições presidenciais de 27 de outubro nas quais Macri concorrerá à reeleição
“O que mais dano nos provoca é a inflação. Fizemos o que havia de ser feito para derrotar a inflação mas, no curto prazo, está difícil”, reconheceu Macri, para quem as medidas são “um alívio” face à recessão enquanto a reativação da economia não chega.
“Tomamos medidas para gerar um alívio. São ferramentas para o curto prazo até que as questões de fundo funcionem”, explicou Macri num vídeo divulgado nas redes sociais, no qual visitava uma eleitora que se queixava da dificuldade de poder pagar os bens mais básicos.
Logo após a divulgação do vídeo, os ministros do Desenvolvimento Social, Carolina Stanley, da Produção, Dante Sica, e da Economia, Nicolás Dujovne, deram uma conferência de imprensa na residência presidencial de Olivos.
“Para transitar melhor os próximos meses e para aliviar o bolso das famílias argentinas, não haverá aumentos. São medidas abrangentes”, anunciou Nicolás Dujovne.
“Há uma situação de angústia, de conseguir chegar até o final do mês. As medidas trazem alívio a essas famílias”, acrescentou Carolina Stanley.
O analista político Rosendo Fraga definiu o pacote como “emergência política”.
“Estas medidas não são uma política de Estado. São um plano de emergência”, sintetizou.
“O cronograma eleitoral teve influência nas medidas. A inflação é o problema económico que mais afeta as pessoas e o que mais pode impactar eleitoralmente. Como estava a situação, a reeleição de Macri era bem difícil. O Presidente toma essas medidas para tentar aumentar a sua possibilidade de reeleição”, observou.
“A taxa de inflação dos próximos seis meses será a chave do sucesso ou do fracasso de Macri”, concluiu Rosendo Fraga.
Ciente dessa encruzilhada, o Presidente Mauricio Macri cancelou a viagem que tinha agendado a partir de 26 de abril à Bélgica, França e Suíça, para poder acompanhar de perto a aplicação das novas medidas.
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