Após um dia dominado por uma greve convocada pela confederação sindical Histadrut, Netanyahu pediu "perdão" aos familiares dos reféns encontrados mortos em Gaza e enterrados no domingo e nesta segunda-feira.

"Peço perdão por não tê-los trazido vivos. Estivemos perto, mas não conseguimos", declarou o primeiro-ministro israelita durante uma conferência de imprensa incomum. O movimento islamista palestiniano Hamas, que governa Gaza, "pagará um preço muito alto", acrescentou.

A morte dos reféns, anunciada no domingo, levou milhares de pessoas às ruas e desencadeou uma greve geral em Israel, numa tentativa de aumentar a pressão sobre a presidência para que um acordo com o Hamas seja fechado.

"Estes assassinos executaram seis dos nossos reféns com um tiro na nuca", continuou Netanyahu. "O Hamas precisa de fazer concessões" nas negociações, insistiu, em referência à exigência de Israel de manter tropas no corredor da Filadélfia, ao longo da fronteira entre Egito e Gaza.

Abu Obeida, porta-voz das brigadas Ezzedine Al-Qassam, braço armado do Hamas, advertiu que os reféns israelitas que ainda estão detidos em Gaza regressarão "em caixões" se Israel mantiver a sua pressão militar.

Já foram dadas "novas instruções" aos guardas dos reféns caso os soldados israelitas se aproximem deles, acrescentou em comunicado.

O grupo islamista, considerado uma organização "terrorista" por Israel, Estados Unidos e União Europeia, divulgou nesta segunda-feira um vídeo em que um dos seis reféns falecidos aparece ainda vivo.

Há meses que Qatar, Egito e Estados Unidos, mediadores no conflito, tentam convencer o Hamas e Israel a fechar um acordo de cessar-fogo que inclua a libertação de reféns e prisioneiros palestinianos detidos por Israel.

Um dos principais pontos de discordância é a manutenção de tropas israelitas no corredor da Filadélfia. O movimento islamista, no entanto, exige que todas as forças israelitas deixem o território palestiniano.

Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, aumentou nesta segunda-feira a pressão sobre Netanyahu. Perante a pergunta de um jornalista sobre se o primeiro-ministro israelita estava a fazer o suficiente para conseguir um acordo de liberação de reféns, Biden respondeu com um perentório "não".

O governo trabalhista britânico, por sua vez, anunciou que suspenderá 30 das 350 licenças de exportação de armas para Israel, com base num "risco claro" de que podem ser usadas em violações ao direito humanitário internacional. "Estou profundamente decepcionado ao saber das sanções impostas" por Londres, reagiu o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, na rede social X.

Em Israel, a continuação da greve convocada nesta segunda-feira pela Histadrut não foi igual em todos os lugares. Enquanto Tel Aviv e Haifa aderiram à mobilização, o mesmo não ocorreu em Jerusalém e Ashkelon.

Após um pedido do ministro ultradireitista das Finanças, Bezalel Smotrich, um tribunal do trabalho ordenou, no entanto, o fim da greve, alegando que era "política". O sindicato só está autorizado a convocar greves por motivos económicos e de direitos dos trabalhadores.

A guerra na Faixa de Gaza começou a 7 de outubro, quando um ataque de combatentes do Hamas em Israel causou a morte de 1.205 pessoas, na sua maioria civis, segundo um levantamento baseado em números oficiais israelitas.

Além disso, os combatentes islamistas sequestraram 251 pessoas: 97 continuam em cativeiro em Gaza e 33 morreram, segundo o Exército israelita.

Em resposta ao ataque, Israel prometeu destruir o Hamas e lançou uma vasta retaliação que já deixou 40.786 mortos na Gaza, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, governada pelo Hamas.

Em Gaza, começou uma campanha de vacinação contra a pólio, graças à implementação de "pausas humanitárias" entre as 6h e as 14h, durante três dias, em vários pontos do território palestiniano. O objetivo é imunizar mais de 640.000 crianças menores de 10 anos.

Por outro lado, Israel continua com a sua operação militar na Cisjordânia, um território palestiniano separado da Faixa de Gaza e ocupado pelos israelitas desde 1967.

A operação começou na quarta-feira e, até agora, já resultou na morte de pelo menos 26 palestinianos, na sua maioria combatentes, segundo o Ministério da Saúde palestiniano. Para o Exército israelita, todos eram "terroristas".

Tanto o Hamas quanto a sua aliada, Jihad Islâmica, outro grupo armado, declararam que pelo menos 14 dos mortos lutavam nas suas fileiras.