“Estamos a falar com vários advogados para ver como proceder com a queixa para que isso não volte a acontecer com os cidadãos portugueses”, disse à agência Lusa Ksenia Ashrafullina, uma das organizadoras da manifestação anti-Kremlin e uma das afetadas pela troca de dados entre a autarquia de Lisboa e a embaixada da Rússia.

Na mensagem por escrita enviada à Lusa, Ksenia Ashrafullina afirmou que recebeu o pedido de desculpas do presidente da Câmara de Municipal de Lisboa, Fernando Medina, considerando ser o correto.

A Câmara de Lisboa fez chegar às autoridades russas os nomes, moradas e contactos de três manifestantes russos que, em janeiro, participaram num protesto, em frente à embaixada russa em Lisboa, pela libertação de Alexey Navalny, opositor daquele Governo.

Numa conferência de imprensa para explicar o envio para a embaixada da Rússia de dados pessoais de três ativistas russos, Fernando Medina disse que pediu “desculpas públicas” pela partilha de dados de ativistas russos em Portugal com as autoridades russas, assumindo que foi “um erro lamentável que não podia ter acontecido”.

“Quero fazer um pedido de desculpas público aos promotores da manifestação em defesa dos direitos de Navalny, da mesma forma que já o fiz à promotora da manifestação. Quero assumir esse pedido de desculpas público por um erro a todos os títulos lamentável da Câmara de Lisboa”, disse Fernando Medina, considerando que este “erro não podia ter acontecido”.

Em declarações à RTP, um outro ativista russo, Pavel Eliazarov, que tem o estatuto de asilo político em Portugal desde 2014, considerou que é importante “perceber quem é o responsável” para garantir que situações destas não voltem a acontecer.

“Sentia-me protegido por Portugal, agora foi um choque por causa desta situação dos dados. Estava protegido por um Estado, mas o mesmo estado que me deu proteção envia os meus dados para o estado onde eu fugi”, disse Pavel Eliazarov, que não se manifestou “muito preocupado que o Governo russo conheça que está a organizar manifestações em Lisboa”.

O ativista, que afirma não regressar à Rússia nos próximos tempos, sublinhou que ainda se sente protegido em Portugal e que o aconteceu “foi um erro técnico e não tinha como intenção interagir com o governo russo”.

“Mas isso aconteceu e deve ter consequências”, precisou, admitindo que há “muito receio” entre ativistas que estiveram presentes na manifestação, estando muitos deles preocupados com os familiares que vivem na Rússia.

Pavel Eliazarov explicou ainda que ficaram a saber da partilha de dados antes da manifestação, uma vez que em janeiro Portugal estava em confinamento e estavam proibidas as circulações entre concelhos e foi preciso pedir autorização às autoridades de saúde.

“A resposta deles é que tinham os nossos dados”, disse, acrescentando que foi aí que se aperceberam que o email enviado para a câmara de Lisboa sobre a comunicação da manifestação foi também direcionado para a embaixada e para o ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia.

O presidente da câmara de Lisboa disse também que a câmara de Lisboa “já tirou consequências desta situação” e alterou procedimentos.

Associação quer garantias de que não serão revelado dados dos ucranianos em Portugal

O presidente da Associação dos ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha, exigiu hoje à câmara de Lisboa garantias de que os dados pessoais de cidadãos daquele país não serão revelados como aconteceu com os ativistas russos.

Numa carta dirigida ao presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, Pavlo Sadokha, exige, “garantias de que o mesmo [que aconteceu com três ativistas russos] não será feito com os cidadãos ucranianos”.

A preocupação do líder da associação prende-se, concretamente, com os conterrâneos que organizaram em Lisboa “numerosas manifestações contra a agressão russa e contra a anexação da Crimeia”, pode ler-se na carta a que a agência Lusa teve acesso.

A Câmara de Lisboa fez chegar às autoridades russas os nomes, moradas e contactos de três manifestantes russos que, em janeiro, participaram num protesto, em frente à embaixada russa em Lisboa, pela libertação de Alexey Navalny, opositor daquele Governo.

A posição foi assumida depois de terem sido divulgadas notícias “sobre a revelação dos dados pessoais dos organizadores das manifestações em frente à embaixada russa em Lisboa”, sublinha o mesmo responsável.