O Banco de Bens Doados (BBD) apoiou no ano passado 2.108 instituições particulares de solidariedade social (IPSS), que por sua vez apoiam mais de 800 mil pessoas.

“Acabamos por ter a consciência de que os bens que recebemos aqui acabam por chegar, direta ou indiretamente, a 7% da população e isso é gratificante”, diz à Lusa o coordenador-geral da instituição, Afonso Pinheiro.

No ano passado chegaram ao BBD cerca de 600 toneladas em produtos, 250 delas de artigos elétricos e eletrónicos.

“Recebemos todo o tipo de produtos não alimentares, desde têxtil até a produtos de higiene e limpeza, papelaria, mobiliário, e depois temos também o Banco de Equipamentos que é a área onde recebemos todos os produtos elétricos e eletrónicos”, sintetiza Afonso Pinheiro.

O BBD, explica, surgiu também da luta contra o desperdício, com base nas ofertas não alimentares que o Banco Alimentar Contra a Fome recebia. É um banco não alimentar, para aproveitar esse tipo de bens e reencaminha-los para instituições de solidariedade social.

Num armazém com quatro mil metros quadrados em Alcântara, Lisboa, que concentra os dois bancos (bens doados e equipamentos), há exaustores de cozinha, fornos e frigoríficos, na maior parte das vezes novos, máquinas de costura, torradeiras e máquinas de café, conjuntos de ferramentas, aquecedores e ventoinhas, aspiradores e fritadeiras de ar quente.

E depois uma pilha de computadores com quatro anos e acabados de chegar, depois 421 paletes que chegaram em janeiro com roupa nova, que já está pronta para ser distribuída. E produtos de limpeza, e de higiene, e fraldas, e brinquedos.

O BBD foi criado no âmbito da organização Entrajuda, uma IPSS que junta voluntários para apoiar as instituições de solidariedade social no combate à pobreza.

“O maior valor da Entreajuda é a nossa base de dados. Nós temos mais de 5.000 instituições inscritas e que preenchem o território nacional (…) e apoiamos cerca de 2.000 por ano”, explica Afonso Pinheiro, especificando que no Banco de Equipamentos a equipa trabalha com todo o tipo de produtos elétricos e eletrónicos, sendo todos eles triados, testados, reparados se for o caso, atualizados também, e depois enviados para as IPSS.

Afirmando que particulares e não só empresas podem doar equipamentos (ou outros produtos), Afonso Pinheiro deixa mais um número: “no ano passado entregámos 2.000 computadores a instituições de solidariedade social, que depois os utilizaram para a sua operação diária ou os encaminharam para utentes”.

Um computador que já não serve para um gestor se calhar serve para consultas no google de idosos de um lar, diz Afonso Pinheiro.

Eduardo Sousa, engenheiro informático, explica que os computadores que ali chegam são primeiro sujeitos a uma triagem visual. “Tudo o que sejam equipamentos muito antigos, que não reúnem condições para a instalação do sistema operativo” vão para reciclar, “tudo o que conseguimos reaproveitar segue outro tipo processo”.

O processo, continua, é verificar se há anomalias, completar o computador se faltarem componentes, depois instalar o sistema operativo, fazer testes e licenciar a máquina, que fica pronta para distribuição.

Eduardo Sousa frisa que um computador tem um ciclo de vida empresarial de três a quatro anos, mas pode não ser velho para outros meios que não empresariais, e lembra o “ano nada parado” da pandemia, quando o banco distribuiu muitos computadores até para escolas.

Afonso Pinheiro garante que ali as quotas de reutilização são muito elevadas.

Ao banco chegam também monitores, ratos e teclados, ou, mais por parte de particulares, impressoras, consolas de jogos e telemóveis.

E peças antigas, as suficientes para o banco criar um museu, com rádios a válvulas, gravadores de cassetes, máquinas de filmar, exemplares dos primeiros computadores como o “Commodore amiga” e o “ZX Spectrum”. O banco vai “evoluir no museu da eletrónica e criar um museu virtual, onde quem tenha uma peça de interesse a possa colocar”, diz Afonso Pinheiro.

Mas o que o banco recebe essencialmente é equipamentos novos e seminovos, até porque as empresas, diz, têm cada vez mais uma preocupação de responsabilidade social e de economia circular.

João Romana, encarregado de armazém no BBD, aponta os contentores de detergentes, de roupas (a marca Nike entrega ali restos de coleção do Reino Unido, por exemplo) e calçados, de têxteis de lar. “O que os doadores costumam dar é tudo novo”, diz, apontando as pilhas de roupas separadas para integrarem uma distribuição que este mês e em maio vão fazer para as IPSS.

Nos quatro mil metros quadrados de Alcântara começa o ciclo de recuperação de toneladas de produtos não alimentares, que vão depois para todo o país. Mas são também um local onde se recuperam pessoas, diz ainda Afonso Pinheiro à Lusa.

Porque o BBD é uma “porta de entrada no mercado de trabalho” ao receber voluntários que chegam da reinserção social, de trabalho cívico, alunos em situação de abandono escolar. E são pessoas, diz, que “não só aprendem uma profissão como se calhar acabam a descobrir ali uma paixão”.

Afonso Pinheiro já descobriu a sua. “O nosso lema vai ser sempre ir buscar onde sobra, neste caso as empresas, para distribuir onde falta, neste caso as IPSS e os seus utentes”.

*** Fernando Peixeiro (Texto), Tiago Petinga (Foto) e Pedro Lapinha (vídeo), Agência Lusa ***