“A Autoeuropa é uma empresa importante para a economia do país. Esperava ouvir mais da parte do Governo, mais da parte do primeiro-ministro, mas também mais responsabilidade da parte da própria empresa. A Autoeuropa é uma empresa que recebeu muitos apoios do Estado ao longo dos últimos anos, tem uma importância imensa na economia portuguesa e para o trabalho de toda uma região do distrito de Setúbal”, disse Mariana Mortágua, em declarações aos jornalistas, após uma reunião com a coordenadora das Comissões de Trabalhadores (CT), em Setúbal.
Mortágua frisou que “é o Estado que paga uma parte do `lay-off´, as responsabilidades e os custos de uma opção que foi tomada pela Autoeuropa”, considerando que se a empresa escolhe este modelo de gestão, “tem de assumir responsabilidades e tem uma responsabilidade social para com os trabalhadores, para com o país e para com o Estado, de quem já recebeu muitos apoios”.
O modelo de gestão de stocks Just In Time, utilizado pela Autoeuropa e pela maioria das grandes empresas, prevê que os fornecedores façam a entrega de componentes para produção na hora exata, dispensando a necessidade de uma grande capacidade de armazenamento na fábrica, o que permite reduzir custos.
Para a coordenadora do BE, “é preciso que o `lay-off´ do Estado e pago pelo Estado seja complementado até 100% [do salário], para que nenhum dos cerca de 10 mil a 12 mil trabalhadores das empresas do parque industrial seja afetado por esta paragem temporária que resulta de uma opção da Autoeuropa”.
Em segundo lugar, acrescentou, “tem de haver uma preocupação muito especial com os trabalhadores que têm vínculos temporários, que estão em risco de despedimento, e que também podem estar em risco de não ter acesso ao subsídio de desemprego”.
“É preciso garantir que os trabalhadores não perdem poder de compra, ainda mais numa altura com inflação e com os preços tão altos. É preciso garantir que os trabalhadores temporários têm exatamente o mesmo tratamento, os mesmos direitos, que têm os trabalhadores efetivos. É precisamente para explicar a posição do Estado nesta matéria que o Bloco de Esquerda já entregou um requerimento para ouvir a ministra do Trabalho e o ministro da Economia, que devem explicações ao país”, acrescentou Maria Mortágua.
”A Autoeuropa é uma empresa muito importante que recebeu muito dinheiro do Estado português para se manter aqui. É uma empresa que emprega mais de 12.000 pessoas, diretamente ou indiretamente”, sublinhou a coordenadora do BE, reiterando a ideia de que “há uma componente de responsabilidade social que é enorme e que não pode ser descurada”.
O Governo anunciou segunda-feira que está a estudar soluções para dar resposta aos problemas resultantes da paragem de produção na Autoeuropa e que tem prevista para hoje uma reunião com a coordenadora das CT do parque industrial da Autoeuropa, com a presença da ministra do Trabalho.
O coordenador das CT do parque industrial da Autoeuropa Daniel Bernardino, apesar da preocupação com a paragem de produção na fábrica da Volkswagen de Palmela, diz ter informações de que a paragem poderá não ser tão prolongada como estava previsto inicialmente (até 12 de novembro), mas reconheceu que dificilmente a empresa conseguirá recuperar a produção de veículos prevista até final do ano.
A Autoeuropa iniciou segunda-feira uma paragem de produção de nove semanas devido às dificuldades de um fornecedor da Eslovénia, que foi severamente afetado pelas cheias que ocorreram no início do mês de agosto naquele país.
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