"Se entrarem em Rafah — ainda não o fizeram — não fornecerei as armas que têm sido utilizadas [...] contra as cidades", disse Biden em entrevista à CNN.
"Não vamos fornecer as armas e projéteis de artilharia que têm sido utilizados" na guerra de Israel contra o grupo islamista Hamas na Faixa de Gaza, afirmou.
"Houve civis mortos em Gaza como resultado destas bombas" e isso "está errado", respondeu quando perguntado pelo canal sobre a suspensão na semana passada da entrega de um carregamento de bombas a Israel.
Esta é a primeira vez que o democrata de 81 anos impõe publicamente condições ao apoio militar dos Estados Unidos a Israel, um aliado-chave no Médio Oriente.
No entanto, Biden assegurou que os Estados Unidos continuarão "a garantir que Israel esteja protegido pela Cúpula de Ferro", o seu escudo de defesa antiaérea.
Perguntado sobre a operação militar que Israel lançou em Rafah, cidade no sul da Faixa onde mais de um milhão de palestinianos se refugiaram, Biden disse que não afetava "centros de população", sugerindo assim que não se tratava de uma ofensiva de grande escala que exigisse uma reação da sua parte.
"Deixei claro a 'Bibi' e ao gabinete de guerra: não contarão com o nosso apoio se de facto atacarem esses centros populacionais", afirmou o presidente americano, referindo-se ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, pelo seu apelido.
Em declarações a um comité do Congresso, o secretário de Defesa, Lloyd Austin, confirmou que na semana passada foi congelado o envio de 1.800 bombas de 907 kg e outras 1.700 de 226 kg.
Biden assumiu o papel de defensor de Israel após o ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro, mas a sua relação com Netanyahu deteriorou-se.
Naquele dia, membros do grupo islamista mataram 1.170 pessoas, na maioria civis, e sequestraram cerca de 250, segundo autoridades israelitas.
Israel estima que, após uma troca de reféns por prisioneiros palestinianos em novembro, 128 pessoas permanecem detidas em Gaza, das quais 36 terão morrido.
Israel lançou uma ofensiva de retaliação que já deixou 34.844 mortos em Gaza, em sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas desde 2007.
Resta agora compreender qual será o efeito do aviso dos Estados Unidos. Jon Alterman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) em Washington, estima que o descontentamento americano certamente influencia, mas "os israelitas também estão a fazer os seus próprios cálculos".
Outro especialista, Raphael Cohen, do centro de pesquisa RAND, acredita que "apesar da retórica de Netanyahu, Israel está a levar muito a sério a pressão americana". Ele cita como exemplo a abertura de vários postos fronteiriços na Faixa de Gaza sob pressão de Washington, o último deles em Kerem Shalom.
"Dito isso, acho que será difícil para Netanyahu abandonar completamente a operação em Rafah", acrescenta.
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