A Associação Bielorrussa de Jornalistas denunciou os bloqueios dos sites, que incluíram o portal na internet da Rádio Liberty e Belsat, um canal de televisão por satélite financiado pela Polónia. A gráfica estatal também não imprimiu dois jornais independentes de topo, o Narodnaya Volya e o Komsomolskaya Pravda, justificando ter sofrido uma avaria de equipamento.

Centenas de mulheres vestidas de branco formaram hoje uma cadeia humana em Minsk, como forma de protesto. Outra manifestação com início ao princípio da noite contou com a presença de 3.000 pessoas.

"Ameaças, intimidação, bloqueio já não funcionam. Centenas de milhares de bielorussos estão a dizer-lhe de todos os cantos e praças que se vá embora", disse à agência Associated Press Anna Skuratovich, uma das mulheres participantes na cadeia.

Os manifestantes dizem estar cansados com o declínio do nível de vida do país e estão particularmente descontentes com a forma como o governo de Lukashenko tem gerido a pandemia do coronavírus, bem como com décadas de repressão da dissidência política.

"Lukashenko não pode propor nada a não ser lágrimas pela URSS e proibições", disse à AP Tatian Orlovich, um participante nos protestos desta noite.

Lukashenko tem acusado o ocidente, nomeadamente os Estados Unidos, de estar por detrás dos protestos e a NATO de destacar forças para perto da fronteira ocidental da Bielorrússia, acusação que a Aliança Atlântica já negou.

O líder bielorrusso, de 65 anos, reiterou hoje a acusação durante uma visita a um exercício militar na região de Grodno, junto às fronteiras da Polónia e da Lituânia.

"Vejam que já deslocaram para aqui o 'presidente alternativo'", disse o chefe de Estado bielorrusso, referindo-se à candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, que se encontra exilada na Lituânia. "O apoio militar é evidente [como mostra] o movimento das tropas da NATO para as fronteiras".

Pouco depois, Lukashenko falou a uma manifestação de vários milhares de apoiantes em Grodno, onde ameaçou encerrar fábricas que ainda estão em greve a partir de segunda-feira. As greves atingiram algumas das principais empresas do país, incluindo fabricantes de veículos e de fertilizantes, um golpe para uma economia largamente controlada pelo Estado, que se debate com graves problemas há anos.

Esta sexta-feira, as autoridades bielorrussas ameaçaram os manifestantes com acusações criminais, numa tentativa de impedir os protestos, e convocaram vários ativistas da oposição para serem interrogados no âmbito de uma investigação criminal à criação de um conselho destinado a coordenar uma transição de poder na antiga república soviética de 9,5 milhões de pessoas.

A crise na Bielorrússia dura desde as eleições de 09 de agosto, em que o Presidente Alexander Lukashenko, no poder há 26 anos, recebeu 80% dos votos, de acordo com os resultados oficiais, que o mandatam para um sexto mandato.

A principal candidata da oposição, Tikhanovskaya, diz-se vítima de fraude eleitoral, e não aceita a atribuição de apenas 10% dos votos pela Comissão Eleitoral.

Milhares de bielorrussos têm saído diariamente às ruas por todo o país para exigir o afastamento de Lukashenko.

Os protestos têm sido duramente reprimidos pelas forças de segurança, com quase 7.000 pessoas detidas, dezenas de feridos e pelo menos três mortos.