O Vaticano publicou um comunicado esta quinta-feita, assinado pelo Prefeito e pelo secretário do Dicastério para a Doutrina da Fé, em que pretende responder às polémicas levantadas pela Declaração “Fiducia Supplicans”.

Nos dias seguintes, algumas pessoas dentro da Igreja Católica mostraram-se contrárias à decisão. Por exemplo, os bispos moçambicanos anunciaram ter decidido que “não se dê bênção” às “uniões irregulares e uniões do mesmo sexo”, apesar da decisão contrária anunciada pelo Vaticano. Angola e São Tomé tomaram a mesma posição.

Contudo, o documento que agora surge refere que os bispos podem discernir a aplicação da bênção, “segundo os contextos locais”, mas não pode surgir “uma negação total ou definitiva deste caminho que é proposto aos sacerdotes”.

Assim, a Igreja reconhece que pode haver a necessidade de “um período mais longo de reflexão pastoral”, mas garante que a declaração não é “herética, contrária à tradição da Igreja ou blasfema”.

O comunicado explica ainda que, nos países em que a homossexualidade é considerada crime, as conferências episcopais não devem sustentar “uma doutrina diferente daquela da Declaração aprovada pelo Papa”. Em alternativa, devem apostar  na "necessidade do estudo e do discernimento para agir com prudência pastoral".

Nesse sentido, a Santa Sé pede o "devido respeito por um texto assinado e aprovado pelo próprio Sumo Pontífice, procurando acolher a reflexão nele contida" e frisa novamente que "as bênçãos pastorais não se podem equiparar às liturgias nem às rituais".

Segundo a declaração "Fiducia supplicans", um ministro ordenado pode aceder ao pedido de duas pessoas para serem abençoadas, mesmo que a sua condição de casal seja "irregular". Contudo, este gesto de proximidade pastoral não pode conter elementos minimamente semelhantes a um rito matrimonial.

Com isto, o documento aprofunda o tema das bênçãos, distinguindo entre as bênçãos rituais e litúrgicas e as bênçãos espontâneas, mais próximas dos gestos de devoção popular.

"A presente declaração mantém-se firme no ensinamento tradicional da Igreja sobre o matrimónio, não permitindo qualquer tipo de rito litúrgico ou bênção semelhante a um rito litúrgico que possa causar confusão", pode ler-se.

Assim, surge "a possibilidade de abençoar os casais em situação irregular e os casais do mesmo sexo, sem validar oficialmente o seu estatuto nem alterar de modo algum o ensinamento perene da Igreja sobre o Matrimónio".