Segundo a análise do observatório, uma rede de 37 entidades da sociedade civil brasileira formada para discutir mudanças climáticas, o Brasil deverá assim contrariar a tendência mundial, tendo em conta que a recessão global criada pela covid-19 deverá causar uma redução nas emissões de gases de efeito estufa na ordem dos 6% em 2020.
O forte aumento da desflorestação na Amazónia este ano deverá desequilibrar os valores esperados pela queda das emissões no setor de energia e na atividade industrial, assim como da redução da desflorestação que vem sendo verificada no Cerrado [conhecido como “savana brasileira”], de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg) do Observatório do Clima.
Segundo o documento, considerando a média dos últimos cinco anos, as emissões decorrentes da desflorestação em 2020 serão 29% superiores às registadas em 2018 – último ano com dados disponíveis.
“Porém, a Amazónia pode terminar 2020 com 14,5 mil quilómetros quadrados desflorestados e emissões 51% maiores do que em 2018″, frisa o relatório, esclarecendo que a desflorestação é medida de agosto de um ano a julho do ano seguinte.
Outro fator de aumento nas emissões de gases de efeito estufa no Brasil é a redução no consumo de carne. Em abril, os abates de bovinos caíram 20%, o que pode significar um ligeiro acréscimo nas emissões do setor. A redução nos abates significa que há mais animais no pasto e, portanto, mais emissões.
“A pecuária responde sozinha a 20% das emissões do Brasil, sobretudo devido ao metano emitido pelo rebanho bovino”, indicou o Observatório do Clima.
Em 2018, o Brasil emitiu 1,9 mil milhões de toneladas brutas de CO2 – dióxido de carbono. A expectativa do observatório é de que as emissões em 2020 oscilem entre 2,1 mil milhões e 2,3 mil milhões de toneladas brutas, a depender do avanço da desflorestação da Amazónia.
“Isso desviaria o país tanto do cumprimento da Política Nacional de Mudança do Clima, que tem meta de emissões decrescentes para 2020, quanto do Acordo de Paris, que prevê emissões de 1,3 mil milhões de toneladas brutas de CO2 para 2025″, segundo a organização.
“O efeito da pandemia é a redução das emissões no mundo inteiro. Mas, no Brasil, temos a maior parte das emissões vinculadas a mudanças do uso da terra, que não estão vinculadas à covid-19″, afirmou Tasso Azevedo, coordenador do Seeg.
O Observatório do Clima responsabiliza o Governo do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, pela aceleração da desflorestação e do consequente aumento das emissões de gases de efeito estufa, acusando o executivo de “estimular o crime ambiental” e reduzir a fiscalização.
“O Brasil tornou-se numa ameaça ao Acordo de Paris, num momento em que precisamos, mais do que nunca, de avançar na estabilização do clima, para evitar uma outra grave crise de proporções mundiais”, defendeu Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
A área desflorestada na Amazónia brasileira em abril foi de 529 quilómetros quadrados, representando um aumento de 171% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazónia (Imazon).
A informação foi recolhida pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, instituto que não tem ligação ao Governo brasileiro, que acrescentou que, entre o período de janeiro a abril de 2020, a desflorestação acumulada foi de 1.073 quilómetros quadrados, num aumento de 133% face ao mesmo período de 2019, quando a desflorestação totalizou 460 quilómetros quadrados.
Os números apresentados pelo Imazon contrastam com os dados divulgados no início do mês pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, ligado ao Governo Federal), que relatou um aumento de 63,75% em abril, face ao mesmo mês do ano passado.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de cinco milhões e meio de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (território pertencente à França).
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