O tema do ‘Brexit’ esteve em debate na sessão plenária do Parlamento Europeu (PE), que decorre até quinta-feira na cidade francesa de Estrasburgo, tendo a assembleia europeia aprovado uma nova resolução na qual reitera a sua recusa em aceitar um acordo de saída que não inclua um mecanismo de salvaguarda para a fronteira irlandesa, bem como o seu apoio a um novo adiamento da data.

Falando aos jornalistas no final da aprovação do documento, o eurodeputado do PS Pedro Silva Pereira, que também integra do grupo diretor do PE para este processo, observou que a resolução aprovada representa “uma decisão importante que ajudará, também, o Conselho a tomar decisões, uma posição a favor de uma extensão do Artigo 50.º, quer dizer, de um adiamento do ‘Brexit’”.

“Esse é o passo que é necessário para evitar o cenário catastrófico de uma saída sem acordo”, notou.

Ainda assim, admitiu que “não há nenhuma razão para ser otimista quanto à negociação que está em curso" porque o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, "embora diga que quer chegar a um acordo, até hoje não apresentou uma única proposta escrita para esse tal acordo que quer alcançar nos próximos dias".

"Isso não é sério”, disse o eurodeputado socialista, para quem a atitude de Londres mostra que o Reino Unido “está a trabalhar num cenário de uma saída sem acordo”.

Posição semelhante manifestou Paulo Rangel, do PSD, que notou existir no governo de Boris Johnson “uma vontade de sair sem acordo”.

“Estamos a mês e meio do prazo de 31 de outubro e não existe, da parte inglesa, nenhum movimento a apresentar propostas. Aparece na imprensa que vão apresentar propostas à última da hora […], mas isso parece-me mais uma espécie de artifício porque estamos a andar de semana em semana a esperar progressos sem serem apresentadas propostas para remediar ou para substituir o chamado ‘backstop’”, elencou.

Para a bloquista Marisa Matias, este é já “um processo muito difícil de classificar”.

“Há uma questão que, para nós, é fundamental: a UE não pode decidir pelos cidadãos britânicos, de nenhuma forma, mas também não podemos permitir que haja uma tentativa de saída sem garantir os direitos dos cidadãos de forma decente e isso não está a acontecer”, lamentou.

A eurodeputada do BE considerou que tal “não está a ser salvaguardado, nem pela teimosia europeia de poder permitir o alargamento sem querer alterar os termos da negociação, nem pela teimosia britânica, que insiste no risco de uma saída sem acordo”.

O centrista Nuno Melo argumentou que “o que mais se sublinha [neste processo] é, infelizmente, o comportamento errático do poder político britânico e a profunda divisão de uma sociedade que, em relação a uma decisão que é estratégica para o Reino Unido e também para a UE, tarda, e em relação à qual é muito difícil antecipar o que realmente vai acontecer”.

“O meu desejo é que o Reino Unido possa permanecer, o que passará por um novo processo eleitoral e por um novo referendo”, adiantou.

Para o eleito do PAN, Francisco Guerreiro, está em causa “uma irresponsabilidade política que afeta a vida de milhares de pessoas e de milhares de empresas”.

“Vemos, mais uma vez, irresponsabilidade política [por parte do Reino Unido] ao não querer negociar e sentar-se à mesa com os líderes europeus para que se consiga protelar este ‘hard Brexit’ e assim tentar, com suavidade (...) sair, se eles assim o quiserem”, acrescentou o eurodeputado.

Já o eleito do PCP João Ferreira observou que o debate hoje realizado no PE foi feito num “tom muito confrontacional e até desrespeitoso”.

“Podemos ter opiniões diferentes sobre a decisão que foi tomada, mas foi uma decisão soberana, tomada de forma democrática, e tem de ser respeitada”, vincou, reforçando que “este respeito e este reconhecimento esteve ausente do debate – não foi a primeira vez que aconteceu – e ninguém ganha com isso”.

Para o eurodeputado comunista, “a solução ideal seria uma saída enquadrada por um acordo que minimizasse possíveis fatores de perturbação”.

Inicialmente agendada para 29 de março, a saída do Reino Unido foi adiada para 31 de outubro, uma data que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, assegura que irá respeitar, haja ou não acordo entre os 27 e Londres.