Após o segundo dia consecutivo de debates acalorados na Câmara dos Comuns, os parlamentares britânicos rejeitaram por 312 votos contra 308 a possibilidade de o Reino Unido sair da União Europeia a 29 de março sem um Acordo de Saída, o que teria consequências económicas catastróficas, anteveem políticos e analistas.

Demonstrando mais uma vez o caos que reina na política londrina, o resultado foi extremamente apertado — não porque metade da Câmara seja favorável a um Brexit sem acordo, mas porque se trata da emenda a uma moção apresentada previamente pela primeira-ministra, Theresa May.

Após o resultado da votação, May propôs realizar antes de 20 de março uma terceira votação parlamentar sobre o acordo do Brexit que negociou com a União Europeia e que os deputados já rejeitaram duas vezes.

Numa moção que deverá ser votada pela Câmara dos Comuns na quinta-feira, o governo britânico afirma que se o Parlamento não aprovar o acordo quando chegar o dia do divórcio, previsto para 29 de março, pedirá à UE uma prorrogação da data da saída britânica do bloco.

May advertiu que se o Parlamento não aprovar um acordo com Bruxelas, a saída do Reino Unido do bloco pode ser adiada durante um longo período.

"A Câmara tem de entender e aceitar que, se não apoia um acordo nos próximos dias, e não quer apoiar um Brexit sem acordo a 29 de março, isto sugere que será necessária uma prorrogação muito mais longa" do que o previsto, disse May aos deputados.

Visivelmente cansada e afónica, May já tinha advertido na véspera que "a longo prazo, poderíamos em última instância acabar por transformar um Brexit sem acordo num êxito, mas haveria uma comoção económica significativa no curto prazo".

Pela segunda vez em dois meses, os deputados rejeitaram estrondosamente na terça-feira o acordo que a líder conservadora costurou arduamente com Bruxelas para cumprir o mandato do referendo de 2016, no qual 52% dos britânicos votaram a favor do Brexit.

Até o último minuto, May trabalhou com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, sobre o ponto mais conflituoso do texto, a "salvaguarda irlandesa". Mas as garantias que obteve da UE não bastaram para acalmar os temores de muitos deputados britânicos.

Sendo assim, cumprindo uma promessa feita em fevereiro, convocou esta nova votação um dia depois.

Desta vez, May perdeu por uma diferença de 149 deputados. Em janeiro, a derrota tinha sido ainda mais humilhante: 230 votaram contra, incluindo mais de cem rebeldes do seu próprio Partido Conservador.

"Só há duas formas de sair da UE: com ou sem acordo. A UE está preparada para as duas", reagiu nesta quarta-feira, em Bruxelas, uma porta-voz da Comissão Europeia.

"Para descartar um Brexit sem acordo, não basta votar contra, mas é preciso aceitar um acordo", insistiu.

Menor crescimento em 2019

O Banco da Inglaterra advertiu há meses que um Brexit sem acordo, o cenário mais temido nos meios empresariais britânicos, mergulharia a Grã-Bretanha numa grave crise económica, com aumento do desemprego e da inflação, queda vertiginosa da libra e do preço da habitação e quase 10% de redução do PIB.

Nesse contexto, o Executivo reduziu nesta quarta-feira para 1,2% sua previsão de crescimento para 2019, que até agora era de 1,6%; ao mesmo tempo que o ministro das Finanças, Philip Hammond, advertia que a economia britânica continua sob a ameaça da "nuvem da incerteza" que paira sobre a saída britânica da UE.

É que, apesar do resultado da votação desta quarta-feira no Parlamento, um Brexit sem acordo continua a ser a opção por ‘default', ou seja, se a data decisiva chegar e não tiver sido aprovada uma solução alternativa, o Reino Unido pode ser involuntariamente engolido por ele.

Esta precisaria, no entanto, da aprovação por unanimidade dos líderes dos outros 27 países do bloco e estes já advertiram que só o considerariam se tiver um propósito claro. E não para simplesmente prorrogar um bloqueio que atribuem à política interna britânica e que tem gerado frustração crescente em Bruxelas.

"Se pedirem um prazo adicional, terão de nos explicar para quê (...) Não pode ser para renegociar um acordo que negociamos durante muitos meses e o qual já dissemos que não é negociável", advertiu nesta quarta-feira o presidente francês, Emmanuel Macron.

"A solução para o bloqueio atual está em Londres" e "a Europa deve continuar a avançar". "Não devemos perder tempo porque o mundo não espera", concluiu.

Na opinião do influente negociador-chefe europeu, Michel Barnier, o Reino Unido deve dizer o que pretende para a sua futura relação com a UE, "qual é a linha clara (...), inclusive antes de uma decisão sobre uma eventual extensão".

A chanceler alemã, Angela Merkel, por sua vez, insistiu durante conferência de imprensa em Berlim que o mais conveniente continua a ser, "para o interesse comum, conseguir uma saída [britânica] ordenada".

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