"É muito preocupante porque não sabemos o que nos vai acontecer, só sabemos é que não nos querem cá mais", lamentou a conselheira das Comunidades Portuguesas Iolanda Banu Viegas, que reside e trabalha na região de Wrexham, no País de Gales.
O País de Gales foi, com a Inglaterra, a nação do Reino Unido com maioria de votos pela saída, um cenário que, disse a conselheira à agência Lusa, também dividiu a comunidade portuguesa.
"Por incrível que pareça tenho-me deparado com muitos portugueses que queriam que isto acontecesse, mas outras pessoas que estão cá há mais tempo e estão dentro da realidade estão bastante preocupadas", acrescentou.
Iolanda Banu Viegas, que também dirige a associação Comunidade da Língua Portuguesa de Wrexham, tem recebido "imensas chamadas" de imigrantes a perguntar o que vai acontecer e o que devem fazer.
"Mas à maior parte das perguntas nem sei o que responder", confessou, prometendo que vai tentar dar informação o mais correta possível para preparar para a saída efetiva do país da UE, que só deverá acontecer dentro de dois anos.
Em Great Yarmouth, na costa este de Inglaterra, outra região onde foi registado um forte voto pela saída, o sentimento entre a comunidade portuguesa é também de "choque", disse à Lusa Manuel Mendonça, fundador da Associação Heróis do Mar.
"As pessoas aqui temem pelo seu futuro. Não nos sentimos bem-vindos porque [a campanha] se centrou na imigração. Esta economia vai despencar e as pessoas vão começar a pensar ir embora", enfatizou, prevendo um período de grande instabilidade.
O sentimento anti-imigração, acrescentou, estava escondido mas já era sentido há mais tempo na região, onde existe um elevado número de imigrantes que trabalham na agricultura e em fábricas de processamento alimentar.
"Nós viemos para aqui para construir uma vida como se estivéssemos em nossa casa. O sentimento que tenho é de repor tudo em cima da mesa e recomeçar tudo de novo noutro sítio qualquer, talvez em Portugal", admitiu.
Nesse sentido, salientou a importância do reforço do ensino do português aos filhos dos portugueses residentes no Reino Unido perante uma maior eventualidade de terem de voltar e continuar os seus estudos em Portugal.
Para Paulo Costa, um dos dirigentes do movimento Migrantes Unidos, a prioridade deve ser "acalmar os medos e as preocupações mais imediatas [dos imigrantes portugueses] que é o receio de que os mandem embora".
Enquanto as negociações para a saída efetiva da UE decorrem não há consequências, garantiu, nem espera que existam no futuro para aqueles que trabalham e são contribuintes e têm uma situação mais estável economicamente.
Mas aponta um maior risco para, por exemplo, trabalhadores precários sem documentos que provem o seu emprego.
"Mais facilmente os mandam embora e arriscamos a que os subsídios de desemprego cá comecem a ser realmente cortados. As pessoas com trabalho precário são as que potencialmente terão mais problemas, não a curto, mas a médio prazo", avisou.
Estas questões deverão ser discutidas numa sessão de esclarecimento em breve que está a organizar com outros elementos da comunidade portuguesa em Londres, indicou.
"Mais tarde, temos de começar a definir estratégias de ver se podemos ou não influenciar as negociações para proteger a comunidade", sugeriu.
Os eleitores britânicos decidiram que o Reino Unido vai sair a União Europeia, depois de o 'Brexit' ter conquistado 51,9% dos votos no referendo de quinta-feira, cuja taxa de participação foi de 72,2%.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou já a intenção de se demitir em outubro, na sequência deste resultado.
As principais bolsas europeias abriram hoje em forte queda, com a bolsa de Londres a descer perto dos 8%.
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