Milhares de católicos vindos de todo o país emocionaram-se quando Francisco surgiu em público, tendo sido saudado pelos líderes católicos locais, que representam os cerca de 700 mil cristãos residentes no país, um pouco mais de 1% dos cerca de 51 milhões de habitantes da Birmânia.

“Vi o papa. Estão tão emocionada que até chorei. O ar tornou-se agradável e doce. Francisco vem pela paz”, declarou Christina Aye Sein, funcionária de um banco católico em Rangum, à passagem do cortejo papal, usando uma “t-shirt” com uma fotografia e Francisco e uma frase: “paz e amor”.

Genevieve Mu, residente no Estado de Karen (leste) e que veio a Rangum para ver o papa, também se mostrava entusiasmada com a visita do papa à Birmânia.

“Vieram pessoas dos quatro cantos do país, mesmo para ver o papa apenas por alguns minutos. Estou orgulhosa dos católicos e do nosso Governo que permitiu a visita [de Francisco à Birmânia]”, sublinhou.

Centenas de crianças em vestes tradicionais também saudaram o papa, gritando “vivas” a Francisco, agitando pequenas bandeiras de plástico com as cores dos dois Estados e cantando temas locais ligados à igreja católica.

Durante o voo procedente de Roma, Francisco saudou os jornalistas a bordo do avião e pediu “desculpa” pelo “calor” que os aguardava em Rangum, onde, à hora matinal que o aparelho aterrou, se sentiam 32 graus Celsius, esperando-se que a temperatura suba ao longo do dia.

Na Birmânia, Francisco vai reunir-se em separado com o presidente Htin Kya, com a chefe do Governo, Aung San Suu Ki, e com o poderoso líder militar, Min Aung Hlaing.

Min Aung Hlaing é acusado pelas organizações de defesa dos direitos humanos de ser o principal responsável pela campanha de repressão contra os rohingyas e um dos homens mais poderosos do país.

Ao longo dos dias, serão celebradas missas para os católicos birmaneses, que foram durante muitos anos discriminados pela antiga junta militar no poder e que aguardavam há muito a visita papal.

Francisco vai também reunir-se com o Conselho Superior Sangha dos monges budistas, o órgão que reúne os líderes máximos incluindo o ramo budista dominante.

A visita de Francisco, 80 anos, surge num momento crucial para o país, que está a ser palco de grandes tensões inter-religiosas e sob pressão internacional desde que começou a crise desencadeada pela operação do exército birmanês contra a minoria muçulmana rohingya no estado de Rakhine, no oeste do país.

A ofensiva militar — que incluiu a morte de centenas de pessoas, múltiplas violações, queima de aldeias e de campos de cultivo e o abate de gado daquela comunidade e foi considerada uma operação de “limpeza étnica” pela ONU — obrigou mais de 620 mil rohingya a procurar refúgio no vizinho Bangladesh desde finais de agosto.

Antes da campanha militar, os rohingyas que habitavam no estado de Rakhine eram estimados em um milhão.

A Birmânia, onde mais de 90% da população é budista, não reconhece cidadania aos rohingya, uma comunidade apátrida considerada pela ONU uma das mais perseguidas do planeta.

Apesar de muitos viverem no país há gerações, não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, aos hospitais, além de enfrentarem uma série de privações, nomeadamente de movimentos.

A segunda parte da visita do papa inclui uma deslocação ao Bangladesh, entre quinta-feira e sábado.

Em Daca, o papa reúne-se com uma delegação de muçulmanos rohingya e com responsáveis políticos e religiosos do vizinho Bangladesh.