Na primeira audiência do julgamento em que é acusada pelo Ministério Público da prática de 35 crimes de peculato, 22 crimes de violação de correspondência e outros tantos de burla informática e nas comunicações (hoje reduzidos a 21, devido à desistência de um dos queixosos), a arguida afirmou que os documentos encontrados na sua viatura, no dia em foi alvo de uma busca, em 14 de junho de 2018, eram “correio para devolver”.
Confrontada com imagens recolhidas junto à caixa Multibanco de uma grande superfície onde foram feitos levantamentos com um cartão que afirmou hoje ter encontrado perdido no estacionamento do supermercado, a mulher disse que apenas colocou o cartão na ranhura para que ficasse retido e negou ter retirado dinheiro.
A arguida, de 40 anos, residente em Valada, no concelho do Cartaxo (distrito de Santarém), trabalha numa empresa subcontratada pela estação de correios de Salvaterra de Magos para distribuição de correspondência.
É acusada de se ter apossado de cartões de crédito Universo e de outros de outras instituições de crédito, e dos respetivos códigos, bem como de faturas que continham o número de identificação fiscal, meio usado para ativar os cartões do grupo Sonae.
As testemunhas ouvidas hoje relataram terem sido confrontadas com levantamentos feitos com cartões que haviam pedido, mas que nunca chegaram a receber, tendo as instituições de crédito assumido esses valores, pelo que não ficaram financeiramente prejudicadas.
As testemunhas negaram ter as suas caixas de correio danificadas ou ter alguma vez recebido correspondência com sinais de ter sido aberta, contrariando os relatos da arguida.
A mulher referiu que na zona onde fazia a entrega de correio havia caixas de correio danificadas e que, sempre que tinha cartas semiabertas para entregar, as fotografava para provar que já vinham assim.
Além do cartão com que foi detetada pelas câmaras, a arguida tinha um outro no seu carro no dia em que foi detida. Neste caso, disse hoje tê-lo encontrado no ponto de entrega de correspondência, sem envelope, e recolhido para entregar no posto de Marinhais.
Neste posto era-lhe diariamente entregue de manhã a correspondência que ia para devolução e que voltava a depositar ao final do dia.
Questionada pelo presidente do coletivo de juízes sobre o sentido de o correio para devolução andar no seu carro porque – conforme afirmou - não podia ficar no posto de Marinhais, a arguida remeteu para os funcionários dos CTT uma explicação, afirmando serem as ordens recebidas.
Questionada pela sua advogada sobre a possibilidade de fazer levantamentos depois da meia-noite num conjunto de localidades afastadas da sua área de residência, como consta da acusação, afirmou que residia com a família, tendo na altura um filho com dois anos, pelo que não saía à noite.
A mulher alegou ainda que trabalha desde os 16 anos, tendo tido vários empregos em que lidou com dinheiro e nunca tendo sido alvo de qualquer queixa.
Admitiu que, enquanto carteira, teve de início algumas queixas “por causa de correio trocado”, o que atribuiu ao facto de ter havido alteração do número de polícia numa das ruas da sua ronda.
A mulher é acusada de, no período entre 17 de outubro de 2017 e 14 de junho de 2018, ter feito levantamentos em caixas automáticas “de várias localidades dos concelhos de Benavente, Azambuja, Salvaterra de Magos e Coruche de pelo menos 15.370 euros, por utilização de cartões emitidos em nome de 22 pessoas diferentes”.
Comentários