“Sinto-me importante por estar aqui a plantar estas árvores. Quero incentivar as pessoas a não incendiarem a floresta porque é mau para o ambiente”, afirmou à Lusa Anabela Pereira, durante a plantação de 3.500 carvalhos e pinheiros bravos nos terrenos baldios de Vilar de Murteda, a cerca de 20 quilómetros do centro de Viana do Castelo.
Aos 41 anos Anabela frequenta um curso de formação profissional para pessoas com necessidades educativas especiais. Os formandos do centro onde está a aprender a ser operadora agrícola foi convidado a juntar-se aos alunos da escola de hotelaria e turismo e da básica Pintor José de Brito, onde estuda André Correia, de 13 anos.
“É muito bom fazer renascer as árvores que o fogo destruiu e dar um ar novo a esta área. Todos temos uma palavra a dizer na defesa floresta”, afirmou o jovem enquanto plantava um pinheiro bravo.
André Correia não quer “falhar” o “alinhamento” traçado previamente pela equipa de sapadores florestais e que, no futuro, “quando as árvores forem crescendo, será importante para a manutenção e limpeza do terreno”.
“É preciso colocar a árvore na cova que já foi aberta, para não sair do alinhamento”, reforçou.
Este ensinamento foi retirado por André Correia da aula improvisada que antecedeu o início da plantação. Todos juntos, em círculo, os alunos ouviram a engenheira florestal do município, Fabíola Oliveira, a sublinhar a importância de cumprir esse alinhamento na plantação produtiva de hoje que, no futuro será importante para prevenir incêndios e evitar o cenário “horrível” que o fogo deixou em 2016.
“O fogo começou em Paredes de Coura, saltou a autoestrada A3, entrou em Ponte de Lima, chegou a Viana do Castelo e atingiu Caminha. Consumiu mais de dez mil hectares de floresta, cerca de cinco mil em Viana do Castelo”, alertou.
Números que o vereador do Ambiente na Câmara de Viana do castelo, Ricardo Carvalhido, reforçou explicando aos alunos a importância do seu “contributo” na plantação que hoje assinalou do Dia Mundial da Árvore e da Floresta na capital do Alto Minho.
“Vocês são o fermento da literacia para a floresta que queremos implementar no nosso concelho. A vossa presença aqui, hoje, é muito importante, porque vocês vão ser os mensageiros da necessidade de manter este nosso património e vão também ter essa preocupação ao longo das vossas vidas”, afirmou.
O presidente do conselho diretivo de baldios, António Araújo, “há muito” que estava pela plantação daquela zona que, desde 2016, tinha “um aspeto abandonado”.
“Em 2016 ficou tudo destruído. Era só carvão”, recordou. Com 350 hectares de floresta, o conselho de baldios da aldeia de Vilar de Murteda é composto “maioritariamente por eucalipto”.
“Sabemos que os técnicos não gostam desta espécie, mas as nossas plantações estão limpinhas e alinhadas”, garantiu António Araújo, adiantando que o conselho de baldios apoia os sapadores florestais na prevenção dos fogos e no combate com a carrinha dotada de um ‘kit’ próprio e com um trator com cisterna.
A plantação de Vilar de Murteda integra-se no Ano Municipal para a Recuperação da Floresta Nativa Portuguesa, iniciativa municipal que pretende recuperar 100 hectares de Área de Recuperação Ecológica (ARE) com a plantação, até ao fim do ano, de 115 mil árvores de espécies nativas.
Ao todo serão realizadas duas dezenas de ações de recuperação de ARE. Daquelas, cinco serão plantações de pinheiros, carvalhos, salgueiros, azinheiras, gilbardeiras, medronheiros, pilriteiros, entre outras espécies autóctones e que integram o “fundo genético do concelho”.
As ARE integram zonas ardidas e áreas classificadas, estas últimas compostas por 13 monumentos naturais locais, assim classificados devido ao valor científico que têm para a geodiversidade, sendo alguns também relevantes do ponto de vista da biodiversidade (sítios de importância comunitária da Rede Natura 2000).
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