Estas posições foram assumidas por Carlos César no discurso de abertura do último dia de Jornadas Parlamentares do PS, que se iniciaram na segunda-feira em Viseu, num discurso em que nunca assumiu a meta de uma maioria absoluta, mas em que procurou salientar duas ideias: O seu partido "aprendeu com os erros do passado" e precisa agora de obter uma "maioria expressiva" nas próximas eleições legislativas para "evitar bloqueios" e libertar-se de "inércias".

O líder da bancada do PS começou por reconhecer que o atual Governo só cumpriu a legislatura graças ao apoio dos seus parceiros de esquerda no parlamento, o PCP, o Bloco de Esquerda e o PEV, mas retirou a estes partidos qualquer responsabilidade ao nível dos resultados da economia, designadamente em matérias de aumento do investimento, redução acentuada do défice e do desemprego, e melhoria da credibilidade internacional do país.

"Se é verdade que tivemos a ajuda da maioria parlamentar do PEV, do BE e do PCP para cimentar a recuperação social, tivemos por outro lado a difícil e bem sucedida missão de recuperar a confiança, de recuperar a economia, de equilibrar as finanças públicas, não permitindo aventuras orçamentais que nos levariam ao colapso e à desconfiança internacional. Passámos a crescer mais do que a maioria dos Estados-membros da zona euro e da União Europeia, gerámos centenas de milhares de empregos em Portugal - e isso não aconteceu por os empresários ou os investidores nacionais ou estrangeiros se terem encantado com o Governo anterior [PSD/CDS-PP de Passos Coelho], ou se terem enamorado pelos comunistas ou esquerda do Bloco", alegou Carlos César.

De acordo com Carlos César, esse percurso do país "deveu-se a políticas no centro das quais esteve e está o PS sob a liderança de António Costa e deveu-se à garantia do que representa o PS na condução de políticas amigas da economia".

"Contámos com a ajuda de outros partidos, mas o PS precisa de contar mais, precisa deter mais força para prosseguir este caminho sem bloqueios, sem constantes dificuldades, sem inércias. Para isso, precisamos de uma grande votação, de uma grande manifestação de confiança dos portugueses nas próximas eleições", declarou o presidente do Grupo Parlamentar do PS, antes de se referir de forma indireta ao período dos executivos de José Sócrates.

Segundo Carlos César, o PS "aprendeu com o passado - e a maior parte dos portugueses já não tem dúvidas sobre isso".

"Nós aprendemos com os nossos erros e, ao longo desta legislatura, reafirmámos um contrato com os portugueses de confiança de que resultaram enormes progressos na economia e no bem-estar das famílias", sustentou.

Numa espécie de balanço atual legislatura, o presidente do Grupo Parlamentar do PS considerou essencial a adoção de uma atitude de "humildade", tendo em vista identificar "objetivos não cumpridos que existiram, bem como acidentes de percurso".

"Temos de detetar caminhos em que devemos inovar. Não tenhamos dúvidas sobre essa matéria: Tivemos erros e tivemos omissões. Mas há justamente uma vantagem da qual não queremos prescindir no relacionamento com os portugueses, que é o do reconhecimento daquilo que correu mal. Só com base nesse reconhecimento poderemos fazer melhor", declarou.

Tal como fizera na noite anterior, durante um jantar com autarcas do PS, Carlos César reconheceu resultados para a estabilidade política decorrentes dos acordos celebrados com os parceiros parlamentares da atual solução governativa, o PEV, o PCP e o Bloco de Esquerda.

Mas voltou a referir-se à ideia de que o PS, ao longo da presente legislatura, "procurou constantemente as maiorias necessárias para o prosseguimento das melhores políticas".

Após a intervenção de Carlos César, o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e atual vice-presidente da bancada do PS Fernando Rocha Andrade procurou desmontar a ideia de que, com o atual Governo, houve um aumento das cativações e da carga fiscal.

César afirma que apenas o PS pode invocar o património de António Arnaut na saúde

O líder parlamentar socialista insistiu hoje que a nova Lei de Bases da Saúde só não será aprovada se houver "radicalismo" e considerou que o PS é o único que pode invocar o património de António Arnaut.

No seu discurso, Carlos César procurou responder às várias referências feitas publicamente pela coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, à obra do antigo ministro de Mário Soares, fundador do PS e do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António Arnaut, para se opor aos socialistas no debate em torno da nova Lei de Bases da Saúde.

"A lei em que estamos a trabalhar é uma boa legislação que merece ser aprovada por quem como nós criou e defende o SNS e pelo único partido que pode e deve invocar como seu o património fundacional representado por António Arnaut no SNS", declarou o presidente do Grupo Parlamentar do PS, recebendo dos seus deputados uma prolongada salva de palmas.

No plano político, Carlos César disse que o PS continua "empenhado na aprovação de uma nova Lei de Bases da Saúde que substitua a concorrência pela colaboração entre setores prestadores de cuidados".

Essa nova lei, acentuou, "só não será aprovada se o radicalismo de alguns se sobrepuser aos objetivos de uma lei de bases que não só não suscite bloqueios, caso de um veto presidencial, como consolide princípios aceites e duráveis e não opiniões ocasionais e partidárias".

"Estamos muito orgulhosos do que temos conseguido a favor da valorização das pessoas, da dignidade e da proteção das famílias. Essa foi e é uma marca do PS, da qual não nos devemos desviar no nosso programa de Governo", acrescentou.

(Notícia atualizada às 11:49)