O ministério dos Negócios Estrangeiros da China pediu às embaixadas, na semana passada, que não usem os seus muros exteriores para exibir “propaganda política”, revelou Nabila Massrali, em comunicado. As autoridades apontaram a necessidade de “evitar disputas entre países”, mas não definiram o que seria considerado propaganda, acrescentou a porta-voz.
O pedido não refere a Ucrânia, segundo Massrali. Mas as bandeiras e cartazes colocados pelas embaixadas do Canadá, França, Alemanha e outros países ocidentais são as únicas exibições públicas na maioria das missões estrangeiras, para além de anúncios de promoção turística.
Num painel com as cores da bandeira ucraniana, colocado no muro da embaixada do Canadá, voltado para uma das mais movimentadas ruas de Pequim, lê-se a mensagem “Estamos juntos com a Ucrânia”, escrita em chinês.
A mesma mensagem é visível num cartaz com dois metros de altura, colocado no portão da frente da Embaixada da Finlândia. Vários outros países colocaram as respetivas bandeiras nacionais lado a lado com a bandeira da Ucrânia.
Na maioria dos casos, estas exibições públicas foram colocadas logo após o início da guerra. Não ficou claro porque só agora a China pediu a sua remoção.
O país asiático afirmou ser neutro no conflito e querer desempenhar o papel de mediador, mas mantém uma relação “sem limites” com a Rússia e recusou-se a criticar a invasão da Ucrânia. Um enviado chinês visitou Kiev esta semana e deve ir à Rússia para discutir um possível “acordo político”.
Algumas embaixadas também colocaram bandeiras do arco-íris durante a Semana da Diversidade e no Dia Internacional Contra a Homofobia e Transfobia, na quarta-feira. Isto são questões consideradas politicamente sensíveis pelo Partido Comunista da China.
Questionado sobre o pedido das autoridades, o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros Wang Wenbin disse que as embaixadas são obrigadas a “respeitar as leis e regulamentos chineses”, mas não deu detalhes.
“A China pede às embaixadas de todos os países na China e aos escritórios de representação de organizações internacionais na China que desempenhem as suas funções, de acordo com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas ou os acordos internacionais relevantes”, afirmou Wang.
O enviado chinês, Li Hui, reuniu durante dois dias com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, segundo os dois governos.
O governo ucraniano disse que abordou “maneiras de impedir a agressão russa”, mas nenhum dos lados deu detalhes.
Li disse que os dois governos devem “criar condições para encerrar a guerra e iniciar negociações de paz”, de acordo com um comunicado do ministério dos Negócios Estrangeiros da China.
Analistas políticos consideram que as possibilidades de haver um acordo de paz são baixas, já que nem a Ucrânia nem a Rússia estão prontas a parar de lutar. Os analistas dizem que, ao destacar um enviado, a China está a tentar neutralizar as críticas à sua proximidade com o líder russo, Vladimir Putin, e afastar os aliados europeus de Washington.
Pequim divulgou um plano de paz em fevereiro que foi amplamente rejeitado pelos aliados da Ucrânia, que insistem que as forças russas devem primeiro retirar-se do território ucraniano.
Comentários