Na hora de escolher um quarto em Coimbra, estudantes brasileiros e africanos podem deparar-se com situações de discriminação por parte de senhorios. "Não alugo a negros" ou "só alugo a nacionais" foram algumas das respostas que estudantes de países lusófonos já ouviram quando procuravam um quarto em Coimbra, cidade onde por esta altura pululam os anúncios de apartamentos a arrendar. A situação não é generalizada, mas há registos de vários casos, alertam associações.
Élida Brito, cabo-verdiana a estudar em Coimbra desde 2008, ouviu ao longo dos anos relatos de colegas seus a falarem de casos de senhorios racistas: "Achava que os meus colegas exageravam". Depois de ter estado numa casa em que tinha uma relação "muito boa com a senhoria", a estudante de Engenharia Eletrotécnica deparou-se com a primeira situação de discriminação este ano.
"Encontrei uma casa que era do meu interesse e, primeiro, disseram que sim". Porém, mais tarde, foi-lhe dada a resposta de que "não preenchia os requisitos" por causa da cor da sua pele. Há situações não tão diretas, constata, referindo casos de colegas em que o senhorio apenas diz que a casa não está disponível na hora de assinar o contrato, mas, contactado posteriormente, "a casa continuava disponível".
Todavia, Élida Brito ressalva que esta não é uma regra geral. Depois de se deparar com uma "situação de racismo tão direta", passou a avisar os senhorios que contactava que era "de cor" e "nenhuma pessoa se mostrou preocupada com isso".
Também com os estudantes brasileiros já houve casos de discriminação na hora de procurar um quarto em Coimbra, disse à Lusa o presidente da Associação de Estudantes e Pesquisadores Brasileiros em Coimbra, Eduardo Monteiro. "Não é algo generalizado, mas acontece", observa, sublinhando que, para além do preconceito em torno do brasileiro, as probabilidades de discriminação aumentam quando este é "negro ou mulher".
Muitas vezes, a discriminação é feita de forma indireta ou "por medo" e não tanto a partir de uma posição "arrogante", explana, realçando que, apesar dos casos que vão sendo relatados, Coimbra é "uma cidade recetiva" e que nota que tem vindo "a mudar". Para além destas questões, Eduardo Monteiro repara que também há alguns senhorios que têm a ideia de que os brasileiros que estudam em Portugal, porque estão cá, "têm dinheiro" e tentam explorar, pedindo mais do que o acordado.
Henrique Pinhel é o presidente da Associação de Estudantes da Guiné-Bissau em Coimbra e já sentiu "na pele" o racismo.Ao procurar casas para acolherem estudantes da Guiné-Bissau na cidade universitária, Henrique ouviu justificações como os africanos "fazem barulho" ou "só arrendo a portugueses".
"Somos todos estudantes. Não se pode estar a diferenciar pela cor da pele de cada um", comenta o estudante de Direito.
Já Osvaldo Kidi, presidente da associação de estudantes angolanos em Coimbra, não tem conhecimento de qualquer situação e entende Coimbra como uma "cidade aberta e acolhedora de um modo geral".
No caso da associação de estudantes moçambicanos, também não há registo de recusas por parte de senhorios, conta o presidente Olímpio Machachane.
Porém, enfatiza, existe "um certo preconceito dos senhorios", que arrendam, mas ficam de pé atrás. "Ficam desconfiados e temem que o estrangeiro vá estragar a casa", aponta.
Demicy Vaz, há sete anos em Coimbra e presidente da associação de estudantes cabo-verdianos, acredita que não é uma situação generalizada, mas deverá acontecer "todos os anos, nesta altura".
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