De acordo com o responsável de um dos estabelecimentos situado nas imediações da Feira Internacional de Lisboa (FIL), só em 2018 já foram “três meses de acessos condicionados ou fechados”.

“Se somarmos todos os eventos, incluindo o tempo de montagens e desmontagens, no total, só este ano são 90 dias, três meses, em que os acessos aos nossos restaurantes estão fechados. Só durante a Eurovisão foram 50 dias consecutivos”, afirmou.

Uma das responsáveis, que explora desde 2005 um restaurante perto da Altice Arena, recorreu pela primeira vez, em abril, a um empréstimo para fazer face às despesas e equaciona agora a hipótese de abandonar o restaurante.

“Junho, julho e agosto são o pico da procura. Tive que ir buscar dinheiro ao banco em abril para pagar os ordenados, tenho que o pagar agora em julho, agosto e setembro. Onde é que vou compensar? Isto é grave. Tenho de ponderar seriamente o que fazer porque o desgaste é muito grande”, disse.

Segundo os responsáveis não há, da parte da Câmara Municipal de Lisboa, qualquer notificação antes da realização dos eventos para o estabelecimento de perímetros de segurança ou delimitação de recinto.

“Há um festival de música ainda este mês e ainda ninguém me disse quando será. Chegam num dia e fecham”, afirmou o responsável de dois restaurantes asiáticos, alertando também para a “insensibilidade” da câmara municipal.

“Há falta de respeito ao público em geral. As pessoas andam às voltas no Parque das Nações para conseguirem chegar de um ponto a outro. No evento que agora está a decorrer [fim das comemorações dos 60 anos do príncipe Aga Khan como líder espiritual da comunidade ismaelita], a Câmara Municipal de Lisboa isentou-se de responsabilidades, alegou questões de segurança e remeteu para o superintendente da PSP”, disse um dos proprietários de um restaurante que está fora do perímetro do evento, mas com os acessos condicionados.

Segundo os responsáveis dos vários restaurantes afetados, há alguns que optaram por impedir as reservas ao público em geral, para servir o evento, e outros que tiveram todas as reservas canceladas pelos clientes, uma vez que não conseguiam chegar ao restaurante.

Relativamente ao evento de comemoração do Jubileu de Diamante de Aga Khan, que teve início no dia 05 e irá terminar a 12 de julho, os comerciantes denunciaram ainda alterações àquilo que tinha sido acordado antes do início do evento.

“Pediram-nos que limitássemos a carta do restaurante, que não vendêssemos bebidas alcoólicas, nem carne de porco. Foi o que fizemos. Comprámos produtos novos porque habitualmente os que eles pediam não fazem parte da nossa ementa. Os dois primeiros dias correram muito mal, creio que devido à organização interna deles. Está tudo concentrado na zona da Feira Internacional de Lisboa (FIL), as pessoas que têm credencial do evento podem circular livremente, entrar e sair. Não nos tinham transmitido isso inicialmente”, afirmou Ana Costa, responsável de um restaurante junto ao Centro Náutico do Parque das Nações.

Os concessionários alertaram também para alterações feitas no perímetro de segurança do evento.

“Tivemos uma reunião, na sexta-feira, com um dos responsáveis, que nos disse que ia reunir com a polícia para fazer alterações ao perímetro e posteriormente nos contactariam para que pudéssemos chegar a um acordo. No dia seguinte (sábado), alteraram o perímetro, colocaram os nossos restaurantes fora do perímetro e nada nos foi comunicado sequer. Neste momento não tenho acesso ao armazém, tenho de pedir ao segurança do evento que me autorize a chegar ao armazém do meu restaurante”, disse Ana Costa.

O presidente da Associação de Concessionários do Parque das Nações, Filipe Outão, disse à agência Lusa que é “necessário encontrar um ponto de encontro” entre a realização de eventos de grande dimensão e os danos que são causados.

“É difícil encontrar responsabilidades. Tudo está, à partida, a ser bem feito, mas tem um grande impacto em nós. É preciso falar com a Câmara Municipal de Lisboa e com a Junta de Freguesia do Parque das Nações e criar uma ponte para que se possa fazer um melhor planeamento e minorar os danos”, afirmou.

O presidente da associação reconhece o “impacto positivo” que estes eventos têm em Lisboa, mas considera que as entidades envolvidas na organização devem “ouvir a opinião” dos concessionários da freguesia.

A agência Lusa contactou a Fundação Aga Khan para obter esclarecimentos, mas até ao momento não obteve resposta.

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