Em entrevista à agência Lusa, Augusto Santos Silva também rejeita, em absoluto, o desafio para fazer uma "autocrítica" política e ético-moral por ter integrado os dois executivos liderados por José Sócrates, primeiro como ministro dos Assuntos Parlamentares (2005/20009), depois como ministro da Defesa (2009/2011).
O atual ministro dos Negócios Estrangeiros começa por observar que tem "muito medo" da expressão autocrítica.
"Nunca fui estalinista e, portanto, tenho sempre medo de todas as práticas que remetem para o universo totalitário do estalinismo, sendo na versão União Soviética, sendo na versão China Popular. Há muitos que o foram, que deixaram de ser estalinistas na razão, mas que continuam um pouco estalinistas no coração. Esse nunca foi o meu mundo", reage o dirigente socialista e professor universitário do Porto.
Do ponto de vista ético-moral, Augusto Santos Silva afirma que segue "normas de conduta que são públicas e claras e óbvias para todos".
"Não tenho a pretensão de entender que as minhas normas de conduta sejam inerentemente superiores às outras. No que diz respeito às consequências de factos que venham a ser conhecidos e provados, esperemos então que os factos sejam provados para analisar as respetivas consequências", vincou, numa primeira alusão ao que tem sido divulgado publicamente no âmbito do processo judicial "Operação Marquês".
Interrogado como recebeu a decisão de José Sócrates de se desfilar do PS, Augusto Santos Silva entende que, "do ponto de vista político, poderia ser uma das consequências lógicas possíveis neste caso".
"Portanto, não me surpreendeu", completou.
Questionado se ficou pessoalmente triste com a saída de José Sócrates do PS, que liderou entre 2004 e 2001, Augusto Santos Silva fosse ao plano dos sentimentos e opta por repetir: "Era uma possibilidade lógica entre outras".
Já perante a pergunta se declarações proferidas por dirigentes socialistas como Carlos César e João Galamba contribuíram para a saída de José Sócrates do PS, ambos fazendo-lhe um julgamento antecipado na praça pública, tal como se queixou o próprio antigo primeiro-ministro, Augusto Santos Silva nega validade a esse tipo de motivos.
"Não. Quando o antigo secretário-geral [José Sócrates] foi detido, eu próprio e o líder atual [António Costa] dissemos publicamente que não havia nenhuma razão para o PS mudar a sua norma de conduta, segundo a qual a justiça trataria dos casos penais e a política trataria das questões políticas. Essa tem sido a nossa norma de conduta", advoga.
Augusto Santos Silva recusa-se também, para já, a pronunciar-se sobre factos que são conhecidos relativos à investigação de que foi alvo José Sócrates.
"Certamente haveremos de nos exprimir sobre processos e decisões judiciais, porque esse é um direito de qualquer cidadão - e o que a justiça faz também pode ser objeto de avaliação" diz.
Pela sua parte, porém, reserva esse juízo "para a altura em que os factos sejam conhecidos, as provas apresentadas e as contraprovas apresentadas pela defesa sejam também conhecidas".
"No nevoeiro da informação e contrainformação, fugas de um lado e fugas do outro, nesse nevoeiro eu não me meto, até porque me parece ser mais vespeiro do que nevoeiro", justifica.
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