Ao longo dos três dias da V Convenção Nacional do Chega, o PSD esteve na mira das intervenções dos principais dirigentes, e nem André Ventura, nas múltiplas intervenções ao longo da reunião, escondeu ao que vinha: "Temos o caminho mais aberto para a possibilidade de começarmos a criar a tal alternativa que o Presidente da República pediu, caso o governo socialista caia".

O Chega reforçou a aposta na sua entrada para o Governo, cerca de quatro anos após a sua oficialização em 2019, prometendo vender caro um acordo com o PSD. "Ou não há Governo, ou há Governo com o Chega, não há outra hipótese para além disso", acentuou.

Apesar de considerar que "o Chega tem uma vocação estrita para governar Portugal", Ventura reconheceu não estar ainda em condições de "quebrar o ciclo do bipartidarismo", que elegeu como objetivo de futuro, começando a definir objetivos para o 'negócio' com os sociais-democratas, mas rejeitando "linhas vermelhas" de quem quer que seja que não "o povo português".

"Só vos posso prometer sangue, suor, lágrimas e muita fé", disse, plagiando uma frase do antigo primeiro-ministro britânico Winston Churchill durante a Segunda Guerra Mundial e acrescentando-lhe a crença católica, dirigindo-se depois ao PSD de Luís Montenegro para propor um “acordo em algumas matérias”, como “a reforma da justiça, o reforço do sistema político e a enorme injustiça no sistema fiscal”, embora admitindo tratar-se de “áreas difíceis que exigem muita negociação, muita aproximação porque são de mudança do sistema estrutural do país”.

Sem apresentar qualquer nova proposta ao país, André Ventura subiu quatro vezes ao palco durante os três dias da convenção e quase tantas os jornalistas nos bastidores, mantendo a tradição populista e de dramatização do momento político, embora com discursos mais moderados do que o habitual, deixando para trás os ataques de outrora à comunidade cigana ou aos imigrantes.

Apesar disso, elegeu como "grande objetivo" do seu mandato "ganhar a rua à esquerda em Portugal" e "lutar contra a corrupção com todas as armas", sobretudo num "país de migalhas e de milhões".

"A esquerda bafienta e antiga, a esquerda estapafúrdia sabe que tem agora um inimigo mortal", avisou.

“Voltaremos a sair à rua, voltaremos a percorrer cada uma das ruas de Portugal, voltaremos a encher praças e conquistaremos as ruas deste país”, afirmou, ao mesmo tempo que se colocava ao lado da luta dos professores.

Os três dias da reunião magna do partido da extrema-direita portuguesa decorreram com sucessivos elogios ao líder, sem a mais leve crítica, e repetidos avisos ao PSD de que "não haverá 'geringonças' de direita", designadamente do ideólogo e deputado Digo Pacheco de Amorim ou do líder parlamentar, Pedro Pinto.

Quanto à ausência de oposição interna, Ventura não só a considerou normal como fez questão de vincar: "Não podem pedir ao Chega mais democracia interna".

"Como é que poderia haver uma oposição consistente" num partido que passou de um deputado para terceira força política e já conta com 15% nas sondagens, questionou, à chegada ao centro de exposições de Santarém.

Reeleito presidente da direção do Chega com 98,3% dos votos dos cerca de 600 delegados à convenção, André Ventura conseguiu também uma votação esmagadora nas listas aos vários órgãos, designadamente para a sua direção, que obteve 91,9% dos sufrágios.

A direção é "de continuidade", com três vice-presidentes a transitarem da anterior equipa (António Tânger Corrêa, Pedro Frazão e Marta Trindade) e seis adjuntos (Pedro Pinto, Rui Paulo Sousa, Diogo Pacheco de Amorim, Patrícia Carvalho, Ricardo Regalla e Rita Matias).

A presença de vários partidos da extrema-direita europeia na convenção permitiu ainda desfazer qualquer dúvida sobre o posicionamento do Chega no espetro político português.

Em Santarém estiveram o eurodeputado Jordan Bardella, que sucedeu a Marine Le Pen como líder do partido francês de extrema-direita Rassemblement National, Tino Chrupalla, do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), Geert Wilders, do Partido da Liberdade (PVV), dos Países Baixos, Tom Van Grieken, do Vlaams Belang (VB), da região belga da Flandres.

Na convenção esteve ainda Rocio Monasterio, líder do Vox em Madrid, Espanha, Kinga Gál, vice-presidente do Fidesz, partido no poder na Hungria, e Cláudiu Tarziu, da Aliança para a União dos Romenos (AUR).

* Por José Pedro Santos, da agência Lusa