Este doente, que está consciente e hoje recebeu a visita da administradora do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), foi operado no Hospital de Santa Marta pela equipa do cirurgião José Fragata, pioneiro em várias intervenções na área cardiotorácica em Portugal.
Numa conferência de imprensa, José Fragata explicou que esta intervenção foi a resposta clínica possível para este doente que sofria de insuficiência cardíaca, mas que não respondia à medicação.
Para este tipo de doentes, a solução passa por um coração transplantado, mas o facto de o doente sofrer de doença renal e por causa dos efeitos nos rins dos fármacos para a imunodepressão, esta hipótese foi posta de lado.
Este paciente juntou-se, assim, aos 1.200 que em todo o mundo receberam um coração artificial desta geração e que chegam a viver 11 a 12 anos.
Trata-se de “uma bomba muito diferenciada, que funciona por levitação magnética, aspira o sangue da ponta esquerda do coração e injeta na aorta e que está ligada por uma 'drive line' que sai pela parede abdominal do doente e que se liga a um conjunto de baterias”, explicou José Fragata.
Segundo o cirurgião, “é como um telemóvel que tem carga de 17 horas e que à noite é preciso ligar a um carregador”.
José Fragata revelou que “o doente nem sequer dá pelo dispositivo, uma vez que ela esta alojada profundamente no tórax, dentro do saco pericárdico, faz corpo com o coração do doente aspira sangue do ventrículo e injeta na aorta”.
Não se trata de uma substituição, mas sim de uma assistência ao ventríloquo esquerdo. O coração do doente permanece no mesmo sítio, mas apenas o seu lado funciona, pois o esquerdo praticamente só trabalha com o dispositivo, o qual pulsa 5.000 vezes por minuto.
Segundo José Fragata, “os doentes só não poderão fazer desportos náuticos de contacto”, podendo ter uma vida normal.
A cirurgia durou três horas e foi muito participada e, principalmente, assistida por profissionais curiosos que quiseram testemunhar a intervenção inédita em Portugal.
Antes desta cirurgia, a equipa liderada por José Fragata assistiu a vários implantes no estrangeiro e preparou a técnica.
“Isto não é um passo de mágica nem uma atitude aventureira de um conjunto de pessoas que decidiram implantar um coração”, esclareceu o médico.
Segundo José Fragata, existe já um doente internado no Hospital de Santa Marta que aguarda por uma cirurgia destas.
Das 20 a 30 pessoas que aguardam por um transplante de coração em Portugal, este coração artificial deverá ser uma resposta para “quatro, cinco ou seis”.
Cada dispositivo custou 100 mil euros, sendo obrigatória a aquisição de dois, num total de 200 mil euros. A este valor acrescem os 7.000 euros que, por norma, custam a produção por doente nesta unidade de saúde.
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