“Se o nosso governo nos tivesse dito para irmos para Donbass, teríamos ido recuperar, mas não nos disse. Nós teríamos capacidade para isso”, afirmou, em entrevista à Lusa, o coronel Valeriy Timovets, que deixou a reforma a 25 de fevereiro (um dia depois da invasão russa) para ajudar a fazer a defesa de Ovidiopol, nos arredores de Odessa, a terceira maior cidade da Ucrânia.

“Somos militares e só fazemos o que o nosso governo nos diz para fazer. Os políticos fazem coisas políticos, os militares fazem coisas militares”, disse o coronel, salientando que nunca existiu essa ordem, por razões diplomáticas.

Donbass é uma zona no leste gerida, desde 2014, por governos locais independentistas em Donetsk e Lughansk que conta com forte apoio militar de Moscovo.

Em 2014, após um período de convulsões internas que levaram à queda de um governo pró-russo que ficaram conhecidas como a Revolta da Dignidade ou Revolta de Maidan, Donbass ganhou a independência de facto da Ucrânia e a península da Crimeia, no sul, foi conquistada por tropas russas.

Na ocasião, muitos militares ucranianos desertaram e entregaram equipamentos à Rússia, num sinal de franqueza que levou muitos analistas a considerar que Kiev não teria condições para resistir no caso de uma guerra global.

Mês e meio após o início da invasão, a Ucrânia não só resistiu como contra-atacou e recuperou nos últimos dias várias cidades, nomeadamente perto de Kiev, surpreendendo a opinião pública.

“Talvez os europeus e todo o mundo pensassem que Kiev iria cair em dois dias, mas isto é uma guerra não apenas dos militares com a Rússia, mas sim de toda a população da Ucrânia, independentemente de serem militares ou não”, afirmou.

“Queremos que esta seja a última guerra da Ucrânia e que os nossos filhos e os nossos netos não tenham de combater”, disse Valeriy Timovets, considerando que é chegado o tempo de Moscovo “retirar as suas forças militares” e negoceie “reparações de guerra”.

Mas “queremos que as forças russas regressem às fronteiras internacionais, sem Donbass e Crimeia”, acrescentou, sublinhando que o exército ucraniano está preparado “para um prolongamento da guerra”, caso seja necessário, até à “libertação de todo o país”.

“Todos os militares da Ucrânia pensam o mesmo: nós temos guerra mas não queremos fazer isto”, explicou.

No final, “vamos vencer, mas também porque temos parceiros ocidentais a ajudar-nos. É muito importante, porque se perdermos irá perder todo o mundo, porque estamos a lutar pela verdade. A claridade vai triunfar sobre as trevas”, resumiu Valeriy Timovets.