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Durante a conferência de imprensa da Direção-Geral da Saúde, Graça Freitas admitiu de que o isolamento obrigatório a pessoas que entrem em instituições, mesmo que testem negativo à Covid-19 é um mal necessário, pois "quem está dentro da instituição vive como se fosse numa bolha isolada do exterior e está protegida", pelo que "hipótese de entrar um vírus nessa instituição é de quem vem de fora".
- A ministra da Saúde, Marta Temido, iniciou a conferência de imprensa da Direção-Geral da Saúde com a informação de que Portugal tem 154 surtos ativos - 60 na região do Norte, seis na região Centro, 66 na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), 10 na região do Alentejo e 12 na região do Algarve.
- Se na região Norte, a ministra atribui os novos casos a surtos ocorrentes em alguns agrupamentos de saúde (como o Cabreira-Gerês e o Feira-Arouca), em LVT os novos casos (59% do total do país) estão sobretudo associados aos contágios verificados no Hospital de Vila Franca de Xira e em duas estruturas residenciais para idosos, em Santarém e em Setúbal.
A ministra sublinhou que se verificaram mais duas mortes, na região de Lisboa e Vale do Tejo, de pessoas com mais de 80 anos: “Isto significa que a nossa taxa de letalidade é agora de 3,2% e acima dos 70 anos é de 15,4%”. De todas pessoas que até à data foram infectadas por Covid-19, há 73,2% que já recuperaram, 23% que estão em casa, 0,6% foram hospitalizadas. A percentagem de óbitos das pessoas já infetadas situa-se portanto nos 3,2%.
- A taxa de incidência para os últimos sete dias no nosso país é de 15,3 de novos casos por 100 mil habitantes e a 14 dias é de 29,7 novos casos por 100 mil habitantes. Quanto ao índice de transmissibilidade, o RT, neste momento é de 1 para os dias 17 a 21 de agosto, verificando-se assim ligeiro decréscimo desde a última atualização. "Isso mostra uma trajetória ascendente que foi interrompida no início de agosto e está agora numa tendência constante", disse a ministra.
- Marta Temido reconheceu ter havido um aumento no número de novos casos (362), mas justificou-o com um possível “atraso nos registos dos últimos dias, que estavam artificialmente mais baixos do que era a realidade”. A contribuir para esta situação, continuou a ministra, terão estado os casos associados aos surtos referidos.
- "Os números de hoje e os anteriores sublinham a fragilidade daquilo que são as nossas conquistas", alertou a ministra. "Temos tido uma situação epidemiológica que tem sido acomodável sob o ponto de vista da resposta do sistema de saúde português, e concretamente do SNS, e isso decorre de um esforço tremendo não só dos profissionais de saúde, mas também de outras estruturas", indicou Marta Temido, referindo a obrigação de "manter comportamentos que honrem este esforço e trabalho desenvolvido" para que, por exemplo, possa haver o regresso à escola e retoma da atividade assistencial normal no SNS.
- No que toca aos mais recentes focos de infeção em lares, Marta Temido indicou que a maioria dos casos "têm origem naquilo que são os movimentos de quem trabalha nessas entidades". Dado que os idosos institucionalizados raramente se deslocam para fora das instalações, "a forma de contágio é decorrente de profissionais que vão e vêm no seu trabalho. Para lidar com esta situação, a ministra referiu que se "tem feito uma política de testagem regular destes profissionais com carácter aleatório" e que se tem aplicado todas as técnicas disponíveis para minimizar o risco sabendo-se que "as pessoas que têm um contacto muito próximo quando estão na prestação de cuidados".
- Quanto à polémica gerada pelo isolamento obrigatório de 14 dias forçado a crianças retiradas às famílias, a diretora geral da Saúde, Graça Freitas, foi perentória: "isolar não é abandonar" e "uma pessoa isolada não é uma pessoa abandonada". A responsável recordou que qualquer pessoa que entre numa instituição para crianças ou para idosos ou numa comunidade terapéutica "carece de um período de isolamento porque quem está dentro da instituição vive como se fosse numa bolha isolada do exterior e está protegida. A hipótese de entrar um vírus nessa instituição é de quem vem de fora".
- Em causa está o facto de que mesmo que o teste à covid-19 dê negativo, uma criança que chegue a um centro de acolhimento tem de estar à mesma em isolamento durante 14 dias. Quanto a isso, Graça Freitas disse que a DGS mantém o respeito pela orientação dada pela Organização Mundial da Saúde de colocar em isolamento de 14 dias qualquer caso de risco, ainda que isso traga "algum tipo de problemas e circunstâncias desfavoráveis à saúde mental" da pessoa isolada. "Temos de balancear os riscos”, justificou.
- Ainda assim, a diretora-geral da Saúde admitiu que a norma que impõe o isolamento de crianças que entram em instituições pode ser alterada se a Organização Mundial de Saúde indicar outro período temporal para o isolamento. “Se se concluir que o período de incubação da doença é inferior a 14 dias, estamos dispostos a rever. Mas, até agora, não há orientações da OMS noutro sentido”, alertou.
- Para além disso, a possível revisão da norma "pode passar por melhorar as condições de isolamento, criando uma atmosfera o mais protetora possível”, observou, admitindo que esta hipótese será mais simples e fácil de aplicar do que aguardar por uma eventual nova orientação da OMS que “pode nem chegar”.
- Outro dos temas abordados foi a avaliação da obrigatoriedade de realização de testes em cada desporto, sendo que várias federações já alertaram não ter dinheiro para tais procedimentos e que isso poderá ditar o fim de algumas modalidades desportivas em Portugal. Graça Freitas deixou claro que "as modalidades não são todas tratadas da mesma maneira, nem em relação aos testes", havendo "uma estratificação de risco". Se nas de alto risco a tendência é para fazerem-se testes e para as de baixo risco não, o problema, admitiu a diretora-geral da Saúde, é a zona cinzenta que ocupam as de médio risco. "Nas de médio risco deve ser avaliada a circunstância especial da modalidade em si, da situação epidemiológica à data em que as competições se fazem. Não é uniforme para todas as competições nem para todas as modalidades.
- Já antes, Marta Temido destacou o "caminho de aproximações” entre as entidades de saúde e as entidades desportivas num "ambiente de trabalho conjunto que tem sido possível manter" e com "a sensibilidade que tem havido da parte de todos". A ministra disse perceber as "dificuldades" que as entidades podem enfrentar, mas que também tem de haver "a compreensão de que não é possível deixar de ter em atenção à fragilidade da nossa situação epidemiológica".
- As questões decorrentes da realização da Festa do Avante! também foram de novo abordadas. Graça Freitas fez saber que a organização do evento "tem já um primeiro documento que já dá muitas orientações e que permite uma boa base de trabalho", sendo que o documento "vai sendo refinado e melhorado entre as instituições envolvidas". A diretora-geral da Saúde sublinhou a natureza "complexa" da Festa do Avante! dado que "a sua tipologia é diferente dos outros eventos, porque num único evento há diferentes setores". Se na zona de restauração aplicar-se-ão as orientações dadas a esse setor, na zona dos palcos serão implementadas as normas para os espetáculos e, por entre as zonas, haverá "circuitos onde as pessoas têm obrigatoriamente de circular para ter acesso a estes pontos". O objetivo final é que "as regras se apliquem em cada tipologia e que nos circuitos de entrada, de saída e na circulação se evitem os aglomerados de pessoas".
- Também relativo à temática do Avante, Marta Temido recusou-se a comentar a providência cautelar que um empresário entregou ao Tribunal do Seixal para impedir a realização do evento, adiantando apenas que "tanto quanto é noticiado, o tipo de providência em causa não tem efeitos suspensivos” e que o Ministério da Saúde irá acatar seja qual for a decisão do tribunal.
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