Numa nota informativa hoje divulgada, a Direção-Geral da Saúde informa que "o processo de avaliação da vacinação contra a COVID-19 das crianças dos 5 aos 11 anos está, ainda, a decorrer".
Segundo a DGS, "a Comissão Técnica de Vacinação contra a COVID-19 (CTVC) encontra-se a analisar as considerações remetidas ontem, durante a tarde, pelo grupo de especialistas em pediatria e saúde infantil, bem como outros documentos relevantes para a elaboração das recomendações, nomeadamente o documento técnico do ECDC sobre esta matéria que foi publicado no dia 1 de dezembro".
O Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) defendeu que pode considerar-se "a vacinação de todas as crianças entre os 5 e 11 anos de idade, tendo em conta a situação epidemiológica a nível nacional", mas que as que têm risco de desenvolver doença grave devem ser consideradas um grupo prioritário.
Acrescenta hoje a DGS que "esta análise da mais recente evidência científica sobre a vacinação destas faixas etárias encontra- se a decorrer também a nível europeu, estando em curso várias reuniões de Autoridades de Saúde congéneres para a discussão deste tema, nas quais a CTVC tem participado".
Assim que "recomendações [nacionais sobre esta matéria] serão tornadas públicas oportunamente", já que "a emissão de recomendações em vacinação é um processo técnico rigoroso baseado numa avaliação de risco-benefício, numa perspetiva individual e de saúde pública", conclui.
Na "Grande Entrevista", na RTP, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, explicou porque defende a vacinação das crianças entre os 5 e os 11 anos: "O grupo dos 0 aos 9 anos é o grupo onde o vírus circula sem nenhuma barreira, circula de forma livre", disse. E "há casos graves de Covid em crianças", sendo que esses casos registam-se entre crianças com doenças prévias (comorbilidades), como também em "crianças saudáveis anteriormente". Graça Freitas salientou ainda que os "isolamentos sucessivos" das crianças com doença ligeira "também têm impacto na saúde mental".
Caso Portugal avance com a vacinação das crianças entre os 5 e os 11 anos, haverá vacinas para "todas as crianças", garantiu.
Recorde-se que a dose pediátrica reúne duas doses de uma fração de 10 microgramas da vacina, um terço do volume da dose administradas em pessoas com mais de 12 anos. As primeiras 300 mil vacinas chegam a Portugal a 13 de dezembro e a vacinação poderá começar logo em janeiro.
No mês passado, a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) divulgou uma informação no seu ‘site’ considerando que as vacinas contra a covid-19 são seguras no grupo etário dos 5 aos 11 anos, mas defendendo que a decisão de vacinar ou não nestas idades tenha em conta outros dados, como a prevalência da infeção nas crianças.
“A vacinação contra SARS-CoV-2 foi avaliada num ensaio clínico em crianças dos 5 aos 11 anos de idade, no qual foram vacinadas 1.517 crianças. Os resultados mostraram que é segura e eficaz contra a covid-19, tal como noutros grupos etários”, considerou a SPP.
No mesmo documento, a SPP lembrava que, nas crianças, a covid-19 “é habitualmente uma doença assintomática ou ligeira e, felizmente, continuam a ser raros os casos graves que obrigam a internamento ou admissão em unidades de cuidados intensivos”.
Sublinhando que as crianças "têm sido fortemente prejudicadas na pandemia devido aos confinamentos sucessivos, que afetam seriamente a sua aprendizagem e saúde mental e aumentam o risco de pobreza e de maus-tratos”, a SPP defende que, provada a segurança e eficácia da vacina, "poderá ser considerada a sua aplicação neste grupo etário, se isso permitir trazer normalidade à vida das crianças".
"A vacinação dos 5 aos 11 anos está a ser avaliada pela comissão técnica da DGS, que tem acesso aos dados em tempo real sobre o número de casos por grupo etário, os surtos nas escolas e ambiente familiar e a seroprevalência neste grupo etário. Na decisão irá certamente pesar a disponibilidade das vacinas no nosso país, bem como a premência de fazer doses de reforço aos adultos de maior risco", refere a informação publicada.
A vacinação nesta faixa etária continua a dividir as opiniões médicas e científicas, com alguns profissionais, entre os quais o presidente do Colégio da Especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos, que considera que “ainda não há evidência (prova) que justifique”.
Na semana passada, em declarações à agência Lusa, Jorge Amil Dias disse que “neste momento não [há dados novos]” que fundamentem uma alteração da estratégia para aquele grupo e ressalvou que, quando se fala em aumento de casos pediátricos de covid-19, “é exatamente disso que se trata: casos, e não doentes".
“Os números que têm sido divulgados de crianças, nomeadamente dos 0 aos 9 anos (…), são crianças identificadas não em internamento hospitalar, não em cuidados intensivos, mas, seguramente na sua grande maioria, por testagem nas escolas, porque houve um menino, uma empregada ou um professor que foi positivo”, disse o presidente do órgão consultivo da Ordem dos Médicos.
O estudo “só avaliou se as crianças desenvolveram anticorpos”, destacou o pediatra. “Não mostrou que esta população ficava mais protegida, não mostrou que tinha diminuído a contagiosidade ou que tinha alterado a epidemiologia”, distinguiu, notando ainda que, “em termos populacionais, é um estudo pequeno [cerca de 2.400 crianças]”.
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