“Para já estou em casa, a trabalhar no terceiro volume do meu último trabalho. Mas é natural que eu venha a escrever sobre esse tema do coronavírus e da minha passagem pelo hospital”, afirmou, em entrevista à Lusa, ao início da noite de quinta-feira, o escritor cabo-verdiano, residente no Mindelo, ilha de São Vicente, vencedor do Prémio Camões em 2018.

O filho do escritor, Nuno Almeida, anunciou entretanto, na sua página oficial na rede social Facebook, que as análises confirmaram "oficialmente" que o teste ao novo coronavírus deram resultado negativo para Germano Almeida.

O escritor cabo-verdiano, de 74 anos, regressou ao Mindelo no sábado, depois de ter participado no festival literário Correntes d’Escritas, realizado de 15 a 23 de fevereiro na Póvoa de Varzim. Diz que no evento matou saudades do amigo e escritor chileno Luís Sepúlveda, entretanto diagnosticado em Espanha com o Covid-19, epidemia provocada pelo novo coronavírus.

“A minha preocupação foi que eu e ele somos amigos antigos e há muito tempo que não nos víamos e ficamos um bocado a conversar. Daí o meu receio, mas estou convencido que não foi nada de grave”, afirmou Germano Almeida, que preventivamente chegou a passar 24 horas internado, em isolamento, no Hospital Dr. Baptista de Sousa, no Mindelo, de onde saiu na terça-feira.

Desde então estava em quarentena voluntária em casa, que é o também o seu habitual escritório.

“Vim de Portugal com gripe. Por uma questão de prevenção fizemos uma quarentena, mas por vontade própria, em casa. Mas não estou a sentir absolutamente nada. Estou ótimo”, garantiu.

Uma quarentena que, diz, pouco teve de diferente da vida que habitualmente faz quando está a escrever, em casa: “Passo semanas sem sair”.

Enquanto aguardava os resultados das análises, lamentou a “forma exagerada” como esta epidemia tem sido tratada na comunicação social.

“Tenho recebido muitas comunicações de Portugal, Cabo Verde e do resto do mundo. Depois, quando digo que estou ótimo, as pessoas riem-se”, ironiza.

O Diretor Nacional de Saúde de Cabo Verde, Artur Correia, disse anteriormente à Lusa que o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, em Portugal, está a realizar as análises ao caso suspeito de novo coronavírus em investigação na ilha cabo-verdiana de São Vicente.

Até ao momento não foram divulgados os resultados dessas análises por parte das autoridades de saúde de Cabo Verde.

Desde que anunciaram na terça-feira o primeiro e até agora único caso suspeito de Covid-19 no país, as autoridades cabo-verdianas, oficialmente, nunca revelaram a identidade do mesmo, assumindo apenas tratar-se de um cidadão cabo-verdiano que esteve num evento em Portugal com um caso confirmado.

O novo coronavírus atingiu já sete países africanos - Argélia, Senegal, Egito, Nigéria, Marrocos, Tunísia e África do Sul.

Cronologia do Covid-19 em Portugal

Recorde-se que os primeiros dois casos em Portugal foram confirmados esta segunda-feira, 2 de março. O primeiro foi o de um homem de 60 anos, médico, que esteve no norte de Itália a fazer férias e cujos sintomas tiveram início a 29 de fevereiro. Ficou internado no Hospital de Santo António, no Porto.

segundo caso é também de um homem, de 33 anos, cujos sintomas tiveram início a 26 de fevereiro. O homem esteve a trabalhar em Espanha e apresentou sintomas ligeiros, tendo ficado internado no Hospital de São João, no Porto.

terceiro e quarto caso foram conhecidos na terça-feira, 3 de março. Segundo a DGS, o terceiro doente trata-se de um homem de 60 anos, de Coimbra, que está no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, e tem ligação a outro caso confirmado para Covid-19. Já o quarto infectado é outro homem, este de 37 anos, internado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, igualmente com ligação a um caso confirmado para Covid-19.

quinto caso, confirmado esta quarta-feira, 4 de março, é o um homem de 44 anos, que esteve recentemente em Itália e está agora internado no Hospital de São João, no Porto. Trata-se de um professor da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto (ESMAE) e a instituição de ensino decidiu suspender as aulas. A Escola Profissional de Artes da Beira Interior, na Covilhã, onde o professor também lecionou, já fez saber que está a avaliar medidas.

sexto caso, também foi confirmado esta quarta-feira, e trata-se de uma mulher no grupo etário dos 40 aos 49 anos que está internada no Hospital Curry Cabral, em Lisboa. A doente é professora numa escola básica da Amadora. A diretora-geral da Saúde disse esta quinta-feira à RTP que a doente é professora na Escola Básica Roque Gameiro, na Amadora. O caso levou à suspensão das aulas para cinco turmas.

Esta quinta-feira foram confirmados mais três casos. O dois primeiros (o sétimo e o oitavo) durante a manhã; são dois homens que estão internados no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto. A Direção-Geral da Saúde (DGS) indicou em comunicado enviado às redações que se trata de dois homens e que a situação clínica de ambos está estável. Num caso o doente tem 50 anos e veio de Itália; noutro, a DGS indica que tem 49 anos e ligação a outro caso confirmado.

Durante a tarde desta quinta-feira, dia 5, foi confirmado o nono caso, o de um homem de 42 anos que esteve em Itália e que se encontra em tratamento no Hospital Curry Cabral, em Lisboa.

Para além dos casos em Portugal, recorde-se que um tripulante português de um navio de cruzeiros está hospitalizado no Japão com confirmação de infeção. Antes, Adriano Maranhão, outro dos portugueses infetados no Japão com o novo coronavírus, teve alta hospitalar a 1 de março.

Em Portugal, quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas — que incluem febre, dores no corpo e cansaço — deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúdeNão se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-geral de Saúde.

As recomendações de saúde para evitar infeções são as seguintes:

  • Lavagem frequente das mãos com detergente, sabão ou soluções à base de álcool;
  • Ao tossir ou espirrar, fazê-lo não para as mãos, mas para o cotovelo ou para um lenço descartável que deve ser deitado fora de imediato;
  • Evitar contacto próximo com quem tem febre ou tosse;
  • Evitar contacto direito com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos;
  • Deve ser evitado o consumo de produtos de animais crus, sobretudo carne e ovos;
  • Caso se dirija a uma unidade de saúde com suspeitas de infeção ou sintomas deve informar de imediato o segurança ou o administrativo.

De referir que a Direção-Geral da Saúde (DGS) lançou um microsite sobre o novo coronavírus (Covid-19), onde os portugueses podem acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo e esclarecer dúvidas sobre a doença.

O Covid-19 é o nome atribuído pela Organização Mundial de Saúde à doença provocada pelo novo coronavírus, que surgiu em Wuhan, na China, no final do ano passado.

Este surto de Covid-19, detetado em dezembro, na China, e que pode causar infeções respiratórias como pneumonia, provocou mais de 3.300 mortos e infetou mais de 95 mil pessoas, incluindo nove em Portugal.

Das pessoas infetadas, mais de 50 mil recuperaram.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o surto de Covid-19 como uma emergência de saúde pública internacional e aumentou o risco para “muito elevado”.