“Está tudo pronto para começar a inquirição dos participantes e seguramente que num prazo máximo de três semanas poderemos dar estas respostas que pretendemos e que penso que vão poder ajudar a modificar a nossa própria forma de atuar”, avançou Henrique Barros na reunião do Infarmed, que está a decorrer no auditório da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e que reúne especialistas e políticos.
Para o epidemiologista, é necessário realizar um estudo caso-controlo, além da atuação que a saúde pública tem na inquirição epidemiológica dos casos, para compreender “os determinantes individuais e sobretudo obter informação que permita dirigir prevenção” e limitar a disseminação da infeção.
“Ao longo destes dois meses trabalhámos na concretização desse estudo” em que comparámos casos incidentes (casos que vão surgindo na comunidade) com a população que vem da mesma base geográfica e demográfica, o que “permite evitar imensos erros que outros estudos desta natureza observacional muitas vezes têm”, explicou.
Uma vez que se sabe qual é o agente e as formas de transmissão da doença, pode perguntar-se o “porquê este estudo”, mas para os investigadores “é preciso conhecer também as circunstâncias em que as infeções ocorrem”.
“O objetivo deste estudo é sermos capazes de dizer dentro de duas ou três semanas quais são os fatores que determinam a infeção”, limitados neste caso à área geográfica da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, e “poder quantificar o contributo desses fatores para a dinâmica da epidemia nesse espaço e nalguns aspetos será possível fazer a generalização daquilo que for observado”.
O que se sabia é que na ausência de uma vacina ou de tratamentos eficazes a contenção da infeção depende da capacidade de interromper a transmissão, que “não é meramente física”, depende também das circunstâncias que favorecem a sua disseminação.
Assim, o estudo irá procurar responder a perguntas como onde existe maior risco de infeção. Será nos transportes coletivos? nos espaços comerciais? nas escolas?
Para o especialista, a capacidade de responder estas perguntas é “muito determinante” porque dá “uma dimensão do peso relativo” e simultaneamente onde “os investimentos preventivos têm que ser mais direcionados”.
A informação será obtida através de um questionário desenvolvido e testado para este estudo, compreendendo um largo conjunto de perguntas que abrangem aspetos de natureza demográfica, social, comportamental e clínica que se prevê estarem relacionados com a ocorrência da infeção.
“A opção por esta metodologia tem a ver fundamentalmente com o caso de os casos estarem dispersos num espaço e em diferentes momentos”, explicou.
Serão inquiridos, pelo menos, 1.000 indivíduos com infeção confirmada, identificados aleatoriamente a partir das bases da Direção-Geral de Saúde, e um número semelhante de controlos (pessoas em risco de contrair a infeção).
“Nós queremos saber porque é que algumas umas pessoas infetam e outras não. Na maior simplicidade, esta é a pergunta, a resposta é que é razoavelmente complexa”, comentou.
O “problema fundamental” que se coloca e que “consumiu muito tempo” foi garantir que “era eticamente inatacável esta forma de obter informação e de realizar a investigação”.
Todas as regras de proteção de dados foram asseguradas por três comissões de ética e pelas instituições envolvidas: Ministério da Saúde, Direção-Geral de Saúde, Instituto Nacional Ricardo Jorge, a ARSLVT, Escola Nacional de Saúde Pública e o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 889 mil mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 1.843 em Portugal.
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