“A não ser que baixemos rapidamente o número de casos [de infeção com o novo coronavírus], corremos o risco de os hospitais atingirem o seu limite”, diz em entrevista à agência Lusa o diretor do departamento de Vigilância do ECDC, Bruno Ciancio.
Numa altura em que se assiste a um aumento exponencial de novas infeções e também de internamentos na Europa, o especialista recorda que, “com o inverno, haverá novos vírus, como é o caso da Influenza [gripe sazonal]”, reforçando que existe um sério risco de os hospitais ficarem saturados”.
“E agora é a altura de aumentar a capacidade de resposta”, apela.
Para Bruno Ciancio, “o desafio” dos países europeus - entre os quais Portugal, que está a registar aumentos no número de internamentos - é agora o de “ter capacidade suficiente nos hospitais e de assegurar tratamento e apoio necessário para os que necessitam”.
“Esta é uma verdadeira preocupação” do ECDC, admite.
Questionado sobre quando se poderá chegar a esse ponto de rutura se os dados continuarem a piorar, Bruno Ciancio explica que “não há dados suficientes para dizer qual é a capacidade total nos Estados-membros”, dado que “após a primeira vaga os países aumentaram-na”.
Ainda assim, insiste que essa possibilidade existe, como aliás se verificou nos primeiros meses da pandemia de Covid-19, entre março e maio.
Mais otimista é o cenário desta segunda vaga em comparação com a anterior, de acordo com o especialista: “Mesmo que haja muito mais casos, ainda estamos com uma mortalidade mais baixa devido à melhor preparação dos sistemas de saúde”.
Em termos concretos, “estamos com cerca de um terço das hospitalizações e mortalidade que tínhamos na vaga da primavera”, precisa Bruno Ciancio.
Continuando nesta comparação entre a primeira e a segunda vaga, o especialista indica que os países europeus estão a “tratar e a gerir melhor estes pacientes” com SARS-CoV-2.
“Houve tratamentos que provaram ser bem-sucedidos em vários ensaios e, de momento, os pacientes que estão hospitalizados com uma doença grave têm maiores probabilidades de sobreviver do que tinham em abril e isso é muito encorajador”, contextualiza Bruno Ciancio.
Também reforçada foi a capacidade de diagnóstico em todos os países, aponta: “Temos muitos mais casos diagnosticados agora do que fomos capazes de detetar na primavera porque agora há uma maior capacidade de testar em todos os países, [além de que] os dados de que dispomos hoje são mais precisos do que na primavera”.
Outra diferença “é que agora notamos que está muito mais espalhado do que na primavera”, assinala ainda Bruno Ciancio, explicando que, nesta segunda vaga, o ressurgimento das infeções “começou quase ao mesmo tempo em todo o lado” na Europa.
Sediado na Suécia, o ECDC tem como missão ajudar os países europeus a dar resposta a surtos de doenças.
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