O grupo de Investigadores de sete institutos/departamentos da Faculdade de Medicina (Universidade de Lisboa) e de outras instituições, como o Instituto Ricardo Jorge e a Universidade Católica, dizem que os dados disponibilizados pela Direção Geral da Saúde (DGS) são “bastante consistentes”, mas defendem que se a recolha de informação fosse mais fina permitia “análises mais complexas”.

“Quanto mais fina for a informação, melhor. Gostávamos de ter mais datas, como, por exemplo, a data de morte. (…) Havendo pistas de que há mutações [do vírus], seria importante ter esse tipo de informação. Isso já permitia fazer outras abordagens”, disse agência Lusa o investigador principal do estudo, Paulo Nogueira.

O investigador do laboratório de biomatemática do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, aponta ainda como importante para dar continuidade a esta análise, sobretudo com a evolução da pandemia, a recolha de dados relativos à obesidade nos doentes e aos hábitos tabágicos.

“Se os dados nos chegarem, continuaremos a fazer a análise e a tentar produzir a maior evidência que os dados permitem”, diz o investigador, reconhecendo que a recolha de informação precisa de ser “afinada” em Portugal para que “em momentos de crises se consiga cruzar melhor os diferentes sistemas de informação”.

Lembrou ainda que os investigadores aguardam que a DGS disponibilize os restantes dados – este estudo apenas analisou os primeiros 502 óbitos por covid-19, até abril -, para que possam dar continuidade ao trabalho.

Este estudo, o primeiro publicado numa revista científica internacional (revisto pelos pares) sobre os dados de 20.293 pacientes com COVID-19 em Portugal, concluiu que a idade é o fator que maior peso tem na mortalidade. Só depois surgem as comorbilidades (doenças que a pessoa já tinha quando foi infetada).

“Estávamos à espera que houvesse uma ou outra doença que aumentasse drasticamente o risco de morte. O que nos surpreendeu foi que é mais a idade do que as doenças preexistentes que aumenta o risco”, disse.

“Já sabíamos que a idade tem um papel importante, mas estávamos a espera que as doenças associadas tivessem um papel muito importante e, surpreendentemente, não teve um impacto tão grande quanto esperávamos”, acrescentou.

Paulo Nogueira sublinha, contudo, que normalmente as pessoas com mais idade são as que apresentam comorbilidades, mas diz que “nem sempre essa ligação é tão direta”.

“Precisamos de perceber melhor os mecanismos da doença”, afirmou o lembrando que se concluiu, apesar no número reduzido de doentes cardíacos que morriam com covid-19, que a doença cardíaca aumenta o risco.

O investigador destacou também o risco apresentado pela doença renal e das doenças das desordens neuromusculares.

O estudo analisou os dados de 20.293 pessoas infetadas com SARS-CoV-2 em Portugal entre 01 de janeiro e 21 de abril. Destas, 11.903 (58%) eram mulheres e 8.390 (41,3%) homens.

A maioria dos casos (60,2%) eram da região Norte e a maior parte dos casos (77,4%) não precisou de ser hospitalizada. Quanto ao internamento em cuidados intensivos, apenas 1,3% (261) dos doentes analisados precisou deste tipo de assistência médica e apenas 26 doentes precisaram de apoio respiratório com ventiladores (0,1%).

Quando às doenças preexistentes, a mais comum observada foi a diabetes (5,1%), seguida pelas doenças neuromusculares (3,4%) e as doenças pulmonares (3,4%).

“Sendo um dos primeiros estudos na Europa não apenas a identificar as principais comorbilidades associadas à letalidade da covid-19, mas também para incluir um modelo para indivíduos com ausência de doenças preexistentes em mais de 20.000 casos, essa pesquisa representa uma importante referência potencial para estudos futuros”, destacam os autores.

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