"Parece que as coisas estão a ir no bom sentido, mas não podemos fazer de conta que não se passou nada, que o mundo volta a ser como era e decretar o fim da epidemia como se decreta um feriado no país", salientou hoje Henrique Barros.
O também presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que falava à Lusa a propósito da declaração da Associação de Escolas de Saúde Pública da Região Europeia (ASPHER) sobre a covid-19, lembrou que é fundamental a população "não esquecer" os cuidados de higiene que tem vindo a adotar.
"Não podemos voltar a não limpar as mãos ou superfícies. Se tivermos essa atitude, para o ano vamos ter menos infeções respiratórias e ser mais saudáveis", defendeu.
Henrique Barros, que é um dos signatários da declaração da ASPHER, lembrou que, à semelhança dos cuidados de higienização, é também fundamental as pessoas, os países e a Europa "reconhecerem o papel da saúde pública e dos seus profissionais".
"A gente só se lembra da saúde pública quando ela falta. Ora, uma pandemia como esta, de caráter internacional, é o momento em que as pessoas se lembram da saúde pública. Portanto, agora que estão a ver para que é que servimos, lembrem-se que não se podem esquecer", referiu, acrescentando que os profissionais de saúde, um pouco por toda a Europa, não estão, "tanto como deviam", a ser incluídos na tomada de decisão.
Henrique Barros afirmou que em Portugal tem sido feito "um esforço sincero" para incluir, nesta crise, o "contributo da ciência, e, em particular, das universidades".
"A ciência é como um fluxo, se estiver viva, as soluções aparecem em qualquer momento, se não estiver a funcionar, ou não tivermos feito há algum tempo investimento, os cientistas não se readaptam", esclareceu.
Paralelamente, e também em consonância com a declaração da ASPHER, Henrique Barros defendeu a necessidade de as decisões, neste momento de crise serem alinhadas com as da Organização Mundial de Saúde (OMS).
"Se cada um faz como lhe apetece, corremos o risco de alguns estarem a fazer melhor, mas corremos o risco de muitos estarem a fazer muito pior. O ideal é que haja ponderação quando se chega a uma decisão, para que ela seja acatada por todos", referiu, lembrando a questão da utilização de máscara.
"As máscaras refletem um problema que é tradicional da saúde pública. A saúde pública não é uma ciência, é uma arte que vai buscar informações a muitas ciências e é preciso lembrar que a ciência não tem resposta, nem solução para tudo", afirmou, defendendo que a utilização da máscara é inerente à cultura e às tradições de cada povo.
"No Oriente, usar uma máscara é sinal de respeito pelo outro e eu aproximo-me do outro porque é um sinal de que ele está preocupado com a minha saúde. No nosso Ocidente, quando passamos com alguém com máscara, fugimos porque achamos que está doente e que nos pode fazer mal", exemplificou.
Henrique Barros salientou ainda que não há "objetivamente informação suficiente" para dizer se as máscaras protegem a população de uma contaminação pelo novo coronavírus.
"Não há objetivamente informação suficiente para dizer que as máscaras nos protegem verdadeiramente nesta circunstância, mas já há estudos a dizer que as máscaras improvisadas são piores do que não usar e que mal-usadas é um caldo de cultura [de vírus]" concluiu.
Por forma a manter-se “alinhado” com o Conselho Nacional de Saúde, e “não fazer ruído”, Henrique Barros preferiu não comentar a prolongamento do estado de emergência e as novas medidas implementadas no país.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 940 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 47 mil.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 209 mortes, mais 22 do que na quarta-feira (+11,8%), e 9.034 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 783 em relação à véspera (+9,5%).
Dos infetados, 1.042 estão internados, 240 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 68 doentes que já recuperaram.
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