A CPLP é “uma marca pouco conhecida”, considerou, em entrevista à Lusa, o diplomata Juliano Féres Nascimento, nomeado pelo ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro para o cargo, que assumiu em Lisboa já sob a governação do atual chefe de Estado do seu país, Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro.
“A gente criou uma organização, mas ainda está a gatinhar no processo de criar essa marca. A gente fala das marcas nacionais, da marca Brasil, da marca Portugal, que dá um pouco a característica e a identidade desses países”, referiu.
Mas, acrescentou, “a CPLP ainda não conseguiu isso”.
Para o embaixador, em ambientes diplomáticos ou multinacionais, a força da marca CPLP “já é muito presente por causa da articulação que os países conseguem ter nesses espaços”. E não só nas Nações Unidas ou na Organização Mundial de Saúde, mas tamném nas organizações regionais, destacou.
“O fator de diferença da CPLP para outros arranjos desse tipo é que a sua presença é mundial, está na América do Sul, África, Ásia e Europa. E cada região tem a sua combinação (…) de arranjos políticos e económicos e a CPLP consegue dialogar com todos”, salientou, exemplificando que a CPLP “tem diálogo” com a União Africana, o Mercosul, a união dos países sul-americanos, a União Europeia.
“No campo da concertação político-diplomática, nós temos alguns objetivos que são muito evidentes, e esses objetivos, em geral, têm a ver com valores que são compartilhados, que vão além da língua compartilhada, que são valores democráticos, valores de prosperidade, valores de crescimento e desenvolvimento sustentável. Então nesses fóruns é fácil”, acrescentou.
A CPLP, mencionou, consegue uma posição comum e “é reconhecida por essa posição comum”.
Já em “outros arranjos”, onde se tem de conseguir primeiro internamente alcançar a concertação para depois apresentar uma posição comum, nem tudo é tão fácil, explicou.
Para tornar a CPLP conhecida além destes fóruns, o embaixador brasileiro, que também já trabalhou com o Presidente Lula da Silva, disse que são precisas ações de marketing.
“É difícil, não é uma tarefa óbvia, porque é evidente que o dado original da CPLP é a língua comum. Todos nós falamos português. Aí, ainda que você possa fazer algumas críticas e dizer que alguns dos países da CPLP têm línguas nativas diferentes do português, a oficial e a comum a essas várias línguas é o português, então isso já é um dado”, destacou.
Por isso, quando se “quer projetar a imagem da organização, o trabalho que se faz confunde-se um pouco com a promoção da própria língua”.
E “o problema” para o embaixador é que “muitas vezes” a CPLP não “associa a promoção da língua à promoção da organização”.
“As coisas não andam juntas. Você consegue muitas vezes promover a língua. A gente tem conseguido que o português seja reconhecido como língua oficial em várias organizações internacionais. O português é das línguas mais faladas ou mais utilizadas (…) no mundo digital. Então é um fator obviamente de projeção e de divulgação, mas não é necessariamente um fator de divulgação da organização”, considerou.
Pelo que, no seu entender, “a organização precisa de um trabalho muito específico no que diz respeito à marca” que começa por procurar que se identifique o logotipo da CPLP.
“O logotipo tem que estar presente e de maneira destacada em toda e qualquer atividade onde a língua também seja divulgada”, referiu.
Da mesma maneira, entende que o símbolo deve ser destacado quando estão envolvidos mais que um país lusófono: “Quando você tem mais de um país a fazer uma ação cultural, a marca da CPLP tem que estar ali”, frisou.
Em contrapartida, salientou, vários países e entidades são observadores associados da comunidade (um total de 33), ou outros que nem sequer têm esse estatuto, “pedem para usar na sua atividade, no seu evento, porque veem na marca da CPLP agrega valor para a atividade que estão a desenvolver”.
“Estou aqui desde janeiro e nas 67 reuniões em que eu já participei do grupo da CPLP, a gente já avaliou mais de 20 ações da sociedade civil – não estou falando de ações do governo, – que nos pedem para usar a marca da CPLP na sua atividade”, exemplificou.
A CPLP, que integra Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, realiza a XVI conferência de chefes de Estado e de Governo, em São Tomé e Príncipe, no próximo domingo, sob o lema “Juventude e Sustentabilidade”.
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