A iniciativa, revelou hoje a REN, resulta de um protocolo assinado com a Universidade de Évora (UÉ) no âmbito de um projeto mais vasto e pioneiro, o LIFE LINES - Redes de Infraestruturas Lineares com Soluções Ecológicas -, coordenado pela academia alentejana e que envolve outros seis parceiros.

O protocolo entre a REN e a UÉ visa o “estudo e conservação de comunidades de animais debaixo das linhas de transporte de energia”, adiantou a empresa, realçando que a parceria permite criar “verdadeiras ‘ilhas de biodiversidade’ debaixo dos postes”.

Contactado hoje pela agência Lusa, António Mira, professor do Departamento de Biologia da UÉ e coordenador do LIFE LINES, explicou que o projeto envolve “algumas ações de conservação em apoios [postes] de linhas de muito alta tensão”, pelo que “foi pedido o apoio da REN” e a empresa “achou muito interessante e mostrou-se disponível” para colaborar.

Em termos práticos, indicou, as medidas envolvem “a criação de refúgios e de corredores para espécies de pequeno porte”, graças ao aproveitamento do “espaço debaixo dos postes.

“Como os postes da REN estão a 400 ou 500 metros uns dos outros, podem funcionar muito bem como pequenas ‘ilhas de biodiversidade’, como locais de paragem e de descanso para espécies que se estejam a mover na paisagem e que precisem de algum refúgio”, acrescentou.

A parceria, disse, já arrancou no terreno, “a nível experimental”, com a realização de sementeiras, constituídas por “plantas de pequeno porte e alguns arbustos”, nesses espaços e a instalação de “vedações nos postes”, para impedir a aproximação do gado que é pastoreado nessas zonas.

“Estas zonas estão sempre muito rapadas. Por isso, vedámos, semeámos e, por não haver ali a perturbação do pastoreio, criámos condições para se formar uma espécie de ilha de vegetação diferente de tudo o que está à volta” e que vai criar um habitat, capaz de atrair “borboletas, musaranhos, ratinhos, insetos e aves”, frisou.

Segundo o docente, “as pessoas acham que estas pequenas espécies não são importantes, mas, com esta experiência nova, pedacinho a pedacinho, contribuímos para a biodiversidade e para os serviços de ecossistemas que este conjunto de espécies, a que nem damos muita atenção, nos presta a todos, por exemplo para a purificação da água”

Os investigadores, referiu António Mira, estão agora a repor alguma da vegetação semeada e que possa ter morrido e a atualizar alguma vedação, arrancando, depois, a fase de monitorização, para constatar se as “ilhas” atraem pequenos animais e “de que forma isso contribui, a nível regional, para a biodiversidade”.

Segundo a REN, a parceria envolve a colaboração dos proprietários dos terrenos atravessados pela linha Palmela-Évora e Estremoz-Divor.

O LIFE LINES é um projeto exclusivamente português e envolve, além da UÉ e agora também da REN, a Infraestruturas de Portugal, as câmaras de Évora e Montemor-o-Novo, a Associação de Desenvolvimento Local Marca e as universidades de Aveiro e do Porto (Faculdade de Ciências).

A iniciativa pretende ensaiar, avaliar e disseminar medidas de mitigação aplicáveis às infraestruturas lineares (ferrovias, estradas e linhas de transporte de energia) em várias espécies e, simultaneamente, promover a criação, ao longo das mesmas, de uma Infraestrutura Verde de suporte ao incremento e conservação da biodiversidade.