"Temos que nos manter firmes, organizados e mobilizados com o orgulho de ter conseguido uma vitória histórica a 28 de julho e a consciência de que para cobrar [a vitória] também vamos até o fim", declarou Machado num vídeo que divulgou nas redes sociais.

"O mundo verá a força e a determinação de uma sociedade decidida a viver em liberdade", acrescentou a líder da oposição, que também pediu que a bandeira venezuelana fosse hasteada nesse dia em sinal de descontentamento.

Mais cedo, em um artigo de opinião no Wall Street Journal, Machado declarou-se na "clandestinidade", após Maduro pedir a sua prisão e do candidato presidencial Edmundo González Urrutia.

"Estou a escrever isto da clandestinidade, enquanto temo pela minha vida, pela minha liberdade", afirmou.

Desde segunda-feira, protestos contra a reeleição de Maduro para um terceiro mandato de seis anos deixaram pelo  menos 11 civis mortos, segundo organizações de defesa dos direitos humanos, e há mais de mil detidos.

Maduro acusou na quarta-feira Machado e González Urrutia de serem responsáveis por atos violentos. "Vocês têm as mãos sujas de sangue", disse. "Deveriam estar atrás das grades", acrescentou.

Depois das eleições de domingo, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro vencedor da eleição, com 51% dos votos contra 44% de González Urrutia. A oposição assegura que possui cópias de mais de 80% das atas e que seu candidato obteve 67% dos votos.

Machado diz temer pela sua vida

A líder da oposição venezuelana María Corina Machado disse na quinta-feiraque passou à "clandestinidade" na Venezuela porque teme por sua vida, no momento em que aumentam as ameaças de prisão, após suas denúncias de fraude envolvendo a reeleição do presidente Nicolás Maduro.

Machado reivindica uma vitória esmagadora para seu candidato, o diplomata Edmundo González Urrutia, e afirma ter provas para demonstrar o que considera ser um roubo nas eleições. Os dois apareceram em público pela última vez na terça-feira, em uma concentração que reuniu milhares de pessoas em Caracas.

"Escrevo isso a partir da clandestinidade, enquanto tema pela minha vida, pela minha liberdade", expressou Machado num artigo de opinião no Wall Street Journal. Uma fonte opositora disse à AFP que Machado "está em segurança".

Horas depois, a líder da oposição publicou um vídeo convocando protestos em "todas as cidades" do país para o sábado.

"Temos que nos manter firmes, organizados e mobilizados", disse Machado, sem anunciar se participará nos protestos. "O mundo verá a força e a determinação de uma sociedade decidida a viver em liberdade".

Protestos eclodiram em Caracas e outras cidades após a proclamação da vitória de Maduro na segunda-feira, os quais deixaram 11 mortos até o momento, segundo ONGs de direitos humanos.

O Ministério Público relatou mais de 1.000 detenções.

Machado pediu pelo "cessar imediato da repressão" nos protestos para alcançar "um acordo urgente que facilite a transição para a democracia".

Já González Urrutia tem se mantido fora das redes sociais por quase 24 horas.

Maduro responsabilizou Machado e González Urrutia pela violência durante os protestos e disse que os opositores "deveriam estar atrás das grades". "Têm as mãos sujas de sangue", declarou o presidente.

"Muito assédio"

A autoridade eleitoral ainda não divulgou os resultados detalhados de domingo, segundo os quais Maduro foi reeleito com 51% dos votos contra 44% de González Urrutia. Enquanto isso, a pressão internacional por uma contagem transparente aumenta.

Machado lançou um site com cópias das atas de votação que afirma provar a vitória da oposição, algo que chavismo classificou como montagem.

O supremo tribunal convocou Maduro, González Urrutia e outros oito candidatos minoritários nas eleições na sexta-feira para iniciar uma "investigação" ao aceitar um recurso apresentado pelo mandatário no poder para "certificar" os resultados.

"Estarei lá, espero que todos os candidatos participem", declarou Maduro num comício.

A oposição denunciou, durante os últimos meses da campanha, uma perseguição contra líderes antichavistas, com uma centena de detenções. "A maior parte de nossa equipe está escondida (...). Eu poderia ser capturada enquanto escrevo essas palavras", indicou Machado ao WSJ.

Seis dos colaboradores mais próximos da popular opositora, que não foi candidata após uma inabilitação política, estão abrigados na embaixada da Argentina, cuja proteção passou nesta quinta-feira ao Brasil, após a expulsão do pessoal diplomático argentino do país.

Nos últimos dias, a eletricidade foi cortada da representação argentina, segundo denúncias de opositores.

Medo de delações

Caracas retomou parcialmente a sua normalidade. O comércio começou a abrir e os transportes públicos voltaram a funcionar após dias de grande incerteza devido aos protestos que transformaram a capital numa espécie de cidade fantasma.

"A vida está a normalizar-se, já há bastante gente na rua", indicou à AFP Reinaldo García, de 55 anos, no gigantesco bairro de Petare.

No entanto, o ambiente em geral é de temor. Num edifício de um bairro de classe média, os vizinhos fazem sinais para se calar quando o assunto das eleições surge: temem ser delatados e presos.

Maduro ordenou um destacamento de segurança para evitar o que considerou um golpe de Estado por parte da oposição "fascista". O presidente até criou uma seção dentro de uma aplicação de programas sociais para denunciar "os criminosos que ameaçaram o povo" para "ir atrás deles, para que haja justiça".

As Forças Armadas, por sua vez, têm demonstrado a sua posição de "absoluta lealdade e apoio incondicional" a Maduro, "legitimamente reeleito".

"Evidência esmagadora"

A reeleição de Maduro acendeu alertas no mundo, com apelos por maior transparência na apresentação dos resultados e o temor de que se repita uma nova onda migratória, aumentando a diáspora de 7,5 milhões de pessoas que, segundo a ONU, saíram do país desde 2014 para fugir da crise.

Machado disse no seu artigo que "cabe à comunidade internacional decidir se tolera ou não um governo comprovadamente ilegítimo".

Os governos do Brasil, Colômbia e México, três países governados por presidentes de esquerda próximos a Maduro, exigiram nesta quinta-feira que as autoridades da Venezuela avancem "de forma expedita" na divulgação das atas eleitorais e permitam uma "verificação imparcial dos resultados" das eleições presidenciais de 28 de julho.

"Acompanhamos com muita atenção o processo de escrutínio dos votos e fazemos um pedido às autoridades eleitorais da Venezuela para que avancem de forma expedita e divulguem publicamente os dados desagregados por mesa de votação", assinalaram os governos em comunicado conjunto.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, disse num comunicado que há "evidência esmagadora" da vitória de González Urrutia, a quem reconhece como o vencedor das eleições venezuelana.