A demissão da liderança será formalizada na sexta-feira, 07 de junho, para que a eleição comece na semana seguinte.

Numa declaração à porta da residência oficial, em Downing Street, a primeira-ministra disse ter feito o possível para convencer os deputados a aprovar o acordo que negociou com Bruxelas para fazer o Reino Unido sair da União Europeia, mas que, "infelizmente", não conseguiu.

Rangel diz que demissão de May “aumenta complexidade” do processo

"Acho que isto aumenta a complexidade do 'Brexit' e da questão britânica. Mas era algo expectável depois do seu plano ter sido derrotado três vezes. E o quarto plano para o 'Brexit' ainda foi mais controverso que os anteriores. Acho que ela não tinha grandes soluções. Isto vai tornar a questão muito delicada e difícil", sustentou Paulo Rangel.

O candidato social-democrata, que falava aos jornalistas no Porto à margem de uma visita ao i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, considerou que a "União Europeia tem tido um comportamento exemplar" nesta matéria, mas admitiu que a "imprevisibilidade britânica" pode "exasperar ou desesperar" alguns estados-membros.

"Há um ou outro estado-membro que, uma vez ou outra no discurso, se exaspera ou desespera com esta hesitação, esta constante imprevisibilidade britânica. Acho que devemos ter uma atitude como Portugal tem, uma atitude que o PSD apoia, de abertura e flexibilidade ao Reino Unido", referiu Paulo Rangel.

O cabeça de lista social-democrata apontou que mesmo com um cenário de eleições europeias ou com uma mudança de liderança no partido conservador, a qual, perspetivou, "só estará terminada no final de julho", esta situação é "mais um fator de insegurança e incerteza na vida europeia e em particular na vida do Reino Unido".

"Não digo que são boas ou más notícias porque não nos compete a nós comentar a política do Reino Unido, mas acho que só vem mostrar que o 'Brexit' e a saída da Europa é uma espécie de história interminável que se torna dificilmente gerível e vai criar mais dificuldades aos países europeus", referiu.

Quanto a culpas, Rangel frisou que do seu ponto de vista quer Bruxelas, quer o negociador chefe da União Europeia, Michel Barnier, têm tido uma "atitude impecável", apontando que foi o Reino Unido quem "desde o início que se atrasou no desenho de decisões".

"É um problema interno do Reino Unido. Devemos dar todas as chances para que o Reino Unido tenha uma saída com acordo ou até posa vir a revogar, isso seria o ideal, a sua saída. É difícil de acontecer, mas não é impossível", concluiu.

Francisco Guerreiro: Demissão de May mostra que referendo "não apontava claramente para uma saída"

“O que se viu neste processo do ‘Brexit’ foi uma onda de populismo em torno de problemas falsos que depois levaram a uma escolha, que é justa, mas que não apontava claramente para uma saída”, sublinhou Francisco Guerreiro, à margem da greve climática estudantil, que decorreu em Lisboa.

O cabeça de lista do PAN às eleições para o Parlamento Europeu (PE), de domingo, considerou que declaração da chefe do Governo britânico mostra que “será muito difícil” concretizar o processo de saída de um país da União Europeia.

Para o primeiro candidato, a solução é outra: “Tem de haver um debate sobre propostas, concreto, com medidas exatas e sobre que futuro da Europa é que nós queremos”, vincou, acrescentando que “o PAN te tem um futuro muito bem definido”.

Por essa razão, Francisco Guerreiro assegurou que, caso o partido eleja eurodeputados, “vai entrar na família dos verdes europeus”.

Nuno Melo: Demissão de May e 'Brexit" são sinais preocupantes

“O 'Brexit' é um sinal muito nítido de um momento muito preocupante”, afirmou Nuno Melo, em Penafiel, distrito do Porto, minutos depois de ser conhecida a demissão de May, em Londres, à margem da primeira ação de campanha eleitoral para as europeia de domingo.

Sem comentar a situação interna no Reino Unido, o eurodeputado preferiu analisar a saída da primeira-ministra no contexto europeu e enquadrar o ´Brexit’ no quadro das eleições para o Parlamento Europeu, que se realizam no domingo em Portugal.

“Essa demissão neste dia mostra e ajuda a perceber tudo aquilo que está em jogo nestas eleições europeias”, disse, pelo impacto e “confusão” que o ‘Brexit’ terá, com um “impacto muito incerto quer para os britânicos quer, seguramente, para a UE.

E lembrou que o Reino Unido é um mercado com 70 milhões de consumidores, um aliado na Europa, “potência que ajudou à vitória das democracias”, alertando para os extremismos que é preciso combater no continente europeu através do voto nestas eleições.

“Quem valoriza quem somos, quem aposta neste espaço comum, que é de partilha de livre circulação de bens, pessoas, capitais, de oportunidades, de fim de fronteiras, tem mesmo que votar e é por isso que eu também digo quem quer combater o extremismo não se pode abster, porque os extremismos estarão todos nas urnas”, disse.

Rui Tavares: Anúncio de demissão de PM britânica realça a "tragédia do 'Brexit'"

“A história de Theresa May é a história de políticos que tentaram levar a cabo as mentiras que disseram aos seus cidadãos”, disse Rui Tavares, à margem da greve climática estudantil, que decorreu hoje em Lisboa.

O cabeça de lista pelo Livre nas eleições para o Parlamento Europeu (PE) considerou que “é a tragédia do ‘Brexit’” e que se tornou um projeto “impossível de obter”.

“O Livre alertou para ela [a impossibilidade de o Reino Unido sair da UE] e houve partidos, alguns deles à esquerda, que nas suas convenções disseram que Portugal devia fazer um referendo igual. Que não se devia chorar uma lágrima pelo fim da União Europeia”, recordou, concluindo que esses mesmos partidos hoje estão a ver “quem chora lágrimas por um projeto em que foram vendidas mentiras aos cidadãos britânicos”.

Rui Tavares sublinhou também que “qualquer partido que se meta a tentar concretizar um ‘Brexit’ de acordo com critérios que em 2016 foram falsamente vendidos aos britânicos” estaria a tentar consumar algo que “é evidentemente mentira”.

Na opinião do primeiro candidato do Livre, o exemplo do Reino Unido deve servir de exemplo aos eurocéticos portugueses: “A saída do euro seria um erro trágico para Portugal.”

Marques preocupado com processo de saída "duro" após demissão de May

"Naturalmente preocupa-me que esta demissão de Theresa May possa significar que os 'hard brexitiers', dentro dos conservadores, as pessoas que querem um 'Brexit' duro, ganhem força", disse aos jornalistas, à chegada a Moscavide, onde inicia hoje o último dia de campanha.

Para o cabeça de lista socialista, a demissão de May, que deverá efetivar-se a 10 de junho, significa que a Europa está "mais longe de um 'Brexit' com acordo", ainda que Pedro Marques tenha a "secreta esperança" de que o Reino Unido venha a permanecer na União Europeia.

"A Europa tem que ser mais forte perante estas adversidades, perante este risco da saída do Reino Unido, reafirmando sempre a sua vocação atlântica", afirmou, defendendo que é nos momentos de incerteza que se deve ter o cuidado de não cair em "aventureirismos".

Considerando que, agora, "a bola está do lado do Reino Unido", Pedro Marques lembrou que a Europa fez um acordo "muito extenso", propondo "várias modalidades", e disse esperar que, perante as "várias possibilidades", os britânicos não escolham o 'Brexit' descontrolado.

"Caso venham a decidir sair, que decidam por um 'Brexit' com acordo, que proteja as relações comerciais entre o Reino Unido e a Europa, a circulação das pessoas, dentro dos limites que estão estabelecidos, protegendo assim também os portugueses que estão no Reúno Unido e o turismo aqui no nosso país", concluiu.

Vasco Santos: Demissão de May é consequência de um referendo "apoiado em populismo e demagogia"

“O ‘Brexit’ era apoiado em populismo e demagogia”, vincou Vasco Santos, à margem da greve climática estudantil que decorreu em Lisboa, acrescentando que “é verdade que quem escolheu [a saída do Reino Unido da União Europeia] estava perante uma campanha feita até pela própria extrema-direita”.

O primeiro candidato do MAS nas eleições para o Parlamento Europeu (PE) considerou que, no que diz respeito ao referendo para o ‘Brexit’, foi apoiada “uma sensação popular de que esta Europa não funciona, esta Europa não serve os seus interesses”.

“Esta extrema-direita quer nos levar para um problema ainda maior”, sublinhou.

Ainda assim, o cabeça de lista do MAS considerou que “os povos devem ter direito à escolha do seu destino”, mas que, no caso do ‘Brexit’, “não é uma solução quando é apoiado nesta demagogia”.

A solução é uma reforma da UE que crie “uma Europa para os povos e que serve os povos” e que “esta não serve os interesses da maioria [da população]”.

Marisa Matias: Demissão é apenas o último episódio de uma enorme trapalhada

"Eu creio que demissão é apenas o último episódio da enorme trapalhada em que se transformou o 'Brexit'", disse Marisa Matias aos jornalistas.

Lembrando que participou na campanha pela permanência a convite dos trabalhistas, a primeira candidata do BE ao Parlamento Europeu considerou que o referendo "foi na realidade uma jogada do Partido Conservador britânico e que foi apoiada pelos socialistas e pela direita europeia".

"O que não pode acontecer é uma saída sem acordo porque isso põe em causa muitos dos cidadãos portugueses e europeus que vivem no Reino Unido e também cidadãos do Reino Unido que vivem na União Europeia. O que é importante é que se respeite os resultados do que foi obtido no referendo", defendeu.

Para Marisa Matias, "há uma confusão enorme e o 'Brexit' é um sintoma da confusão em que se transformou a União Europeia", para a qual têm contribuído "as famílias políticas que têm estado à frente da União Europeia".

"O que é fundamental é não perdermos o foco. O foco aqui é que uma saída sem acordo não serve a ninguém", avisou.

Como "a vontade do povo foi expressa e foi a da saída", para a eurodeputada do BE "é preciso um acordo que proteja os cidadãos europeus que vivem no Reino Unido e os cidadãos do Reino Unido que vivem noutros países".

"Houve um referendo e nós temos muitas histórias já de se repetir referendos até ter resultados diferentes. Não está aqui em causa aquilo que é a nossa vontade pessoal", avisou.

E agora, Reino Unido?

A primeira-ministra britânica mantém-se em funções até que o partido tenha eleito um novo líder, o que não deverá acontecer até ao final de julho, incluindo durante a visita de Estado do presidente dos EUA, Donald Trump, entre 03 e 05 de junho.

Enquanto primeira-ministra, não pode renunciar até que esteja em posição de dizer à rainha Isabel II quem esta deve nomear como sucessor.

A demissão da liderança deverá tornar-se efetiva a 10 de junho, iniciando os procedimentos, que passam, numa primeira fase, por uma série de votações dentro do grupo parlamentar que eliminam progressivamente os vários candidatos a apenas dois, que depois serão sujeitos ao voto de todos os militantes do partido.

May já tinha prometido em março que iria sair, mas na altura pediu para "acabar o trabalho", assumindo como missão implementar o resultado do referendo de 2016 que determinou o ‘Brexit'.

Mas a pressão sobre Theresa May aumentou nos últimos dias, incluindo dentro do Governo e de deputados até agora fiéis, devido à perspetiva de o acordo de saída da União Europeia (UE) ser chumbado no parlamento por uma quarta vez.

Apresentada na terça-feira, a nova proposta de lei para o ‘Brexit’ estava prevista para ser votada a 07 de junho e incluía como novidade a possibilidade de voto sobre um novo referendo, o que desagradou a vários ministros.

As três anteriores propostas de ‘Brexit’ negociadas pela primeira-ministra britânica com Bruxelas foram rejeitadas por maiorias parlamentares, conduzindo a um impasse que obrigou Londres a prolongar o prazo de saída da União Europeia até 31 e outubro.

(Notícia atualizada às 16h53)

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