A ex-funcionária, que desafiou assim o gigante das redes sociais com 2,8 bilhões de utilizadores em todo o mundo, é uma especialista em dados, de 37 anos, do Iowa, formada em engenharia da computação e mestre em negócios por Harvard. A "whistleblower" (denunciante) será um das oradoras da edição deste ano da Web Summit.

Nick Clegg, vice-presidente do Facebook para assuntos globais, também fará parte do evento que se realiza novamente em formato presencial, em Lisboa, de 1 a 4 de novembro.

Frances Haugen revelou-se como a responsável pelo fornecimento dos documentos que deram origem a uma investigação do Wall Street Journal, acionando uma audição no Senado sobre os efeitos negativos do Instagram nas adolescentes.

Na entrevista ao programa da CBS “60 Minutos”, no domingo à noite, Frances Haugen insistiu que “o Facebook, repetidamente, mostrou que prefere o lucro à segurança” das pessoas.

Dois dias depois, na subcomissão de Comércio do Senado norte-americano, a denunciante acusou o gigante das redes sociais de ter conhecimento de danos aparentemente causados ​​a adolescentes pelo Instagram e de ser "desonesta na sua luta pública contra o ódio e a desinformação".

Frances Haugen fez uma ampla condenação do Facebook, sustentada por dezenas de milhares de páginas de documentos de pesquisa interna que copiou secretamente antes de deixar o seu emprego na empresa.

A denunciante esclareceu que está a fazer tais revelações porque acredita que “os produtos do Facebook prejudicam as crianças, alimentam a divisão e enfraquecem a democracia” norte-americana.

“A liderança da empresa sabe como tornar o Facebook e o Instagram mais seguros, mas não fará as alterações necessárias porque isso poderá colocar em risco os seus lucros astronómicos”, referiu Frances no seu depoimento no Senado.

De acordo com a especialista em dados, um estudo interno do Facebook indicou que 13,5% das adolescentes admitiam que o Instagram tornava piores os pensamentos suicidas e 17% das adolescentes reconheciam que piorava os transtornos alimentares.

“A empresa oculta intencionalmente informações vitais ao público, ao governo norte-americano e aos governos em todo o mundo”, acusou Frances Haugen no seu depoimento.

Facebook nega

Numa declaração, uma das diretoras de comunicações políticas do Facebook, Lena Pietsch, disse que a empresa discorda da descrição da denunciante feita perante o Senado e tentou desacreditar a sua versão, salientando que a denunciante só trabalhou no Facebook durante dois anos.

"Ela só trabalhou no Facebook durante dois anos; não tinha empregados sob o seu controlo; nunca assistiu a uma reunião com a direção onde fossem tomadas decisões; e ela própria testemunhou em mais de seis ocasiões que não trabalhava nas questões de que falava", disse Pietsch.

Na mesma linha, outro dos diretores de comunicações políticas da empresa, Andy Stone, disse no Twitter que Haugen "não trabalhou em questões de segurança infantil ou Instagram ou investigação sobre estas questões" e, portanto, "não tem conhecimento direto" da questão.

O porta-voz do Facebook, Joe Osborne, também insistiu que a denunciante "não sabe" do que está a falar, neste caso referindo-se à acusação de que a rede social desativou logo após as eleições todas as medidas de prevenção que tinha implementado antes das eleições presidenciais norte-americanas do ano passado.

"Isso é incorreto. Mantivemos várias medidas até 6 de janeiro, e acrescentámos novas medidas após a violência que teve lugar no Capitólio", disse Osborne, referindo-se à invasão do Capitólio por milhares de apoiantes do então Presidente Donald Trump.