Inundações da Póvoa do Varzim a Beja, e voos cancelados e desviados da Madeira devido ao vento. O país está todo em alerta devido as efeitos da depressão “Daniel”, que tem provocado chuva e rajadas fortes, assim como agitação marítima, esperando-se que o tempo agreste se prolongue até ao final da semana.

"Vamos ter dois episódios diferentes” e pelo meio até haverá uma pausa, explica Ângela Lourenço, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

O primeiro, que começou ontem e cujos efeitos se têm prolongado hoje “é essencialmente um sistema frontal que está associado à depressão ‘Daniel’”, provocando uma “situação marcada por chuva, vento e agitação marítima fortes" que “acaba hoje, eventualmente amanhã", aponta a meteorologista.

O aviso laranja depois de um dia de intervalo

Terça-feira será então um dia onde ocorrerá uma “situação de intervalo” onde “o vento vai diminuir de intensidade” e “se calhar vamos ter boas abertas, o sol pode aparecer e os aguaceiros serão pouco frequentes”, descreve Ângela Lourenço.

Mas isso será, literalmente, sol de pouca dura, já que o segundo episódio meteorológico decorrerá logo no dia seguinte. "Entretanto, vai surgir a norte dos Açores uma nova depressão", de seu nome “Elsa”, que vai "afetar inicialmente os Açores" no dia 18, explica a técnica do IPMA. Como tal, já foram “emitidos avisos de vento” para a região, até porque, indica Ângela Lourenço, “o nível laranja de rajada é que é o critério para nomear uma depressão".

O aviso laranja é o segundo mais grave de uma escala de quatro e é emitido quando as condições meteorológicas representam “risco moderado a elevado”, segundo o website do IPMA.

Já ao longo de dia 18 e 19, Portugal continental e Madeira vão começar a ser afetados pois "a depressão entretanto vai deslocar-se no sentido leste”, sendo que o que vai provocar o mau tempo "não é a depressão diretamente, mas as ondulações frontais que lhe estão associadas", indica a meteorologista.

Para a população em geral, o dia de quarta-feira será objeto de cautela, mas os maiores riscos recaem na quinta-feira. “O dia 18 será um dia bastante crítico do ponto de vista de precipitação, mas o 19 parece-me que será um dia mais gravoso, porque para além da chuva, vai ter também vento e agitação marítima na costa portuguesa toda, incluindo a costa sul do Algarve”, prevê Ângela Lourenço.

Inicialmente, tinha sido lançado um alerta quanto a quarta-feira ser o dia de maior risco, mas "a situação mudou ligeiramente com a informação que neste momento temos disponível", pelo que "é preciso ter alguma cautela porque estas situações extremas, ou muito severas, por vezes sofrem uns ajustes mais próximo do dia", justifica a técnica do IPMA.

Os fenómenos climatéricos extremos em Portugal

Uma depressão, recorda Ângela Lourenço, é “uma região da atmosfera com valores baixos de pressão atmosférica", sendo um “centro de ação” de características opostas às de um anticiclone, que é uma zona de “máximo de pressão atmosférica". Sem querer entrar em grandes tecnicidades, a meteorologista adverte que as depressões "nem sempre trazem mau tempo” mas que, por vezes, “as características que lhes são associadas são de tempo severo".

Quanto à possibilidade de tendencialmente estarem a surgir mais fenómenos desta natureza em Portugal, a técnica sublinha que, para os meteorologistas, a variabilidade de ano para ano torna “muito difícil dizê-lo de forma simples e definitiva".

Disso é exemplo o ano passado, lembra a meteorologista, onde “tivemos até uma situação de um inverno relativamente seco", o que até foi um dos motivos para levar o país a entrar em situação de seca em outubro deste ano.

Mas se a variabilidade é normal ocorrer de ano para ano, a técnica do IPMA concede que as alterações climáticas podem estar a influenciar a forma como Portugal é afetado. "O que as projeções das alterações climáticas apontam é para o aumento dos episódios de fenómenos extremos", podendo haver “situações severas mais vezes”, explica Ângela Lourenço.

Isso não implica, porém, que se fale exclusivamente de chuva, pois “os fenómenos extremos também podem significar o oposto, ou seja, seca, ondas de calor, períodos em que não chove", frisa a meteorologista.