Numa reunião extraordinária da comissão parlamentar de Defesa, que decorreu à porta fechada, sobre a situação de conflito entre a Ucrânia e a Rússia, João Gomes Cravinho defendeu que "depois desta guerra, será necessário estabelecer com a Rússia um novo entendimento sobre a paz na Europa”, de acordo com uma declaração escrita, enviada à Lusa.

Na opinião do governante, “terá de ser um entendimento baseado em princípios essenciais de respeito pela integridade territorial e soberania dos diferentes países” e terá que “ter em conta aquilo que são as legítimas necessidades de segurança de cada um”.

“E sublinho aqui que falo de necessidades legítimas e razoáveis, não falo daquelas que se inventam como desculpa para invadir e procurar subjugar os vizinhos”, frisou.

“Haverá um momento em que voltaremos a ter com o estado russo as mesmas razões amistosas que temos com o povo russo. Não sabemos ao certo quanto tempo durará a guerra, não sabemos quando será possível estabelecer de novo as bases para a confiança mútua e a convivência sã com a Rússia, mas devemos sempre ter em conta que esse tem de ser o nosso objetivo de fundo”, sublinhou.

João Gomes Cravinho considerou que “não há qualquer tipo de cerco à Rússia, o que há é a criação de mecanismos de proteção indispensáveis para a salvaguarda da integridade territorial dos Aliados” e que Vladimir Putin “procura justificar o injustificável”.

“Dizendo nomeadamente que se trata de uma operação defensiva porque a adesão da Ucrânia à NATO representava uma ameaça à segurança da Rússia. Trata-se de uma tese sem a mais pequena sustentação. Desde 2008 que não há nenhuma discussão na NATO sobre a adesão da Ucrânia. Nada permite pensar que iria haver alguma alteração nessa matéria. O argumento de que a NATO se preparava para expandir para a Ucrânia é absolutamente falso”, sustentou.

Apontando que o dia da invasão da Ucrânia pela Rússia “representa um momento transformativo no panorama estratégico europeu”, Gomes Cravinho lembrou que no quadro da NATO haverá um novo Conceito Estratégico em junho, na Cimeira de Madrid.

“É natural que o novo Conceito Estratégico venha a refletir claramente a necessidade de mantermos toda a atenção na defesa territorial dos países da Aliança. Novas ameaças cibernéticas ou híbridas serão seguramente tidas em conta, mas estamos todos muito conscientes de que as velhas ameaças que estiveram presentes na fundação da NATO mantêm-se infelizmente relevantes na nossa realidade contemporânea”, sublinhou.

Também no âmbito da União Europeia há um reforço da “necessidade de se desenvolver uma identidade europeia de defesa”, não em concorrência com a NATO, mas em complementaridade, acrescentando que "a invasão russa da Ucrânia permitiu tornar claro que a complementaridade entre a NATO e a União Europeia é uma fonte de tremenda força para ambos".

Cravinho terminou a sua intervenção vincando que “o ataque da Rússia contra a Ucrânia é um ataque contra a ordem internacional, e é muito em particular um ataque contra a ordem de segurança na Europa”.

“Congratulamo-nos com a lucidez com que todos os nossos aliados reagiram, convictos de que uma vitória de Putin na Ucrânia seria uma garantia de instabilidade e insegurança para todos nós. É por isso que importa garantir que por mais vitórias militares que Putin possa ter, ele tem de sair derrotado desta terrível aventura que iniciou. E acredito que assim será”, disse.