No momento em que se soube da demissão, na Praça Tahrir, em Bagdade, epicentro dos protestos que exigem há dois meses uma reforma do sistema e a renovação de uma classe política corrupta e incompetente, a multidão explodiu de alegria, informou um correspondente da AFP no local.

O aiatolá Ali Sistani, figura crucial da política iraquiana, defendeu esta sexta-feira a substituição do governo, após um dos dias mais violentos do movimento de protesto, que já deixou mais de 400 mortos.

Desta forma, o líder religioso xiita, de 89 anos, expressou pela primeira vez o seu apoio inequívoco aos manifestantes, que desde outubro exigem a queda do regime e a renovação da classe política, que acusam de corrupta, de ignorar a população e de reprimir os protestos com violência.

Pouco depois do sermão do aiatolá Sistani, um manifestante faleceu em Nasiriya, cidade do sul do país, o que elevou a mais de 400 o número de vítimas fatais em dois meses de protestos.

Na quinta-feira, 46 manifestantes morreram e quase mil ficaram feridos em várias localidades do país, na região sul e em Bagdá.

"O Parlamento do qual surgiu o governo atual está convocado a repensar a opção que tomou naquele momento e a atuar pelo bem do Iraque, para preservar a vida dos seus filhos e evitar que o país afunde na violência, no caos e na destruição", disse Sistani num sermão lido por um dos seus auxiliares na cidade de Kerbala.

O movimento de protesto deseja o fim do sistema político criado pelos americanos após a queda de Saddam Hussein, em 2003. Os manifestantes consideram que o país é manipulado pelo Irão, que ganhou influência em relação aos Estados Unidos nos últimos anos.

Desde 01 de outubro que dezenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas, indignados com o que acusam de corrupção generalizada, com a falta de oportunidades de emprego e com os serviços básicos pobres, apesar da riqueza em petróleo do país.

O movimento de contestação exige uma reforma do sistema político e a renovação completa do Governo que, em 16 anos, desviou 410 mil milhões de euros, um valor equivalente a duas vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Iraque, segundo dados oficiais.