Entre balizas de futsal e tabelas de basquetebol, o ginásio do quartel dos Bombeiros Voluntários de Sacavém transformou-se em albergue temporário para 14 famílias, constituídas por 37 pessoas - 20 adultos e 17 menores -, que lá pernoitam há quatro noites consecutivas, após o incêndio que deflagrou no domingo no antigo paiol em Sacavém, concelho de Loures, distrito de Lisboa.

Junto aos poucos pertences que restaram do incêndio e dos bens que entretanto lhe disponibilizaram, como colchões do ginásio, mantas, roupas e fraldas de bebé, Ester Fardares, que ficou desalojada do antigo paiol, onde vivia desde 2013, lamentou a falta de resposta do Governo e dos serviços de apoio ao imigrante para encontrar uma solução habitacional.

“A única solução que nos deram foi vir para aqui, nos bombeiros de Sacavém”, contou a jovem Ester, que é mãe solteira de um bebé de um ano e duas crianças de 09 e 12 anos, e que se encontra desempregada.

Segundo a moradora, a Câmara Municipal de Loures se tem preocupado em resolver a situação.

Visivelmente emocionada, sem conseguir conter as lágrimas, a jovem desalojada contou que foi viver para o antigo paiol em Sacavém por não conseguir pagar a renda onde vivia antes, tendo sido despejada pelo senhorio.

“Como estava abandonado, fomos para lá, porque necessitávamos”, indicou, referindo que com o rendimento social de inserção (RSI), no valor de cerca de 400 euros, não consegue arrendar uma casa no mercado livre.

A jovem desempregada está preocupada com o futuro da família, explicando que “as crianças estão com trauma”, porque durante o fogo não tiveram tempo de tirar nada.

Durante uma visita do presidente da Câmara de Loures, Ana dos Santos Sousa, que também se encontra desalojada, interpelou o autarca, no sentido de exigir uma solução habitacional, uma vez que “não sobrou nada” da casa onde vivia no antigo paiol.

“Queremos ajuda, que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro António Costa nos ajudem nesta situação. A situação está terrível, ajudem-nos por favor”, apelou.

Segundo o presidente da Câmara de Loures, Bernardino Soares, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai receber o autarca e alguns dos desalojados, na próxima segunda-feira, notícia que trouxe a esperança às famílias.

Vindo de São Tomé e Príncipe, João Fernandes, estava a ocupar, desde há sete anos, as instalações do antigo paiol, onde vivia com a mulher e as duas filhas.

Antes do incêndio, a família tinha a esperança de lhe ser atribuída uma casa, porque “a Segurança Social foi lá ao bairro, registou o pessoal que estava lá e numerou as casas”.

“Havia essa esperança, que vão legalizar-nos e dar-nos uma casa”, contou, explicando que não tem dinheiro para arrendar.

A pernoitar no ginásio do quartel dos bombeiros, João Fernandes disse que as noites são “atormentadas com passarinhos na cabeça como quem estivesse debaixo de um aqueduto”, já que há ninhos em todos dos cantos da cobertura do ginásio.

“Vamos esperar, não sabemos o que senhor Presidente nos vai dizer, por isso temos esperança que possa fazer alguma coisa pela gente. Se o senhor tem um projeto para tirar mendigos da rua, o senhor não quer que mais alguém se transforme em mendigo”, disse à Lusa João Fernandes, referindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa, que “não é só de Portugal, é de São Tomé, é de Cabo Verde, é do mundo”.

“O senhor Marcelo Rebelo de Sousa é o presidente do mundo”, reforçou.

Sentada sobre o colchão, onde dorme no ginásio, Carla da Luz assume que “nem devia estar” nesta situação, explicando que é doente e tem um aparelho no coração.

“Estou aqui por uma questão de abrigo, a gente não tem onde dormir, a gente também não pode dormir na rua ao ar livre. Estamos aqui à espera”, indicou, reclamando uma casa para poder “sair deste chão” do ginásio.

“Qualquer dia o meu aparelho para aqui e encontram-me morta. Estão à espera que a gente morra primeiro para depois fazerem alguma coisa pela gente”, contestou Carla da Luz.

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