Num estudo publicado na revista iScience, um grupo de cientistas revela que acredita ter encontrado os restos mortais de um corpo que, segundo a saga de Sverris, de 1197, foi atirado para o poço do castelo de Sverresborg, nos arredores de Nidaros, atualmente a cidade central norueguesa de Trondheim.

"Embora não possamos provar que os restos mortais são do indivíduo mencionado, as evidências circunstanciais são consistentes com essa conclusão", escreveram os investigadores.

"Eu diria que há uma grande probabilidade de que este seja o homem – não apenas com base nas datas, mas também porque todo o contexto corresponde", disse a arqueóloga Anna Petersén, que liderou o trabalho de escavação, à emissora pública NRK.

Segundo o The Guardian, a saga relata a vida do ambicioso rei norueguês Sverre Sigurdsson, que ascendeu ao poder no final do século XII durante um período de instabilidade política e guerra civil, que continuou durante décadas mesmo após a sua morte, em 1202.

Com 182 versos, acredita-se que a saga foi escrita, na época dos eventos aos quais se refere - e em parte sob a supervisão do rei -, por um abade islandês, próximo de Sverre.

Numa passagem são descritos acontecimentos vividos na época como, por exemplo, o ataque de inimigos católicos à fortaleza do rei, em Sverresborg, em 1197. No dia do ataque, e na ausência do monarca, que estaria em Bergen, o castelo foi roubado e todas as moradias foram destruídas.

A saga conta que as forças inimigas, conhecidas como "Bagler", entraram no castelo por uma porta secreta, enquanto as forças defensoras, conhecidas como "Birkebeiner", estavam a comer.

Os inimigos "roubaram todos os bens que estavam no castelo e queimaram todas as casas", lê-se na saga de Sverris. "Eles agarraram num homem morto e mandaram-no de cabeça para o poço. Depois empilharam-no de pedras até ficar cheio".

Segundo alguns historiadores, se o incidente realmente aconteceu, o homem morto deveria ser um Birkebeiner, que os agressores mataram e utilizaram para humilhar o rei ou para contaminar a água do poço, uma das primeiras formas de guerra biológica.

Em 1938, um grupo de arqueólogos escavou o poço e encontrou, a cerca de 7 metros e enterrado sob múltiplas camadas de pedras, um esqueleto humano.

No entanto, durante a segunda guerra mundial, o exército alemão ocupou a área e o "homem do poço" ficou no mesmo lugar.

Em 2014 e 2016, um grupo de investigação, liderado por Petersén, retomou a escavação e, debaixo de novos montes de lixo despejados no poço pelos nazis, conseguiram exumar, parcialmente, os restos mortais que ali permaneciam, identificando um homem com idade entre os 30 e os 40 anos.

Com cerca de 1,75 metros de altura, o homem não teria um pé, nem o braço esquerdo. Já o crânio, encontrado separado do corpo, tinha um ferimento contundente e alguns cortes, que deverão ter sido infligidos antes de o homem morrer.

Através da combinação de dados literários, históricos, arqueológicos e científicos, os cientistas descobriram mais sobre o homem.

A datação radiométrica do esqueleto sugeriu "uma idade convencional de 940, mais ou menos 30 anos", descreveram os investigadores no artigo, o que corresponde à data do ataque ao castelo de Sverrisborg, conforme escrito na saga de Sverris.

A equipa tentou sequenciar o genoma do homem a partir dos seus ossos, mas o ADN não estava suficientemente preservado. De forma a contornar a situação e obter resultados, Martin Ellegard, da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, conseguiu uma amostra de ADN de um dos dentes do homem.

A análise revelou que o indivíduo tinha um tom de pele médio, cabelos loiros ou castanhos claros e olhos azuis.

Com a ajuda da empresa islandesa deCode Genetics, a equipa comparou os resultados com o genoma dos noruegueses, descobrindo que o homem seria do sul da Noruega, o que surpreendeu os cientistas, uma vez que os homens de Sverre eram, por norma, do centro da Noruega.