Esta é a edição de 14 de agosto de 2020 do Planeta A, um espaço do SAPO24 dedicado às alterações climáticas e aos temas relacionados com o ambiente e a preservação do planeta.

1. Devemos dar nomes às vagas de calor como damos aos furacões?

Quando ouve falar em furacões muito provavelmente lembra-se imediatamente de alguns nomes, como os devastadores Katrina ou Harvey. Mas ao mencionar ondas de calor o mais comum é que se lembre vagamente de alturas em que estava mais calor. Contudo, apesar de os furacões atraírem bastante atenção pública, as ondas de calor são três vezes mais letais, de acordo com o National Oceanic and Atmospheric Administration (EUA). Tornam-se ainda mais mortíferas em locais onde a condensação de ar é menor, como a onda de calor europeia de 2003 que causou 70 mil mortes.

Uma nova iniciativa sugere que devemos dar nomes e classificar as ondas de calor, tal como fazemos com os furacões, de modo a promover uma maior consciencialização dos perigos destes fenómenos e na esperança que traga mais recursos financeiros para as detectar e mitigar e, assim, salvar vidas.  A Organização Meteorológica Mundial explica: “Atribuir nomes a tempestades torna mais fácil para os media falarem sobre o assunto, aumentando o interesse em avisos e a preparação da comunidade”.

“Esta crise de calor extremo não pode mais ser o 'assassino silencioso' que é”, disse Kathy Baughman McLeod, diretora do Centro de Resiliência da Fundação Adrienne Arsht-Rockefeller. “Este risco crescente - e soluções relacionadas - deve ser dito num megafone para os decisores políticos e para as pessoas em todos os lugares”.

Para ler na íntegra:

CBS: Should we name heat waves like we name hurricanes?

2. Não podemos viver confinados, mas podemos aproveitar e começar uma nova etapa

O efeito que o confinamento teve a nível ambiental revelou que mudanças rápidas e efetivas nos nossos comportamentos podem fazer uma grande diferença a curto prazo, mas é impossível manter períodos de quarentena indeterminadamente. Por isso, são necessárias mudanças na economia enquanto um todo, transformando cada sociedade em economias de emissão zero, o que passa por políticas como tornar os transportes, edifícios e indústrias mais verdes com energia renovável, hidrogénio ou capturando e enterrando CO2.

Durante o período de isolamento social, houve uma grande quebra nas emissões de gases de efeito de estufa: as emissões globais de CO2 diminuíram em mais de 25% no mês de abril de 2020 e os óxidos de nitrogénio (NOx) em 30%. Mas, de acordo com um artigo do The Guardian realizado a partir de um novo estudo publicado do jornal Nature, essa redução não terá resultados com impacto a longo prazo. 

Segundo estes dados, este é - mesmo, apesar de já tantas vezes dito - um momento de “tudo ou nada” para evitar o aumento das temperaturas globais para 1.5ºC até 2050, devendo partir dos governos a inciativa de financiar os programas de sustentabilidade, planos de recuperação e redução dos combustíveis fósseis.

“Esta é uma oportunidade única de realmente mudar a sociedade. Não precisamos de voltar para onde estávamos, porque os tempos de crise também são a hora de mudar”, sublinhou o investigador que liderou o estudo, Piers Forster.

Para ler na íntegra:

The Guardian: Covid-19 lockdown will have 'negligible' impact on climate crisis – study

Nature: Current and future global climate impacts resulting from COVID-19

Traffic is seen along a road in Beijing on July 30, 2020. (Photo by WANG ZHAO / AFP) créditos: AFP or licensors

3. Há um “superpoluente” emitido por fábricas chinesas que equivale a "todos os veículos de passageiros na Califórnia (...) bem como às emissões de todos os carros em Pequim e Xangai"

Durante anos, fábricas chinesas de ácido adípico, um ingrediente chave do náilon e do poliuretano, materiais que são usados em tudo (desde peças de automóveis até ténis de corrida) despejaram óxido nitroso, um gás de efeito de estufa 300 vezes pior que o dióxido de carbono na atmosfera. Em meados dos anos 2000, um programa da ONU ajudou estas fábricas a reconverterem-se e as emissões passaram a ser quase zero. 

De acordo com um relatório da ONU, a redução das emissões de óxido nitroso apenas na fábrica estatal Henan Shenma Nylon Chemical Company foi equivalente a retirar um milhão de carros da estrada.

Contudo, em 2012, o programa da ONU que apoiou esta reconversão deixou de ser financiado. As fábricas afirmaram que continuavam a mitigar as emissões, mas, de acordo com uma longa investigação do Inside Climate News, isso não aconteceu. 

Hoje, as emissões coletivas das fábricas são provavelmente iguais a "todos os veículos de passageiros na Califórnia (...) bem como as emissões de todos os carros em Pequim e Xangai".

Para ler na íntegra:

Inside Climate News: ‘Super-Pollutant’ Emitted by 11 Chinese Chemical Plants Could Equal a Climate Catastrophe

This aerial view taken on August 8, 2020 shows leaked oil being pushed by currents towards the Island of Aigrettes, near the Pointe d'Esny, coming from the vessel MV Wakashio, belonging to a Japanese company but Panamanian-flagged, that ran aground near Blue Bay Marine Park off the coast of south-east Mauritius. - France on August 8, 2020 dispatched aircraft and technical advisers from Reunion to Mauritius after the prime minister appealed for urgent assistance to contain a worsening oil spill polluting the island nation's famed reefs, lagoons and oceans. Rough seas have hampered efforts to stop fuel leaking from the bulk carrier MV Wakashio, which ran aground two weeks ago, and is staining pristine waters in an ecologically protected marine area off the south-east coast. (Photo by - / AFP) créditos: AFP or licensors

4. Mil toneladas de óleo derramadas no Oceano Índico

Cerca de mil toneladas foram derramadas de um navio-petroleiro japonês depois de chocar contra um recife do arquipélago da Ilha Maurícia, no Oceano Índico. Os moradores locais estão a fazer cones de absorção a partir de canas-de-açúcar e a usar o próprio cabelo, que cortaram voluntariamente, numa tentativa de impedir a propagação do óleo. 

Alguns locais disseram que começaram a encontrar peixes mortos bem como aves marinhas cobertas em óleo, aumentando o medo de uma catástrofe ambiental. Apesar de o navio, que esteve encalhado numa praia do arquipélago durante duas semanas, ter parado de derramar óleo, estão ainda 2 mil toneladas de óleo em outros dois tanques não danificados. Foi declarado o estado de emergência ambiental e o primeiro ministro do país, Pravind Jugnauth, disse que se está a preparar para o “pior cenário possível. É evidente que em algum momento o navio vai desmoronar”.

Para ler na íntegra:

Al Jazeera: Mauritius PM: Brace for 'worst-case scenario' after oil spill

Festival Política
Festival Política créditos: DR

5. Por cá: Festival Política 2020 dedicado ao ambiente e tem Brasil como país foco

Esta edição do festival, que arrancou na quinta-feira, é totalmente dedicada ao ambiente e propõe-se a debater a sustentabilidade, convidando a repensar a sociedade atual e os moldes em que gerimos os ecossistemas. Até 16 de Agosto o programa prevê várias atividades gratuitas como cinema, conversas, debates, concertos, workshops ou arte. Tal como em edições anteriores, o festival decorre no Cinema São Jorge, em Lisboa. 

Pela primeira vez, o evento terá um país em foco: o Brasil. Em vários momentos da programação haverá atividades dedicadas ao país, como por exemplo a atuação da dupla Venga Venga, a performance de Viton Araújo e André Dez “Saravá Palavrá” ou o debate “O que se passa no Brasil?”. 

Mas há também espaço para outros temas, como “A exploração da gente para a exploração da terra”, com moderação do da equipa do podcast Fumaça; sessões de cinema com os vencedores dos Green Film Network Awards, a exibição de “Injustiça”, o grande vencedor Ambiente da última edição do CineEco, um espetáculo com Diogo Faro e a exposição da artista Carolina Maria. 

A co-directora artística do Festival Política, Bárbara Rosa, reforça que “um festival que exalta as liberdades jamais poderia ser suspenso numa época de assinalável enfraquecimento de muitas delas. Através das artes e do debate, este ano a reflexão foca-se no Ambiente tendo em vista, mais uma vez, alcançar o objectivo principal do festival: adubar o pensamento crítico democrático que subjaz à transformação social que o mundo reclama”.

Poderá consultar a programação em: https://festivalpolitica.pt/


Covering Climate Now é uma iniciativa global de jornalismo que une centenas de órgãos de comunicação social comprometidos em trazer mais e melhor jornalismo sobre aquele que se configura como um tema determinante não apenas no presente, mas para o futuro de todos nós: as alterações climáticas ou, colocando de outra forma, a emergência climática.

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