Num protesto que até começou silencioso, acabaram por ser ouvidas frases de ordem como “a praça é nossa” e “não queremos contentores”.
Várias dezenas de pessoas juntaram-se a partir das 14:30 na Praça do Martim Moniz, no centro da cidade, num protesto convocado pela Associação Renovar a Mouraria para exigir a suspensão imediata das obras na praça, ao qual se juntaram várias outras organizações.
De acordo com a presidente da associação, Inês Andrade, marcaram presença no protesto o Grupo Gente Nova, a coletividade do bairro, o Grupo de Moradores da Rua dos Lagares e o Movimento Morar em Lisboa, além da comunidade local, moradores e trabalhadores da zona.
“Um dos objetivos desta iniciativa é demonstrar o descontentamento da comunidade, dos moradores e dos trabalhadores relativamente a um projeto que foi a concessão desta praça a um privado para desenvolver um projeto comercial, que não vai ao encontro do que a população deseja”, referiu Inês Andrade, sublinhando que “já existe um excesso de oferta comercial e demasiada pressão turística”.
A responsável indicou que se pretende “um projeto diferente e participado, que a comunidade possa ser ouvida e ter força para decidir o que deve ser a praça” do Martim Moniz.
“As pessoas não concordam com o projeto que está a ser feito e sentem-se pouco ouvidas pela Câmara”, referiu à Lusa Catherine Morisseau, uma participante no protesto, acrescentando que “as pessoas querem um espaço onde possam usufruir da cidade, sem vedação, sem comércio e com espaços verdes e de lazer; as pessoas querem árvores e um jardim aberto a todos”.
No mesmo sentido, Paulo Lopes, que mora perto do Martim Moniz, referiu que “as pessoas não querem que a praça se torne mais um espaço comercial com contentores no meio”.
“As pessoas querem um espaço verde e a possibilidade de virem aqui com as suas crianças, mas esta ideia de comercialização dos espaços públicos é um problema”, referiu.
Também a participar no cordão humano, Ernestina Simões, moradora da Graça, lamentou a descaracterização da cidade.
“O objetivo é não destruírem a cidade como têm andado a fazer. Começámos pela Senhora do Monte, vamos aqui e qualquer dia não temos cidade. Isto foi uma coisa tão repentina que nem deu para ninguém pensar. Sabia que isto já estava entaipado porque vi do miradouro senão nem sabia”, comentou.
Por volta das 16:00, o cordão humano deu a volta à praça, com um cartaz em que se lia “A Câmara Municipal de Lisboa tem o dever e a obrigação de respeitar a democracia e a vontade dos lisboetas”.
O mesmo cartaz, de longa extensão, indicava ainda: “Queremos um jardim público. Lisboa não está à venda. Lisboa é de todos nós”.
Esta semana, o presidente da autarquia, Fernando Medina (PS), esclareceu que "o projeto de contentores" ainda não está licenciado e que o licenciamento será ainda votado em reunião do executivo.
Medina referiu também que esse projeto incluirá o parque infantil - contributo que resultou do debate público -, o aumento da área pública e maiores responsabilidades na limpeza e segurança pelo concessionário, que foi uma condição do município.
“O executivo irá apresentar um plano para ser votado, mas ainda não há acesso a esse plano e não se sabe ao certo se mantém ou não os contentores”, comentou Isabel Pires, deputada do BE, presente no protesto.
“Lamentamos que até agora não tenha ido para a frente a auscultação à população”, acrescentou.
João Gonçalves Pereira, vereador do CDS-PP, também marcou presença. “Tenho falado com várias pessoas no sentido de recolher opiniões, mais do que informações. Não faz sentido gerir uma cidade e ter iniciativas numa cidade contra os lisboetas e para isso é preciso envolvê-los”, referiu.
No mesmo sentido, João Pedro Costa, vereador do PSD, comentou que “é saudável perceber que há um conjunto de associações que são capazes de ter opinião sobre a cidade, estando desligadas dos partidos políticos”, e defendeu que “é absolutamente necessário não avançar” com o projeto, que considerou “uma opção de péssima gestão pública”.
“Gostaríamos que o Martim Moniz fosse discutido e respondesse às expectativas das pessoas”, indicou, por seu turno, Ana Jara, vereadora comunista.
“Queremos a suspensão desta obra até toda a gente ter a informação que o PCP tem, mas que os outros grupos não têm até agora. Queremos que o projeto seja aberto, pensado e participado e responda aos desejos e necessidades destas comunidades”, acrescentou.
A requalificação da praça do Martim Moniz vai custar três milhões de euros e as obras deverão terminar no verão, segundo um representante do concessionário.
[Notícia atualizada às 19:34]
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