O gabinete do primeiro-ministro, António Costa, informou hoje que apresentou hoje de manhã a candidatura do ministro das Finanças, Mário Centeno, à presidência do Eurogrupo.

Depois disto, o ministro das Finanças convocou os jornalistas para uma conferência de imprensa no ministério, em Lisboa, para dizer que pretende dar "um contributo construtivo", mesmo que "crítico às vezes", para "encontrar caminhos alternativos" na União Europeia.

Questionado sobre como pretende defender no Eurogrupo as suas posições críticas quanto às regras orçamentais europeias, nomeadamente quanto ao cálculo do saldo estrutural, Centeno foi perentório: "Vamos ter esse contributo construtivo, crítico às vezes, que permite encontrar caminhos alternativos (...) Nunca abdicaremos da nossa posição, mas estaremos sempre a acompanhar os consensos que forem feitos porque foi assim que as instituições europeias evoluíram".

A reação do primeiro-ministro veio de Abidjan, na Costa do Marfim, onde decorre a cimeira entre a União Europeia e a União Africana, tendo defendido o líder do executivo que esta candidatura procura estabelecer consensos e "reunir todos" à volta dos desafios que a moeda única europeia enfrenta e das reformas de que precisa.

À direita, o PSD ainda nada disse e, pelo CDS, Assunção Cristas disse apenas que a opinião do partido sobre o ministro das Finanças "não muda" depois deste anúncio, deixando críticas à sua atuação.

"Não entendo que o ministro das Finanças em Portugal tenha desenvolvido ou esteja a desenvolver um trabalho efetivamente relevante do ponto de vista da transparência, do ponto de vista da forma como atua, daquilo que diz aos portugueses", afirmou a presidente do CDS-PP, reconhecendo, no entanto, que "é um aspeto positivo" ter um português num "lugar relevante" na Europa.

À esquerda, Ângelo Alves, da comissão política do Comité Central do PCP, garantiu que a candidatura do ministro das Finanças à presidência do Eurogrupo não irá 'beliscar' o horizonte de cumprimento da atual legislatura.

"Esta candidatura não altera os pressupostos com que iniciámos esta legislatura no âmbito da posição conjunta. Há acordo relativamente a determinadas matérias bem definidas e que a realidade está a demonstrar que foram muito positivas para o desenvolvimento da situação e da vida dos portugueses", disse Ângelo Alves na sede nacional do partido, em Lisboa.

O comunista referiu que "há outras matérias em que há desacordo [com o PS], que se mantém e é de fundo", acrescentando que "este caminho de submissão à União Europeia não irá permitir a resolução de problemas estruturais com que o país se continua a debater".

Pelo Bloco de Esquerda, Catarina Martins desvalorizou a candidatura, afirmando que, se vier a desempenhar o cargo, isso "não significa nada em concreto para Portugal".

"Ter ou não ter um responsável português à frente de uma instituição europeia não significa nada em concreto para Portugal" e "não é condição de melhoria para o país", até porque "o problema não é quem preside ao Eurogrupo, mas sim o Eurogrupo", disse a coordenadora do BE.

Na mesma linha, o Partido Ecologias "Os Verdes" (PEV) diz que uma eventual eleição do ministro das Finanças português para presidente do Eurogrupo não traz "um benefício para Portugal, nem para a União Europeia em geral".

Numa nota enviada à Lusa, o PEV afirma que "não se vislumbra que Mário Centeno seja precursor das mudanças necessárias que se impõem na União Europeia e na zona euro, designadamente com a defesa de eliminação de constrangimentos diversos, nomeadamente ao nível das políticas orçamentais".

Além de Mário Centeno, a corrida à presidência do Eurogrupo conta também com Pierre Gramegna (Luxemburgo), Peter Kazimir (Eslováquia) e Dana Reizniece-Ozola (Letónia) e a eleição terá lugar na próxima reunião do Eurogrupo, agendada para segunda-feira, dia 04 de dezembro.

Mário Centeno, 50 anos, natural de Olhão, Algarve, é ministro das Finanças desde 26 de novembro de 2015 e é apontado agora pela generalidade da imprensa internacional como o grande favorito ao cargo, depois de ter sido o “eleito” entre os potenciais candidatos dos Socialistas Europeus, a família política com mais possibilidades de garantir (neste caso, manter) o posto até agora ocupado pelo holandês Jeroen Dijsselbloem.