Em Espanha, elementos de vários partidos políticos, como vereadores e presidentes de Câmara, polícias, diretores de hospitais e até membros do clero foram acusados de terem recebido a primeira dose da vacina indevidamente.
O bispo de Cartagena, região de Múrcia (Espanha), José Manuel Lorca Planes, vacinou-se contra a covid-19 sem cumprir o protocolo estabelecido, alegando que presta auxílio a pessoas vulneráveis e, por isso, era prioritário na inoculação.
Em comunicado, o bispado dá conta de que Lorca Planes recebeu a primeira dose no mesmo centro onde todos os anos recebe a vacina contra a gripe sazonal, que pertencia à diocese de Cartagena. Contudo, o prelado não consta nos grupos prioritários definidos pelas autoridades sanitárias de Espanha, pelo que, apesar de alegar assiduidade regular a uma instituição de auxílio a pessoas vulneráveis.
De acordo com a diocese, o bispo preencheu o formulário de consentimento necessário para as autoridades sanitárias autorizarem a inoculação, poucos dias antes de ser vacinado, mas não é clarificado se o departamento autonómico deu o consentimento.
Mas Múrcia não foi notícia apenas com esta caso. No início de janeiro, Manuel Villegas, conselheiro de Saúde da comunidade, foi vacinado indevidamente. A sua mulher e quatro centenas de outros altos funcionários do governo local também receberam a vacina, mesmo não estando na lista de prioritários.
Outro caso notícia no país vizinho foi o do chefe das Forças Armadas espanholas, o general Miguel Ángel Villarroya, que apresentou a demissão depois de ter sido acusado de ter sido vacinado contra a covid-19 antes do estabelecido pelo protocolo.
Fontes do Estado-Maior confirmaram ao El País que Villarroya e outros generais da cadeia de comando das Forças Armadas receberam a primeira dose da vacina fabricada pela Pfizer-BioNtech. Ora, o plano de vacinação para a Defesa impunha como prioritário o grupo de profissionais de saúde ao serviço da instituição militar e depois os efetivos destacados para missões internacionais.
Na carta de demissão o general Villaroya justificou a decisão de vacinar-se, e a outros dirigentes militares, "com a única finalidade de preservar a integridade, continuidade e eficácia da cadeia de comando das Forças Armadas".
Nos EUA, o plano de vacinação, iniciado em meados de dezembro, está focado, para já, no pessoal médico da linha de frente, residentes de lares de terceira idade e aos seus cuidadores, maiores de 65 anos. No entanto, a campanha de vacinação gratuita na Florida está a atrair pessoas de várias regiões dos Estados Unidos, Canadá e América Latina.
A chegada dos que já são chamados “turistas de vacinas” está a provocar a indignação de muitos habitantes da Florida, que pedem às autoridades para colocarem um fim a esta situação. Richard Parsons, ex-presidente e CEO da empresa Time Warner, é um exemplo — e como se não bastasse o empresário relatou a sua viagem desde Nova Iorque até Miami em direto para a CNBC.
Esta semana também se soube que há uma investigação aberta a uma casa de repouso no condado de Palm Beach (sudeste da Florida), onde não apenas funcionários e residentes, mas também 80 doadores da instituição, de vários estados, tinham recebido a vacina contra a covid-19.
O senador republicano da Florida, Rick Scott, escreveu na sua conta da rede social Twitter que é “imoral” que uma casa de saúde administre vacinas para pessoas que não trabalham ou residem lá.
Questionado sobre se a Florida é atualmente uma Meca para o “turismo de vacinas”, o governador Ron DeSantis respondeu que é difícil evitar que as pessoas que não residem permanentemente no estado sejam vacinados, tendo em conta o elevado número de pessoas que visitam as suas cidades em turismo ou porque ali possuem casas de verão. Ainda assim, DeSantis disse que tem planos para “desencorajar as pessoas para virem à Florida apenas para tomar a vacina”.
Outra história que suscitou críticas nos Estados Unidos é a de Andrei Doroshin, 22 anos e CEO da Philly Fighting Covid (PFC), uma organização sem fins lucrativos e que ganhou nome por gerir vários pontos de centros de teste à covid, primeiro, e de vacinação, depois, na cidade de Filadélfia.
Numa entrevista ao programa "Today", da NBC, que Doroshin admitiu ter tomado a vacina e administrado aos amigos, argumentando que evitou, assim, que as doses fossem desperdiçadas.
"As doses estavam prestes a expirar", afirmou, acrescentando não ter conseguido encontrar ninguém que pudesse precisar da vacina antes de expirar. "Ligámos para todos que conhecíamos. Cada pessoa”, garantiu.
Mais a norte, um casal milionário do Canadá também fez correr bastante tinta. Rodney Baker (ex-presidente e CEO da Great Canadian Gaming Corporation) e Ekaterina Baker fretaram um avião e viajaram em segredo para uma comunidade remota no território de Yukon – Beaver Creek — onde se fizeram passar por funcionários de um motel local, com vista a receber a vacina destinada, então, apenas a residentes indígenas idosos e vulneráveis (as comunidades indígenas são um dos grupos prioritários para a vacinação da Covid-19 no Canadá).
O casal foi multado em 2.300 dólares canadianos (cerca de 1.477 euros) por violar as restrições do estado de emergência impostas em Yukon, ao não respeitaram os 14 dias de quarentena impostos aos viajantes. Também as regras do acesso à vacinação foram alteradas na região depois do caso: a partir de então, é necessário apresentar prova de residência para receber a vacina.
* Com Lusa
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