"Nunca votaria num partido que apoia o ‘Brexit’. Mas na minha área o voto útil é no partido em que costumo votar, por isso não perdi muito tempo a analisar o programa dos outros partidos que eu consideraria votar. A escolha tornou-se binária", afirmou à agência Lusa.

O lisboeta de 44 anos é um dos 4.592 portugueses que se naturalizaram britânicos desde o referendo de 23 de junho de 2016, quando 52% dos eleitores britânicos votaram a favor da saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

O número disparou nos últimos dois anos, subindo 352%, de 422 em 2015 para 1.906 em 2018.

Contrariado, Peres naturalizou-se em no início deste ano, inquieto com a incerteza criada pelo ‘Brexit' e para garantir plenos direitos a residir e trabalhar no Reino Unido, onde vive com a família, incluindo dois filhos de nacionalidade britânica.

Outra razão, ironizou, foi poder "votar contra os conservadores", o partido que domina o círculo eleitoral de Orpington há várias décadas e que durante nove anos foi representado na Câmara dos Comuns pelo irmão do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

Pró-europeu e favorável a um segundo referendo sobre o ‘Brexit', Jo Johnson demitiu-se em setembro de secretário de Estado para as Universidades e Ciência e anunciou que não se recandidataria, invocando incompatibilidade entre "lealdade à família e o interesse nacional".

O candidato do Partido Conservador em Orpington é agora o eurocético Gareth Bacon e, apesar de concorrerem dois partidos anti-Brexit, os Liberais Democratas e os Verdes, o principal adversário é o partido Trabalhista, representado por Simon Jeal.

No norte de Londres, Rita Carvalho, também de 44 anos, ainda está indecisa sobre qual o partido em que vai votar por sentir que, "durante os meses de negociações do acordo, a sensação que deu é que os partidos, o do atual governo e da oposição, não tiveram como principal prioridade o interesse do país, mas mais o interesse político".

Nascida em Lisboa, esta gestora de projeto residente no país desde 2006 adotou a nacionalidade britânica em 2015, o que lhe permitiu votar no referendo de 2016 e nas legislativas de 2017.

Nestas eleições, Rita Carvalho está disposta a "votar útil", embora veja com bons olhos a deputada trabalhista Helen Hayes, que tem defendido a permanência do Reino Unido na UE e destacou-se por ter desrespeitado a orientação de voto do líder, Jeremy Corbyn, e votado na Câmara dos Comuns contra a ativação do artigo 50.º, que formalizou o processo do ‘Brexit'.

Pelo contrário, o portuense Carlos de Freitas, de 38 anos, receia que "a incerteza e consternação associadas ao ‘Brexit' continuem durante mais cinco anos, teme as consequências nefastas que daí podem resultar para a sociedade e economia britânica" e confia em Boris Johnson para resolver a crise política.

Detentor de dupla nacionalidade e eleitor no Reino Unido há vários anos, Carlos de Freitas é um militante "tory" e foi candidato às eleições locais em Mile End, que pertence ao ciclo eleitoral parlamentar de Poplar and Limehouse, tradicionalmente trabalhista.

"Independentemente da posição que se tenha em relação ao ‘Brexit’, a realidade é que a situação atual de impasse devido ao Brexit e de falta de confiança no parlamento tem de ser resolvida nestas eleições. A única forma de o fazer é através de um governo Conservador apoiado com uma maioria no parlamento", afirmou à Lusa.

No lado oposto, o lusodescendente Diogo Costa considera que a solução não está no acordo negociado por Boris Johnson e tem-se empenhado na campanha do partido Trabalhista, o principal partido da oposição, ao qual pertence.

O ‘Labour’ defende uma renegociação dos termos de saída e um novo referendo, com a opção de o Reino Unido ficar na UE, favorecida pelo programador informático de 22 anos.

"Não apoio a liderança de Jeremy Corbyn, mas vou fazer campanha e votar nele", vincou.

(Por: Bruno Manteigas da agência Lusa)

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