“Quando fui designado para estas funções, de presidente da Aliança Global para as Vacinas, fi-lo sobretudo porque me foi dito que havia uma grande urgência, um grande dramatismo até na resposta à covid a nível mundial e dada a experiência que tenho de gerir organizações internacionais multiculturais”, pelo que se considerou que “eu poderia dar contributo e eu aceitei”, começou por dizer o também antigo primeiro-ministro português.
José Manuel Durão Barroso tinha sido nomeado presidente da GAVI em 29 de setembro de 2020.
“Confesso que naquela altura estava a pensar só nestes dois anos, mas agora pediram-me que continuasse, até porque” há a pandemia, “embora já não estejamos felizmente na zona mais (…) grave e perigosa”, prosseguiu.
Segundo disse, em 2022 “já houve mais casos de covid do que no ano de 2020 e 2001 juntos, só que não tem o efeito negativo que tinha porque, entretanto, há vacinas e já se geraram imunidades e, portanto, já não há, digamos, um grau tão grande de perigosidade como havia anteriormente”.
No entanto, “pediram que continuasse mais algum tempo, dois ou três anos e eu, pelo menos, para o ano que vem, 2023, continuarei porque ainda há uma série de dossiês importantes que tenho em mãos e, portanto, vou continuar ‘pro bono’ a responder a este desafio”, afirmou à Lusa, sublinhando que a missão da GAVI vai muito além da resposta à covid.
“A GAVI já passou agora os 1.000 milhões de vacinas dadas a crianças, sobretudo em países em vias de desenvolvimento, nomeadamente em África, vacinas ditas de imunização de rotina, que são, digamos, a rubéola ou sarampo”, apontou
Estas crianças, “sem a nossa ajuda”, muitas delas “provavelmente” morreriam porque muitos desses países não tem financiamentos necessários para as proteger e imunizar.
“A GAVI não é apenas covid, a GAVI tem uma experiência de mais de 20 anos, 22 anos, na luta pela imunização e a luta pela proteção das crianças, sobretudo dos países em vias de desenvolvimento”, apontou, recordando que o seu primeiro presidente, a quem teve “muita honra” de suceder, foi Nelson Mandela.
Portanto, “a missão da GAVI não se esgota na covid”, defendeu.
Além disso, “acho que é importante que haja alguns casos – não há muitos, infelizmente, hoje em dia -, em que, apesar de fricções e das tensões geopolíticas, os diferentes países do mundo cooperem”, sublinhou o antigo presidente da Comissão Europeia.
“Por exemplo, na GAVI temos americanos, temos a Europa, os maiores doadores, mas também temos a China” e, neste momento, “já distribuímos vacinas só para a covid em 146 países”, reforçou.
Esta aliança global é um caso de “multilateralismo que tem algum sucesso, o que abre alguma esperança num mundo que está cada vez mais dividido”, rematou Durão Barroso.
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