Esta é outra história do Natal, mas igualmente real. A fotógrafa portuguesa Inês Costa Monteiro vai lançar no dia 18 de dezembro, nas suas redes sociais e em várias paredes da cidade de Lisboa, numa exposição a céu aberto, o projeto "memories", uma história visual sobre o desconforto emocional por muitos vivido na época natalícia. Trata-se de um alerta para as questões da saúde mental, naquela que é tida como uma das épocas mais felizes do ano.

Numa série de 10 auto-retratos, a narrativa percorre imagéticas associadas aos principais momentos desta época, desde o jantar de 24, ao almoço de 25, sem esquecer a noite (para muitos solitária) do dia de Natal. Através da sua lente, Inês Costa Monteiro traz um outro olhar para as festividades, mostrando como estas podem também ser um trigger para a saúde mental. Dos mais novos aos mais velhos.

"Nem sempre há ceias felizes, rodeados por uma família sem toxicidades. Nem todos são aquilo que realmente querem ser. Nem todos têm uma mesa cheia de comida e dezenas de caixas de presentes e nem todos querem que seja Natal, porque com ele vêm as memórias", escreve Inês na introdução ao projeto.

A sua ideia passou por ilustrar os vários momentos que, associados a um período de final de ano, em que se coloca em perspetiva a passagem do tempo, mergulham muitos no desconforto de lidar com as suas memórias ou confrontar o seu presente. "À mesa senta-se sempre a comparação: com anos anteriores, com quem estava e já não está, ou com quem veio e, de repente, não é como devia", exemplifica a fotógrafa.

Inês explica que tentou representar momentos transversais à idade, género ou classe social, num foco que contém também a sua experiência pessoal. "Quando dei por mim, tinha um Natal visualmente descrito com a minha linguagem — irónica, minimalista e pop . (...) A única da lista que não tinha conseguido ilustrar visualmente na minha moodboard: "how do I REALLY feel?" [como eu realmente me sinto?]. E foi aí que surgiram as imagens-chave que são o fio condutor deste ensaio fotográfico".

Linhas de apoio emocional e prevenção de suicídio

Caso tenha pensamentos suicidas ou conheça alguém que revela sinais de alarme, fale com o médico assistente. Se sentir que os impulsos estão fora de controlo, ligue 112.

Outros contactos:

SOS Voz Amiga
(diariamente, das 15h30 às 00h30)
213 544 545
912 802 669
963 524 660
direcao@sosvozamiga.org

Conversa Amiga
(diariamente, das 15 às 22h)
808 237 327
210 027 159

SOS Estudante
(diariamente, das 20 às 01h)
239 484 020

Voz de Apoio
(diariamente, das 21h às 24h)
225 506 070

Telefone da Amizade
(diariamente, das 16h às 23h)
228 323 535

Telefone da Esperança
(diariamente, das 20h às 23h)
222 080 707

Departamento de Psiquiatria de Braga
253 676 055

Escutar- Voz de apoio
225 506 070

SOS Telefone Amigo
239 721 010

A Nossa Âncora
219 105 750
219 105 755

Brochura do INEM
Ler aqui.

"Está tudo bem? Sim. Agora. Amanhã talvez não", exemplifica, com base naquela que é também a sua própria experiência, agora que vive um momento de estabilidade no que diz respeito à sua saúde mental, conquistado também graças a terapia. "Este Natal, fala com alguém e procura ajuda. Diz a verdade. Mas não finjas que está tudo bem", urge.

"A partir do momento que percebemos o quão todos estamos interligados, podemos fazer socialmente a diferença. Mais do que nunca, a minha geração (27- 35) partilha as suas dificuldades e quer ir mais além na descoberta do porquê, percebendo que não é normal estar tantas vezes triste, ansioso ou preocupado. E isso é bom, é o caminho", diz Inês.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, uma em cada oito pessoas vive com uma perturbação mental. O tema tem sido cada vez mais discutido, sobretudo após o período mais intenso de combate à Covid-19, em que os períodos sucessivos de confinamento e as recomendações para evitar o contacto físico exponenciaram a sensação de isolamento. E tal foi particularmente duro nos mais jovens.

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico refere, num relatório em que compara a situação de saúde na Europa antes e depois da pandemia, que a percentagem de jovens entre 15 e 24 anos com sintomas de depressão aumentou em todos os países para os quais existem dados, superando muitas vezes a proporção de adultos que sofrem dos mesmos sintomas.

Por exemplo, segundo as estatísticas mais recentes disponíveis (de 2020 e 2021), na Noruega, os jovens com depressão aumentaram para 42,5 %, em comparação com 17,1 % para a população adulta; na Áustria, a percentagem chegou aos 41,3 % (23,7 % nos adultos) e na Suécia chegou aos 38,5 % (17,1 % nos adultos). Em Espanha, 35% dos jovens tinham sinais de depressão, contra 22,5 % dos adultos; no Reino Unido a percentagem era de 30% nos jovens e 15% nos adultos; em Itália os jovens com depressão eram 24,2% e os adultos 14,4%), enquanto em França 20,1% dos jovens e 16,5% dos adultos tinham sintomas de depressão.

Inês Costa Monteiro é fotógrafa e diretora criativa freelancer. Atualmente, trabalha no ramo da publicidade, realizando campanhas fotográficas inclusivas para várias marcas. Em 2021, em pleno confinamento, lançou o projeto que se tornou viral "Sair para Votar", onde fotografou 50 pessoas por videochamada. O objetivo era incentivar os eleitores a sair de casa para exercer o seu direito de voto.

A sua linguagem mistura ativismo com os princípios da publicidade, criando uma imagem apelativa, irónica e pop, de fácil reconhecimento a população mais jovem. Cheia de ideias e opiniões, diz ver na publicidade um caminho para quebrar estereótipos e preconceitos, e trilhar um caminho mais saudável para a existência em sociedade de cada uma das partes envolvidas.