A televisão foi o meio de comunicação mais utilizado, com 28,6% dos inquiridos a admitir ter assistido “diariamente ou quase todos os dias” a conteúdos políticos televisivos, indica o “Estudo Eleitoral Português”, promovido pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Uma percentagem inferior, 14,5%, disse “assistir diariamente ou quase todos os dias” a estes conteúdos nos jornais, incluindo edições `online´ e apenas 5,6% recorreu à rádio “quase todos os dias ou diariamente”.

“Surpreendentemente”, afirmam os investigadores, no comunicado divulgado à imprensa, apenas “4,6% dos indivíduos admitem assistir diariamente ou quase todos os dias a conteúdos políticos na Internet”.

Dos que recorreram à Internet para se informarem sobre a campanha eleitoral, a maioria, 67,1%, procurou páginas `online´ dos jornais, TV ou rádio e 28% recorreu à rede social Facebook.

Numa análise mais detalhada sobre o papel reduzido da Internet e das redes sociais durante a campanha, verificou-se que apesar de os partidos apostarem cada vez mais no `online´, apenas uma parte “muito residual dos indivíduos reporta ter visitado as páginas das forças partidárias concorrentes, menos de 5%.

E, quando questionados sobre possíveis medidas para conferir mais poder aos cidadãos para participarem nas tomadas de decisão política através das tecnologias, “quase metade admitiu que é indiferente”.

Quanto à possibilidade de darem opinião ou mesmo votar, através da Internet, sobre projetos ou propostas apresentados no parlamento , um terço considerou que são medidas positivas mas considerou que não são prioritárias.

Na globalidade, “o nível de exposição a notícias sobre política durante a campanha eleitoral de 2019 foi média baixa (47,1%)”, refere o estudo.

Numa análise aos resultados verificados desde 2002, “não há grandes diferenças: a televisão continua a ser o meio de comunicação por excelência usado para os indivíduos se informarem durante a campanha”, assinalam os autores.

O estudo, que foi hoje à tarde apresentado num seminário no Instituto de Ciências Sociais, baseia-se num inquérito que decorreu entre 12 de outubro e 19 de dezembro, coordenado por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais liderada pela investigadora Marina Costa Lobo.

Numa análise por características sociodemográficas, os inquiridos com maior nível de escolaridade tiveram níveis de exposição mais altos a conteúdos políticos.

Quanto à idade, não se registaram grandes diferenças mas ainda assim houve uma prevalência da faixa etária entre os 35 e os 44 anos entre os que se informaram sobre a campanha política, disse a investigadora Sofia Serra da Silva, que conduziu este estudo. Por sexo, verificou-se que foram os homens os que mais procuraram aquele tipo de informação.

Na apresentação, Sofia Serra da Silva, que conduziu este estudo, considerou “surpreendente e até desolador” a “falta de impacto da internet” como fonte de informação dos cidadãos em período eleitoral, numa altura em que é a taxa de utilização da internet “é muito alta”.

Uma hipótese meramente interpretativa, avançou, poderá ser o facto de que o consumo de informação pela televisão é “um consumo passivo, ou porque a televisão está ligada, ou porque é hora do telejornal” enquanto a consulta da internet supõe uma atitude ativa, de procura.

É possível que uma parte dos inquiridos tenha referido a televisão como meio predominante de informação sobre a campanha mas devido a “exposição acidental”.

Por seu lado, Marina Costa Lobo advertiu que apesar das respostas dos inquiridos — menos de 5% consultou a internet para se informar sobre política — a internet e em particular as redes sociais foram relevantes num primeiro momento, na construção da mensagem política que depois chega aos telejornais.

“A exposição à televisão é de um conteúdo que foi trabalhado nas redes sociais e nos jornais”, sublinhou a coordenadora do estudo eleitoral, assinalando ainda que não considera irrelevante o impacto que as campanhas feitas nas redes sociais tiveram em particular na votação de pequenos partidos que elegeram pela primeira vez, destacando o Livre e a Iniciativa Liberal.

O universo do estudo abrange cidadãos portugueses com idade igual ou superior a 18 anos, com capacidade eleitoral ativa e residentes em Portugal, selecionados com base na morada. No estudo, que visa traçar o retrato do eleitor português nas legislativas de 2019, foram inquiridas 1.500 pessoas sobre atitudes políticas, populismo, identificação partidária, perceções sobre o contexto económico e político e a Europa.

As eleições de 06 de outubro deram a vitória ao PS, que formou governo minoritário, com 36,3% dos votos e a eleição de 108 deputados. O PSD foi a segunda força política, obtendo 27,7% e 79 deputados.

O BE foi a terceira força mais votada, com 9,5% e elegeu 19 deputados, o PCP 6,3% e 12 deputados, o CDS-PP 4,% e cinco eleitos, e o PAN 3,3 e elegeu quatro parlamentares.

As legislativas de outubro ficaram marcadas pela entrada de três novas forças políticas no parlamento, que elegeram um deputado cada uma: o Livre, a Iniciativa Liberal e o Chega.